São Paulo, sábado, 10 de janeiro de 2004

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ABASTECIMENTO

Governo se preocupa com "efeito dominó" da crise da Parmalat

Ministro teme falta de leite no país; varejo descarta risco

LUIS RENATO STRAUSS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro Roberto Rodrigues (Agricultura) afirmou estar preocupado com o eventual "efeito dominó" que a crise da Parmalat pode gerar no abastecimento de leite do país. Segundo ele, alguns setores da cadeia produtiva podem aproveitar atual situação para pagar menos pela mercadoria, o que levaria à falência dos produtores de leite e, consequentemente, a um desabastecimento do mercado nacional.
Os supermercados descartam essa possibilidade de problemas no abastecimento, afirmam que as afirmações do governo podem gerar "especulações desnecessárias no mercado" e que o setor tem capacidade de atender a demanda interna, caso a crise da Parmalat se acentue.
Até o momento, as empresas de leite não enviaram tabelas de reajustes de preços ou revisaram, para baixo, os contratos de venda, informam os supermercados.
As afirmações do ministro, ontem, aconteceram após encontro dele na quinta-feira com o presidente da Parmalat, Ricardo Gonçalves.
Segundo Rodrigues afirmou ontem, o setor atualmente está no auge da safra, quando a maior parte da produção é vendida. Caso o produtor não consiga uma boa remuneração agora, em quatro meses, quando será o período de entressafra, ele passará por um momento difícil de novo.
O resultado disso: ou o fornecedor vai à falência ou abaterá o gado para vender a carne e conseguir bancar as despesas. Logo, poderia haver desabastecimento.
O próprio governo informa, no entanto, que a Parmalat compra só 1 bilhão de litros dos 22 bilhões de litros de leite produzidos no país. O temor, portanto, não teria relação com um baque na capacidade produtiva da empresa, mas com possíveis "especulações" que possam fragilizar o mercado.
"É preciso garantir a sobrevivência do produtor, principalmente do pequeno produtor, na atividade para que não haja crise de desabastecimento lá na frente, prejudicando o consumidor brasileiro", afirmou o ministro.

Preço baixo
Até o momento, o Carrefour e o Pão de Açúcar informam que o abastecimento está normal e já há contratos fechados para entrega nos próximos meses. Não houve redução nas entregas assim como não há reajustes de preços programados.
Segundo a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), cerca 9% da produção (1,2 bilhão de litros de leite) não está sendo absorvida pelo comércio, o que pode reduzir os preços do produto no mercado nacional.
O reflexo disso já está sendo sentido pelas produtores. Para a OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), cerca de 10% dos fornecedores estão recebendo entre R$ 0,30 e R$ 0,35 por litro de leite -abaixo do preço mínimo de mercado (R$ 0,38).
Rodrigues afirmou que solicitou ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) a elaboração de projetos que viabilizem a formação de cooperativas capazes de agregar valor ao produto, produzindo, por exemplo, leite em pó.
Segundo a assessoria do Ministério da Agricultura, Rodrigues já conversou com o presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, sobre o pedido de financiamento de R$ 500 milhões para o setor.
A liberação dos recurso faz parte do relatório da comissão criada pelo ministério para propor sugestões para a crise da Parmalat. O dinheiro será destinado à compra e à estocagem de leite pelas indústrias e cooperativas. O Planalto dará uma resposta sobre o assunto na quarta-feira.
Além disso, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) entrou em contato com o ministro José Graziano (Segurança Alimentar) para apresentar uma proposta para a compra do leite em pó das cooperativas pelo governo. Esse leite foi vendido pela Parmalat aos cooperados.


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