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ABASTECIMENTO
Governo se preocupa com "efeito dominó" da crise da Parmalat
Ministro teme falta de leite no país; varejo descarta risco
LUIS RENATO STRAUSS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O ministro Roberto Rodrigues
(Agricultura) afirmou estar preocupado com o eventual "efeito
dominó" que a crise da Parmalat
pode gerar no abastecimento de
leite do país. Segundo ele, alguns
setores da cadeia produtiva podem aproveitar atual situação para pagar menos pela mercadoria,
o que levaria à falência dos produtores de leite e, consequentemente, a um desabastecimento do
mercado nacional.
Os supermercados descartam
essa possibilidade de problemas
no abastecimento, afirmam que
as afirmações do governo podem
gerar "especulações desnecessárias no mercado" e que o setor
tem capacidade de atender a demanda interna, caso a crise da
Parmalat se acentue.
Até o momento, as empresas de
leite não enviaram tabelas de reajustes de preços ou revisaram, para baixo, os contratos de venda,
informam os supermercados.
As afirmações do ministro, ontem, aconteceram após encontro
dele na quinta-feira com o presidente da Parmalat, Ricardo Gonçalves.
Segundo Rodrigues afirmou
ontem, o setor atualmente está no
auge da safra, quando a maior
parte da produção é vendida. Caso o produtor não consiga uma
boa remuneração agora, em quatro meses, quando será o período
de entressafra, ele passará por um
momento difícil de novo.
O resultado disso: ou o fornecedor vai à falência ou abaterá o gado para vender a carne e conseguir bancar as despesas. Logo, poderia haver desabastecimento.
O próprio governo informa, no
entanto, que a Parmalat compra
só 1 bilhão de litros dos 22 bilhões
de litros de leite produzidos no
país. O temor, portanto, não teria
relação com um baque na capacidade produtiva da empresa, mas
com possíveis "especulações" que
possam fragilizar o mercado.
"É preciso garantir a sobrevivência do produtor, principalmente do pequeno produtor, na
atividade para que não haja crise
de desabastecimento lá na frente,
prejudicando o consumidor brasileiro", afirmou o ministro.
Preço baixo
Até o momento, o Carrefour e o
Pão de Açúcar informam que o
abastecimento está normal e já há
contratos fechados para entrega
nos próximos meses. Não houve
redução nas entregas assim como
não há reajustes de preços programados.
Segundo a CNA (Confederação
da Agricultura e Pecuária do Brasil), cerca 9% da produção (1,2 bilhão de litros de leite) não está
sendo absorvida pelo comércio, o
que pode reduzir os preços do
produto no mercado nacional.
O reflexo disso já está sendo
sentido pelas produtores. Para a
OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), cerca de 10%
dos fornecedores estão recebendo
entre R$ 0,30 e R$ 0,35 por litro de
leite -abaixo do preço mínimo
de mercado (R$ 0,38).
Rodrigues afirmou que solicitou ao BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico
e Social) a elaboração de projetos
que viabilizem a formação de
cooperativas capazes de agregar
valor ao produto, produzindo,
por exemplo, leite em pó.
Segundo a assessoria do Ministério da Agricultura, Rodrigues já
conversou com o presidente, Luiz
Inácio Lula da Silva, sobre o pedido de financiamento de R$ 500
milhões para o setor.
A liberação dos recurso faz parte do relatório da comissão criada
pelo ministério para propor sugestões para a crise da Parmalat.
O dinheiro será destinado à compra e à estocagem de leite pelas indústrias e cooperativas. O Planalto dará uma resposta sobre o assunto na quarta-feira.
Além disso, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento)
entrou em contato com o ministro José Graziano (Segurança Alimentar) para apresentar uma
proposta para a compra do leite
em pó das cooperativas pelo governo. Esse leite foi vendido pela
Parmalat aos cooperados.
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