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COMUNICAÇÃO & MERCADO
Mudando o nome
da empresa (3)
HELCIO EMERICH
No Brasil já existem escritórios e profissionais com excelente nível e plena capacidade
para o desenvolvimento de
nomes e marcas para empresas, produtos e serviços. Mas
essa disciplina da comunicação ainda engatinha em nosso
país.
Por inércia ou economia,
muitos anunciantes brasileiros continuam encarando a
tarefa como atribuição normal das agências de propaganda. Outros preferem as soluções domésticas, recorrendo
à "criatividade" dos seus aspones ou ouvindo palpites dos
gênios da família.
Poucas companhias admitem a hipótese de mudar ou
atualizar suas antigas denominações, algumas de extração meio artesanal (Pão de
Açúcar, Ponto Frio, Atacadão,
Garoto), de origem patronímica (J. Macedo, Paes Mendonça, Odebrecht), geográfica
(Pernambucanas, Itapemirim, Chapecó), emprestadas
da fauna e da flora (Arapuã,
Perdigão, Azaléia), quando
não derivadas de uma possível devoção religiosa (São Geraldo, Santa Elisa).
Até aí, nada de mais. Não se
pretende que nomenclaturas
tradicionais, consagradas no
mercado, mudem apenas por
mudar. Em todo o mundo, o
batismo de grandes conglomerados também seguiu processo
histórico semelhante.
Não raramente se recorria a
brasões familiares (Ford,
Opel, DuPont, Krupp, Benetton) ou se apropriava dos nomes dos países ou regiões onde
as empresas nasciam (Canadian Pacific, California Packaging, Ohio Oil). Na era da
informação e do marketing,
porém, esses velhos critérios
não fazem mais sentido.
O desenvolvimento ou a mudança da identidade de empresas ou produtos tornou-se
uma sofisticada especialização que incorpora técnicas de
pesquisa, design, computação
gráfica e arquitetura (quando
envolve também a programação visual).
A cada ano, nos Estados
Unidos, cerca de 1.500 empresas trocam ou reformam suas
nomenclaturas e 20 mil produtos novos são lançados no
mercado. A demanda por novos nomes virou uma busca
frenética.
Os 500 escritórios que se dedicam exclusivamente a essa
atividade cobram de US$
2.000 a US$ 10.000 por um
projeto simples, que consiste
em fornecer ao anunciante
apenas uma relação de nomes, sem outros desdobramentos, como a criação de logotipos, estudos para papelaria, identificação visual etc.
Mas o custo pode ir às nuvens em projetos especiais. A
Toyota norte-americana pagou US$ 10 milhões pelo nome
do seu automóvel Lexus, selecionado entre uma lista inicial de 600 sugestões desenvolvidas pelo escritório Lippincott & Margulies.
A Radio Corporation of
America, antes conhecida como RCA Victor, viveu um
"case" exemplar de mudança de identidade. O velho e
restritivo nome da corporação
nada mais tinha a ver com a
sua nova realidade. "Radio"
não era mais seu negócio (ela
já estava nos programas espaciais da Nasa) e nem queria
ser apenas "of America"
(tornara-se uma empresa
mundial).
A solução foi eliminar as palavras obsoletas e unificar tudo sob a sigla "RCA". Só o
projeto, da mesma Lippincott
& Margulies, custou US$ 20
milhões e levou cinco anos para ser implantado porque implicava reformular desde o
cartão de visitas do presidente
até a decoração dos escritórios, fachadas, veículos e a comunicação da companhia em
todo o mundo.
Concluiremos esta série na
próxima semana.
Helcio Emerich é jornalista, publicitário e
vice-presidente da agência Almap/BBDO.
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