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Petróleo continuará a aumentar em 2008
Previsão de consenso do preço médio é de US$ 74,40 por barril no ano que vem, mas a expectativa é de instabilidade
Projeção é bem inferior ao recorde nominal recente de US$ 99,29 por barril, mas continua acima da média de 2007, de US$ 72,50
JAVIER BLAS
DO "FINANCIAL TIMES"
Prever os preços do petróleo,
hoje em dia, pode ter se transformado em um exercício de
grande simplicidade: basta tomar o último algarismo do ano
a fim de obter o primeiro algarismo do preço.
Em 2003, o preço médio do
petróleo foi de US$ 31,50 por
barril; em 2004, foi de US$
41,50; em 2005, chegou a US$
56,70. A tendência se manteve
em 2006, com US$ 66,20, e até
agora neste ano a média vem
sendo de US$ 72,50.
Assim, será que o preço médio do petróleo começará por
um 8, em 2008? Alguns bancos
parecem acreditar que sim, e o
Société Générale e o Deutsche
Bank estão prevendo preços
médios de US$ 80 por barril no
ano que vem.
Antes da reunião da Opep
(Organização dos Países Exportadores de Petróleo), na semana passada, em Abu Dhabi,
muitos analistas acreditavam
que a demanda relativamente
robusta, a oferta restrita e os investidores em busca de refúgio
contra a fraqueza do dólar poderiam resultar em prorrogação pelo sexto ano do boom de
preços iniciado em 2003.
A previsão de consenso é a de
que o petróleo terá preço médio de US$ 74,40 por barril em
2008, de acordo com a mais recente pesquisa mensal da Reuters. Essa projeção é bem inferior ao recorde nominal recente de US$ 99,29 por barril, mas
continua superior à média de
2007, devido aos baixos preços
que prevaleceram no começo
deste ano.
Isso posto, talvez seja necessário um evento excepcional,
como um furacão, um conflito
geopolítico ou um ataque terrorista, para que os preços voltem a se aproximar da barreira
dos US$ 100.
Existe um forte consenso de
que a recente queda no preço
de US$ 99,29 para pouco menos de US$ 90 por barril represente uma correção no mercado superaquecido, e não o início de uma mudança fundamental que poderia causar queda dos preços para menos de
US$ 50 por qualquer período
sustentado.
Além disso, os preços do petróleo para o futuro mais distante se mantiveram firmes durante a recente onda de vendas. Enquanto os preços no mercado "spot" caíram em US$ 11,59
de seu pico, fechando a segunda-feira cotados a US$ 87,70, os
contratos futuros para dezembro de 2015 praticamente não
se mexeram ante seus picos recentes e continuam cotados em
preço por barril US$ 5 mais alto
do que um mês atrás. Na sexta,
o barril de petróleo fechou em
US$ 88,28 em Nova York.
Preços futuros
Isso resultou em uma atenuação na curva dos preços futuros, com o contrato mais longo, para dezembro de 2016, cotado a US$ 86 por barril.
Jeffrey Currie, do Goldman
Sachs de Londres, diz que os
preços futuros mais distantes
não devem cair muito ante seus
patamares atuais.
"Isso sugere que o potencial
de queda para os preços futuros
mais próximos, a valores bem
abaixo da faixa dos US$ 80 a
US$ 85, é muito menos provável a despeito da debilidade que
está sendo antecipada quanto
aos fundamentos", afirma.
Currie prevê que os preços devam cair para perto de US$ 80
nos próximos três meses, mas
prevê recuperação para cerca
de US$ 92 pelo final de 2008.
Mesmo que a previsão de
consenso de um preço médio
de US$ 74,40 se prove correta
para 2008, a maioria dos analistas prevê instabilidade, em resposta a apostas dos fluxos financeiros quanto ao estado da
economia mundial -o petróleo
é visto como indicador representativo do nível de atividade
econômica- e quanto à cotação cambial do dólar, já que alguns investidores podem optar
pela commodity como refúgio
contra a queda no valor da
moeda norte-americana.
Michael Wittner, do Société
Générale de Londres, diz que
"os fluxos financeiros devem
continuar a sustentar os preços
no ano que vem". Em 2007, os
fluxos financeiros criaram oscilação tão forte que o preço
mais baixo do ano, a US$ 49,90
por barril, e o mais alto, a US$
92,29, estiveram separados por
quase US$ 50.
Demanda
Os fundamentos parecem
propícios à continuação do
boom em 2008. A AIE (Agência
Internacional de Energia), que
acompanha a situação energética mundial em nome dos países ocidentais, previu que o
crescimento na demanda deve
se acelerar em 1,9 milhão de
barris diários no ano que vem.
Essa alta será propelida pelo
robusto crescimento econômico e pelos subsídios aos combustíveis na China, na Índia e
no Oriente Médio, depois do
avanço de apenas um milhão de
barris diários registrado no
consumo deste ano.
No entanto, alguns analistas
acreditam que a demanda vá se
atenuar caso a economia norte-americana desacelere em ritmo
superior ao antecipado pelo
Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos). Isso
levaria os preços médios a cair
abaixo do consenso.
Mas Katherine Spector, do
JPMorgan de Nova York, afirma que, embora "uma desaceleração econômica mais forte
que a prevista continue a representar risco de queda [...], uma
escalada no conflito com o Irã
também continua a representar ameaça de alta". Ela prevê
preço médio de US$ 68,20 por
barril.
A Opep, cartel dos produtores petroleiros, também poderia conter os preços decretando
um aumento nas cotas de produção. Isso teria por objetivo
preservar o mercado do petróleo cru pelo encorajamento ao
forte crescimento econômico e
pelo desestímulo a políticas
que levariam países a abandonar o uso dos hidrocarbonetos
como fonte de energia.
Francisco Blanch, do Merrill
Lynch de Londres, que prevê
preço médio de US$ 73 por barril de petróleo em 2008, diz
que, caso a Opep venha a elevar
sua produção em 500 mil barris
diários, "os preços do petróleo
podem cair abaixo dos US$ 80,
nos próximos meses".
A Opep está sendo forçada a
considerar um aumento dessa
ordem porque o crescimento
da produção dos países não integrados à organização, da ordem de 1,1 milhão de barris ao
dia, não bastará para acompanhar a alta esperada na demanda mundial. Diante desse panorama de alta na demanda, a expectativa é a de que a oferta de
fora da Opep cresça em 1,1 milhão de barris ao dia, o que forçaria o cartel petroleiro a
preencher a lacuna por meio de
maior extração de petróleo e
gás natural. Mas o cartel, que
controla mais de 40% da produção mundial de petróleo,
provavelmente pecará pela
cautela, devido ao seu medo perene de um colapso de preços, o
que provavelmente gerará
aperto maior que o necessário
no mercado petroleiro, segundo os analistas.
Por outro lado, a Opep reconquistará algum controle sobre
o mercado graças à elevação de
sua capacidade excedente de
produção. Novos projetos em
Angola e, especialmente na
Arábia Saudita, elevarão a folga
na produção do cartel a 2,37
milhões de barris diários, a
mais alta desde 2002, e mais de
duas vezes superior à diferença
de 1,02 milhão de barris diários
entre a oferta e a procura registrada pelo cartel em 2005, a
mais baixa em 30 anos.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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