São Paulo, domingo, 09 de dezembro de 2001

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SALTO NO ESCURO

Principal problema para instalação de linhas de transmissão e importação de luz é a falta de dinheiro

32% dos projetos de energia têm atrasos

HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Há problemas em 25 dos 78 projetos de aumento de oferta de energia previstos para serem concluídos até o final de 2003. Os problemas mais graves estão nas áreas de transmissão e importação de energia. A previsão é que, da meta fixada pelo governo para este ano, 77% saiam do papel.
De acordo com a metodologia adotada pelo Executivo, dos 25 projetos com problema, oito estão com "faróis vermelhos", que indicam atrasos superiores a três meses ou comprometimento da meta anual de aumento de oferta.
Outros 17 projetos estão com "faróis amarelos", ou seja, atrasos inferiores a três meses que não comprometem a meta. O principal problema é a falta de dinheiro.

Sem dinheiro
A meta de importação, originalmente de 2.836 MW, foi revista para 1.498 MW. Na área de transmissão, uma das obras está parada - com "farol vermelho" - porque o grupo privado responsável pelo empreendimento não tem dinheiro, segundo o Ministério de Minas e Energia.
O grupo argentino Civilia não teria os R$ 550 milhões necessários para construir a linha de transmissão Norte-Sul 2, que deveria ficar pronta em outubro do ano que vem. O governo espera que os argentinos se associem ao grupo italiano Enel Power e consigam concluir a obra.

Sem importação
A falta de recursos financeiros também é apontada, em relatório do Ministério de Minas e Energia, como causa do atraso na importação de 92 MW da Bolívia, empreendimento a cargo da empresa Tradener. O problema está classificado como "farol amarelo".
Em julho, no anúncio do programa de aumento de oferta, o governo informou que dos R$ 31,5 bilhões necessários de investimentos até 2003, R$ 22,2 bilhões (70%) seriam de obras que dependiam de recursos financeiros da iniciativa privada.
Em novembro, esses números foram revistos. O total de investimentos subiu para R$ 41,5 bilhões e a parte da iniciativa privada subiu para R$ 29,9 bilhões, aumentando proporcionalmente - de 70% para 72%. A quantidade de energia a ser gerada até 2003 também aumentou, para 24.104 MW.

Sem sincronia
Na última reunião do "ministério do apagão", a área técnica do Ministério de Minas e Energia apresentou relatório sobre o acompanhamento das obras. Um dos problemas apontados foi a falta de sincronia entre o andamento das obras de geração e as de transmissão.
Enquanto algumas obras de geração são antecipadas, o mesmo não acontece com as linhas de transmissão. Isso significa que, mesmo que estivessem prontas, as usinas não poderiam gerar energia ou teriam de gerar abaixo de sua capacidade por falta de meios de transmissão.

Falta de estímulo
De acordo com avaliação da área técnica do ministério, há falta de estímulo (financeiro) para que os empreendedores responsáveis pela construção das linhas de transmissão antecipem suas obras.
Além da falta de recursos, diversos problemas são apontados como causa dos atrasos. Os mais recorrentes estão ligados a questões ambientais - obtenção de licenças de instalação e de operação. Mas há também questões políticas e regulatórias.


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