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RECEITA ORTODOXA
Convidado pela equipe econômica, Rodrigo Rato vê presidente após quitação de débito em dezembro
Lula e diretor do FMI celebram fim da dívida
SHEILA D'AMORIM
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo vai marcar a chegada
do ano novo com festa para comemorar feitos velhos. Já reinstalado no Palácio do Planalto, depois de descansar quatro dias numa praia da Bahia, o primeiro
evento oficial do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva será receber o
diretor-gerente do FMI (Fundo
Monetário Internacional), Rodrigo Rato, que vem ao país especialmente para celebrar o fim da dívida do Brasil com o Fundo.
O débito já foi quitado no final
do ano passado. No início de dezembro, a equipe econômica havia anunciado que pagaria os US$
15,6 bilhões que restavam do último acordo com o FMI antes do
vencimento, previsto para 2007.
Com isso, o governo petista entrou para a história ao romper o
ciclo de sete anos em que o país
sobreviveu com o apoio do FMI.
De quebra, obteve um bom mote
para o ano eleitoral.
O presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, em viagem à
Suíça, antecipou seu retorno ao
Brasil. Rato inicia sua agenda com
uma reunião no BC. De lá segue
para a Fazenda, onde almoçará
com o ministro Antonio Palocci e
o secretário-executivo do ministério, Murilo Portugal. À tarde,
encontra-se com Lula e antes de ir
embora dá entrevista coletiva.
A vinda do espanhol Rato
-acertada pela área econômica
com esforço pessoal de Palocci e
de Murilo Portugal, ex-funcionário do FMI que tem boas relações
com a comunidade financeira internacional- vem a calhar tanto
para o Brasil quanto para o Fundo, segundo garantem fontes que
participaram do acerto da visita.
Durante a crise dos países emergentes na década de 1990 e início
dos anos 2000, houve uma grande
discussão entre os sócios majoritários do FMI. Argumentava-se
que os sucessivos socorros financeiros da instituição estavam
criando economias dependentes.
Segundo integrantes do governo que participaram de negociações pelo Brasil, falava-se de uma
"categoria de países viciados no
FMI", que nunca adquiriam condições de caminhar sozinhos. Por
isso, a visita de Rato hoje tem um
valor simbólico também na politicagem da instituição -que pagará as despesas de sua visita.
A idéia é mostrar com essa comemoração que alguns "viciados" se curam e que, mesmo após
tanto tempo contando com o aval
financeiro do FMI, há países que
conseguem caminhar com suas
próprias pernas. Numa suposta
demonstração de que o receituário não foi errado.
Para integrantes da equipe econômica atual, diferentemente do
passado, quando o governo também quitou com antecedência
parcelas do empréstimos com o
FMI e, na época, não havia planos
de fazer novos acordos, desta vez
as condições da economia brasileira estão mais favoráveis.
Em 2000, quando o Brasil pagou
antecipadamente cerca de US$ 10
bilhões ao FMI, avaliam, "não havia a tranqüilidade em relação à
economia que há hoje".
Para o governo, os indicadores
econômicos são melhores. O pagamento ao FMI foi feito com recursos depositados nas reservas
em moeda estrangeira do Brasil
aplicadas pelo governo brasileiro
em bancos instalados no exterior.
Quando um pagamento precisa
ser feito, um agendamento é feito
com os bancos responsáveis pelos
depósitos brasileiros, e, na data fixada, uma transferência é feita para o credor em questão -no caso,
o FMI. Atualmente, as reservas internacionais do Brasil estão próximas de US$ 55 bilhões.
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