São Paulo, domingo, 09 de dezembro de 2001

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E FEZ-SE A LUZ

Projeções indicam que haverá supeoferta em três anos, mas preços não devem cair para consumidor residencial

Energia poderá sobrar no Brasil em 2004

LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL

O sufoco da falta de energia elétrica neste ano deve se transformar em superoferta dentro de alguns anos. A Folha teve acesso a projeções que indicam que o Brasil poderá ter sobra de 25% de energia em 2004. Num cenário mais pessimista, no qual algumas termelétricas e hidrelétricas não consigam ser concluídas, o excesso, ainda assim, seria de 20%.
O mercado já prevê que os preços da eletricidade vendida pelas geradoras vão desabar. Alguns investidores começam, inclusive, a desistir de projetos no setor.
A Petrobras, por exemplo, já decidiu baixar de 4.500 MW para 2.800 MW sua meta de geração de energia com termelétricas.
O diretor de gás e energia da estatal, Antonio Luiz Menezes, afirma que a empresa decidiu não investir em térmicas nas quais tenha de garantir a compra da energia que não encontre interessados no mercado. Ele afirma que a Petrobras continuará a investir em algumas usinas para estimular o consumo do gás proveniente da Bolívia e da bacia de Campos (RJ).
A CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) é outra empresa que está desinvestindo em energia. Colocou à venda os 30% de participação que tem na usina hidrelétrica de Itá, na fronteira de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul. "Queremos nos dedicar à produção de aço", justifica José Renato Ponte, diretor da CSN Energia.

Fim da euforia
Um executivo da Eletrobrás, empresa responsável pela administração de cerca de 80% dos 52 mil MW que o Brasil consome atualmente nos horários de pico, concorda que haverá em breve investidores decepcionados com o baixo retorno financeiro de empreendimentos em energia. Segundo ele, a euforia dos empresários em ganhar dinheiro nesse ramo, provocado pelo racionamento, está acabando.
As usinas que mais sofrerão com a situação serão as termelétricas. Com o excesso de energia à disposição, elas terão de vender para o mercado menos do que sua capacidade. Isso porque as distribuidoras darão prioridade à eletricidade das hidrelétricas, cujos preços do MW são cerca de 30% mais baratos.
O próprio secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Luiz Gonzaga Perazzo, confirma a tendência de que sobrará energia nos próximos anos. "Poderá haver superoferta caso todas as obras planejadas sejam concluídas e chova bastante."

Energia barata
Estudos da Tradener, empresa de comercialização de energia do Paraná, mostram a tendência de sobra de energia. Se todas as condições climáticas forem favoráveis, com a volta das chuvas, em 2004, por exemplo, o país terá oferta de 60 mil MW, contra a demanda média de 45 mil MW. Uma sobra de 25%. Um percentual muito elevado, pois a margem de segurança para a garantia do fornecimento de energia é de 5%.
"Esses dados são uma projeção do que deve ocorrer. Agora, não acredito que haverá fuga de investidores por causa disso", avalia o presidente da empresa, Walfredo Avila. Os grandes beneficiados pela sobra de energia elétrica serão as distribuidoras.
Os consumidores finais, como residências, não se darão tão bem. O governo planeja liberar aumento de 30% nas tarifas em 2002 a fim de incentivar a permanência de investidores no setor.
Até março do ano que vem, o Brasil deve ter uma noção do tombo que os preços do KW poderão sofrer. Isso porque distribuidoras, geradoras e mesmo indústrias comercializarão livremente a energia que começar a sobrar, com intermediação do MAE (Mercado Atacadista de Energia Elétrica).


Colaboraram Pedro Soares, da Sucursal do Rio, e Humberto Medina, da Sucursal de Brasília.



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