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E FEZ-SE A LUZ
Projeções indicam que haverá supeoferta em três anos, mas preços não devem cair para consumidor residencial
Energia poderá sobrar no Brasil em 2004
LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL
O sufoco da falta de energia elétrica neste ano deve se transformar em superoferta dentro de alguns anos. A Folha teve acesso a
projeções que indicam que o Brasil poderá ter sobra de 25% de
energia em 2004. Num cenário
mais pessimista, no qual algumas
termelétricas e hidrelétricas não
consigam ser concluídas, o excesso, ainda assim, seria de 20%.
O mercado já prevê que os preços da eletricidade vendida pelas
geradoras vão desabar. Alguns investidores começam, inclusive, a
desistir de projetos no setor.
A Petrobras, por exemplo, já decidiu baixar de 4.500 MW para
2.800 MW sua meta de geração de
energia com termelétricas.
O diretor de gás e energia da estatal, Antonio Luiz Menezes, afirma que a empresa decidiu não investir em térmicas nas quais tenha de garantir a compra da energia que não encontre interessados
no mercado. Ele afirma que a Petrobras continuará a investir em
algumas usinas para estimular o
consumo do gás proveniente da
Bolívia e da bacia de Campos (RJ).
A CSN (Companhia Siderúrgica
Nacional) é outra empresa que está desinvestindo em energia. Colocou à venda os 30% de participação que tem na usina hidrelétrica de Itá, na fronteira de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul.
"Queremos nos dedicar à produção de aço", justifica José Renato
Ponte, diretor da CSN Energia.
Fim da euforia
Um executivo da Eletrobrás,
empresa responsável pela administração de cerca de 80% dos 52
mil MW que o Brasil consome
atualmente nos horários de pico,
concorda que haverá em breve investidores decepcionados com o
baixo retorno financeiro de empreendimentos em energia. Segundo ele, a euforia dos empresários em ganhar dinheiro nesse ramo, provocado pelo racionamento, está acabando.
As usinas que mais sofrerão
com a situação serão as termelétricas. Com o excesso de energia à
disposição, elas terão de vender
para o mercado menos do que sua
capacidade. Isso porque as distribuidoras darão prioridade à eletricidade das hidrelétricas, cujos
preços do MW são cerca de 30%
mais baratos.
O próprio secretário-executivo
do Ministério de Minas e Energia,
Luiz Gonzaga Perazzo, confirma a
tendência de que sobrará energia
nos próximos anos. "Poderá haver superoferta caso todas as
obras planejadas sejam concluídas e chova bastante."
Energia barata
Estudos da Tradener, empresa
de comercialização de energia do
Paraná, mostram a tendência de
sobra de energia. Se todas as condições climáticas forem favoráveis, com a volta das chuvas, em
2004, por exemplo, o país terá
oferta de 60 mil MW, contra a demanda média de 45 mil MW.
Uma sobra de 25%. Um percentual muito elevado, pois a margem de segurança para a garantia
do fornecimento de energia é de
5%.
"Esses dados são uma projeção
do que deve ocorrer. Agora, não
acredito que haverá fuga de investidores por causa disso", avalia o
presidente da empresa, Walfredo
Avila. Os grandes beneficiados
pela sobra de energia elétrica serão as distribuidoras.
Os consumidores finais, como
residências, não se darão tão bem.
O governo planeja liberar aumento de 30% nas tarifas em 2002 a
fim de incentivar a permanência
de investidores no setor.
Até março do ano que vem, o
Brasil deve ter uma noção do
tombo que os preços do KW poderão sofrer. Isso porque distribuidoras, geradoras e mesmo indústrias comercializarão livremente a energia que começar a
sobrar, com intermediação do
MAE (Mercado Atacadista de
Energia Elétrica).
Colaboraram Pedro Soares, da Sucursal
do Rio, e Humberto Medina, da Sucursal de Brasília.
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