São Paulo, domingo, 09 de dezembro de 2007

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Petróleo continuará a aumentar em 2008

Previsão de consenso do preço médio é de US$ 74,40 por barril no ano que vem, mas a expectativa é de instabilidade

Projeção é bem inferior ao recorde nominal recente de US$ 99,29 por barril, mas continua acima da média de 2007, de US$ 72,50

JAVIER BLAS
DO "FINANCIAL TIMES"

Prever os preços do petróleo, hoje em dia, pode ter se transformado em um exercício de grande simplicidade: basta tomar o último algarismo do ano a fim de obter o primeiro algarismo do preço.
Em 2003, o preço médio do petróleo foi de US$ 31,50 por barril; em 2004, foi de US$ 41,50; em 2005, chegou a US$ 56,70. A tendência se manteve em 2006, com US$ 66,20, e até agora neste ano a média vem sendo de US$ 72,50.
Assim, será que o preço médio do petróleo começará por um 8, em 2008? Alguns bancos parecem acreditar que sim, e o Société Générale e o Deutsche Bank estão prevendo preços médios de US$ 80 por barril no ano que vem.
Antes da reunião da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), na semana passada, em Abu Dhabi, muitos analistas acreditavam que a demanda relativamente robusta, a oferta restrita e os investidores em busca de refúgio contra a fraqueza do dólar poderiam resultar em prorrogação pelo sexto ano do boom de preços iniciado em 2003.
A previsão de consenso é a de que o petróleo terá preço médio de US$ 74,40 por barril em 2008, de acordo com a mais recente pesquisa mensal da Reuters. Essa projeção é bem inferior ao recorde nominal recente de US$ 99,29 por barril, mas continua superior à média de 2007, devido aos baixos preços que prevaleceram no começo deste ano.
Isso posto, talvez seja necessário um evento excepcional, como um furacão, um conflito geopolítico ou um ataque terrorista, para que os preços voltem a se aproximar da barreira dos US$ 100.
Existe um forte consenso de que a recente queda no preço de US$ 99,29 para pouco menos de US$ 90 por barril represente uma correção no mercado superaquecido, e não o início de uma mudança fundamental que poderia causar queda dos preços para menos de US$ 50 por qualquer período sustentado.
Além disso, os preços do petróleo para o futuro mais distante se mantiveram firmes durante a recente onda de vendas. Enquanto os preços no mercado "spot" caíram em US$ 11,59 de seu pico, fechando a segunda-feira cotados a US$ 87,70, os contratos futuros para dezembro de 2015 praticamente não se mexeram ante seus picos recentes e continuam cotados em preço por barril US$ 5 mais alto do que um mês atrás. Na sexta, o barril de petróleo fechou em US$ 88,28 em Nova York.

Preços futuros
Isso resultou em uma atenuação na curva dos preços futuros, com o contrato mais longo, para dezembro de 2016, cotado a US$ 86 por barril.
Jeffrey Currie, do Goldman Sachs de Londres, diz que os preços futuros mais distantes não devem cair muito ante seus patamares atuais.
"Isso sugere que o potencial de queda para os preços futuros mais próximos, a valores bem abaixo da faixa dos US$ 80 a US$ 85, é muito menos provável a despeito da debilidade que está sendo antecipada quanto aos fundamentos", afirma. Currie prevê que os preços devam cair para perto de US$ 80 nos próximos três meses, mas prevê recuperação para cerca de US$ 92 pelo final de 2008.
Mesmo que a previsão de consenso de um preço médio de US$ 74,40 se prove correta para 2008, a maioria dos analistas prevê instabilidade, em resposta a apostas dos fluxos financeiros quanto ao estado da economia mundial -o petróleo é visto como indicador representativo do nível de atividade econômica- e quanto à cotação cambial do dólar, já que alguns investidores podem optar pela commodity como refúgio contra a queda no valor da moeda norte-americana.
Michael Wittner, do Société Générale de Londres, diz que "os fluxos financeiros devem continuar a sustentar os preços no ano que vem". Em 2007, os fluxos financeiros criaram oscilação tão forte que o preço mais baixo do ano, a US$ 49,90 por barril, e o mais alto, a US$ 92,29, estiveram separados por quase US$ 50.

Demanda
Os fundamentos parecem propícios à continuação do boom em 2008. A AIE (Agência Internacional de Energia), que acompanha a situação energética mundial em nome dos países ocidentais, previu que o crescimento na demanda deve se acelerar em 1,9 milhão de barris diários no ano que vem. Essa alta será propelida pelo robusto crescimento econômico e pelos subsídios aos combustíveis na China, na Índia e no Oriente Médio, depois do avanço de apenas um milhão de barris diários registrado no consumo deste ano.
No entanto, alguns analistas acreditam que a demanda vá se atenuar caso a economia norte-americana desacelere em ritmo superior ao antecipado pelo Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos). Isso levaria os preços médios a cair abaixo do consenso.
Mas Katherine Spector, do JPMorgan de Nova York, afirma que, embora "uma desaceleração econômica mais forte que a prevista continue a representar risco de queda [...], uma escalada no conflito com o Irã também continua a representar ameaça de alta". Ela prevê preço médio de US$ 68,20 por barril.
A Opep, cartel dos produtores petroleiros, também poderia conter os preços decretando um aumento nas cotas de produção. Isso teria por objetivo preservar o mercado do petróleo cru pelo encorajamento ao forte crescimento econômico e pelo desestímulo a políticas que levariam países a abandonar o uso dos hidrocarbonetos como fonte de energia.
Francisco Blanch, do Merrill Lynch de Londres, que prevê preço médio de US$ 73 por barril de petróleo em 2008, diz que, caso a Opep venha a elevar sua produção em 500 mil barris diários, "os preços do petróleo podem cair abaixo dos US$ 80, nos próximos meses".
A Opep está sendo forçada a considerar um aumento dessa ordem porque o crescimento da produção dos países não integrados à organização, da ordem de 1,1 milhão de barris ao dia, não bastará para acompanhar a alta esperada na demanda mundial. Diante desse panorama de alta na demanda, a expectativa é a de que a oferta de fora da Opep cresça em 1,1 milhão de barris ao dia, o que forçaria o cartel petroleiro a preencher a lacuna por meio de maior extração de petróleo e gás natural. Mas o cartel, que controla mais de 40% da produção mundial de petróleo, provavelmente pecará pela cautela, devido ao seu medo perene de um colapso de preços, o que provavelmente gerará aperto maior que o necessário no mercado petroleiro, segundo os analistas.
Por outro lado, a Opep reconquistará algum controle sobre o mercado graças à elevação de sua capacidade excedente de produção. Novos projetos em Angola e, especialmente na Arábia Saudita, elevarão a folga na produção do cartel a 2,37 milhões de barris diários, a mais alta desde 2002, e mais de duas vezes superior à diferença de 1,02 milhão de barris diários entre a oferta e a procura registrada pelo cartel em 2005, a mais baixa em 30 anos.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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