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BANESPA
Dinheiro foi para 22 deputados que assinaram emenda dificultando a venda de bancos a estrangeiros
Bancos doaram R$ 1 mi a nacionalistas
FERNANDO RODRIGUES
LÚCIO VAZ
da Sucursal de Brasília
Instituições financeiras doaram
R$ 1,062 milhão para as campanhas de 22 deputados signatários
da proposta de emenda constitucional que dificulta a entrada de
capital estrangeiro no setor bancário.
A proposta de emenda nº 200,
deste ano, foi apresentada pelo
deputado Gerson Peres (PPB-PA). A coleta de assinaturas para
início da tramitação foi comandada por Peres e também pelos deputados Delfim Netto (PPB-SP),
Roberto Brant (PFL-MG) e Aloizio Mercadante (PT-SP).
Embora não haja tempo hábil, a
idéia dos deputados é impedir a
presença do capital estrangeiro
no leilão de privatização do Banespa. O governo federal é favor
da entrada dos estrangeiros.
Há na Câmara um grupo de 57
deputados que receberam doações de instituições financeiras na
eleição de 98. Esse levantamento é
do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com base em cerca de 80%
das contas de campanha dos deputados eleitos. Ainda precisam
ser processados o restante dos dados enviados pelas Justiças eleitorais dos Estados.
Se for aprovada, a emenda
constitucional transfere do presidente da República para o Congresso o direito de admitir a instalação de bancos internacionais no
país por meio da compra de bancos nacionais.
É curioso que entre os doadores
de campanha dos deputados esteja também um banco estrangeiro,
o ABN Amro (holandês).
O campeão das doações foi o
deputado Basílio Vilani (PSDB-PR), que recebeu R$ 140 mil de
doações de instituições financeiras. Em segundo lugar ficou Delfim Netto, com R$ 125 mil. O terceiro foi Germano Rigotto
(PMDB-RS), com R$ 100 mil.
Há dois deputados do PT na lista: Milton Temer (RJ), que recebeu R$ 25 mil da corretora Generali, e Valdeci Oliveira (RS), que
ganhou apenas R$ 80 da corretora
Medianeira.
Entre os bancos, o Itaú é o
maior doador para deputados
que assinaram a proposta de
emenda constitucional contra o
capital estrangeiro: deu R$ 320
mil para 6 dos 22 deputados que
aparecem na lista publicada pela
Folha (ver quadro à esquerda).
Todas essas doações são legais.Estão de acordo com a legislação
eleitoral e são declaradas pelos
parlamentares nas suas prestações de contas à Justiça eleitoral
de cada Estado.
Outro lado
A Folha procurou ontem todos
os 22 deputados que aparecem
como recebedores de doações de
instituições financeiras. Desses,
14 foram encontrados.
Todos os 14 deputados negaram
ter sido influenciados por bancos
nacionais para assinar a proposta
de emenda constitucional. Dizem, também, não se sentirem
constrangidos, porque as doações
foram legais.
Roberto Brant disse que seus
doadores (bancos Rural e Cidade)
"são dois banquinhos que não
têm como comprar o Banespa".
Os petistas Milton Temer e Valdeci Oliveira disseram ter assinado a proposta por serem contra a
privatização do Banespa.
Ricardo Fiúza (PFL-PE) diz ter
assinado apenas por ser essa a sua
prática. "Acho que todos têm o
direito de apresentar uma proposta", afirma. Ele se declara contra o projeto. E diz não se lembrar
da doação de R$ 30 mil do Unibanco que consta nos registros do
TSE: "Tenho 99,99% de certeza
que podem ter errado nesse registro".
Nelson Marquezelli (PTB-SP)
recebeu R$ 2.500 da Lastro, uma
empresa de factoring (que desconta cheques de comerciantes).
"Eu nem me lembro. Assinei porque acho que a desnacionalização
está demais e porque o Delfim me
pediu."
Rita Camata (PMDB-ES) explica que o banco Santos Neves, que
lhe doou R$ 20 mil, "é de uma família de amigos". Afirma ter assinado a proposta para que todos
os processos de privatização passem antes pelo Congresso -embora o projeto não seja para esse
fim.
Júlio Redecker (PPB-RS) disse
que não se sente constrangido. "A
doação é bem-vinda e é declarada."
Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR)
afirmou que "a doação é pública e
legal". Disse não ter compromisso com o mérito da emenda: "Sou
o defensor número um da abertura ao capital estrangeiro, sem restrições".
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