São Paulo, terça-feira, 10 de janeiro de 2006

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RECEITA ORTODOXA

Convidado pela equipe econômica, Rodrigo Rato vê presidente após quitação de débito em dezembro

Lula e diretor do FMI celebram fim da dívida

SHEILA D'AMORIM
NEY HAYASHI DA CRUZ

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo vai marcar a chegada do ano novo com festa para comemorar feitos velhos. Já reinstalado no Palácio do Planalto, depois de descansar quatro dias numa praia da Bahia, o primeiro evento oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva será receber o diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Rodrigo Rato, que vem ao país especialmente para celebrar o fim da dívida do Brasil com o Fundo.
O débito já foi quitado no final do ano passado. No início de dezembro, a equipe econômica havia anunciado que pagaria os US$ 15,6 bilhões que restavam do último acordo com o FMI antes do vencimento, previsto para 2007.
Com isso, o governo petista entrou para a história ao romper o ciclo de sete anos em que o país sobreviveu com o apoio do FMI. De quebra, obteve um bom mote para o ano eleitoral.
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em viagem à Suíça, antecipou seu retorno ao Brasil. Rato inicia sua agenda com uma reunião no BC. De lá segue para a Fazenda, onde almoçará com o ministro Antonio Palocci e o secretário-executivo do ministério, Murilo Portugal. À tarde, encontra-se com Lula e antes de ir embora dá entrevista coletiva.
A vinda do espanhol Rato -acertada pela área econômica com esforço pessoal de Palocci e de Murilo Portugal, ex-funcionário do FMI que tem boas relações com a comunidade financeira internacional- vem a calhar tanto para o Brasil quanto para o Fundo, segundo garantem fontes que participaram do acerto da visita.
Durante a crise dos países emergentes na década de 1990 e início dos anos 2000, houve uma grande discussão entre os sócios majoritários do FMI. Argumentava-se que os sucessivos socorros financeiros da instituição estavam criando economias dependentes.
Segundo integrantes do governo que participaram de negociações pelo Brasil, falava-se de uma "categoria de países viciados no FMI", que nunca adquiriam condições de caminhar sozinhos. Por isso, a visita de Rato hoje tem um valor simbólico também na politicagem da instituição -que pagará as despesas de sua visita.
A idéia é mostrar com essa comemoração que alguns "viciados" se curam e que, mesmo após tanto tempo contando com o aval financeiro do FMI, há países que conseguem caminhar com suas próprias pernas. Numa suposta demonstração de que o receituário não foi errado.
Para integrantes da equipe econômica atual, diferentemente do passado, quando o governo também quitou com antecedência parcelas do empréstimos com o FMI e, na época, não havia planos de fazer novos acordos, desta vez as condições da economia brasileira estão mais favoráveis.
Em 2000, quando o Brasil pagou antecipadamente cerca de US$ 10 bilhões ao FMI, avaliam, "não havia a tranqüilidade em relação à economia que há hoje".
Para o governo, os indicadores econômicos são melhores. O pagamento ao FMI foi feito com recursos depositados nas reservas em moeda estrangeira do Brasil aplicadas pelo governo brasileiro em bancos instalados no exterior.
Quando um pagamento precisa ser feito, um agendamento é feito com os bancos responsáveis pelos depósitos brasileiros, e, na data fixada, uma transferência é feita para o credor em questão -no caso, o FMI. Atualmente, as reservas internacionais do Brasil estão próximas de US$ 55 bilhões.


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