São Paulo, quinta-feira, 10 de fevereiro de 2000


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BANESPA
Dinheiro foi para 22 deputados que assinaram emenda dificultando a venda de bancos a estrangeiros
Bancos doaram R$ 1 mi a nacionalistas

FERNANDO RODRIGUES
LÚCIO VAZ
da Sucursal de Brasília

Instituições financeiras doaram R$ 1,062 milhão para as campanhas de 22 deputados signatários da proposta de emenda constitucional que dificulta a entrada de capital estrangeiro no setor bancário.
A proposta de emenda nº 200, deste ano, foi apresentada pelo deputado Gerson Peres (PPB-PA). A coleta de assinaturas para início da tramitação foi comandada por Peres e também pelos deputados Delfim Netto (PPB-SP), Roberto Brant (PFL-MG) e Aloizio Mercadante (PT-SP).
Embora não haja tempo hábil, a idéia dos deputados é impedir a presença do capital estrangeiro no leilão de privatização do Banespa. O governo federal é favor da entrada dos estrangeiros.
Há na Câmara um grupo de 57 deputados que receberam doações de instituições financeiras na eleição de 98. Esse levantamento é do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com base em cerca de 80% das contas de campanha dos deputados eleitos. Ainda precisam ser processados o restante dos dados enviados pelas Justiças eleitorais dos Estados.
Se for aprovada, a emenda constitucional transfere do presidente da República para o Congresso o direito de admitir a instalação de bancos internacionais no país por meio da compra de bancos nacionais.
É curioso que entre os doadores de campanha dos deputados esteja também um banco estrangeiro, o ABN Amro (holandês).
O campeão das doações foi o deputado Basílio Vilani (PSDB-PR), que recebeu R$ 140 mil de doações de instituições financeiras. Em segundo lugar ficou Delfim Netto, com R$ 125 mil. O terceiro foi Germano Rigotto (PMDB-RS), com R$ 100 mil.
Há dois deputados do PT na lista: Milton Temer (RJ), que recebeu R$ 25 mil da corretora Generali, e Valdeci Oliveira (RS), que ganhou apenas R$ 80 da corretora Medianeira.
Entre os bancos, o Itaú é o maior doador para deputados que assinaram a proposta de emenda constitucional contra o capital estrangeiro: deu R$ 320 mil para 6 dos 22 deputados que aparecem na lista publicada pela Folha (ver quadro à esquerda).
Todas essas doações são legais.Estão de acordo com a legislação eleitoral e são declaradas pelos parlamentares nas suas prestações de contas à Justiça eleitoral de cada Estado.

Outro lado
A Folha procurou ontem todos os 22 deputados que aparecem como recebedores de doações de instituições financeiras. Desses, 14 foram encontrados.
Todos os 14 deputados negaram ter sido influenciados por bancos nacionais para assinar a proposta de emenda constitucional. Dizem, também, não se sentirem constrangidos, porque as doações foram legais.
Roberto Brant disse que seus doadores (bancos Rural e Cidade) "são dois banquinhos que não têm como comprar o Banespa".
Os petistas Milton Temer e Valdeci Oliveira disseram ter assinado a proposta por serem contra a privatização do Banespa.
Ricardo Fiúza (PFL-PE) diz ter assinado apenas por ser essa a sua prática. "Acho que todos têm o direito de apresentar uma proposta", afirma. Ele se declara contra o projeto. E diz não se lembrar da doação de R$ 30 mil do Unibanco que consta nos registros do TSE: "Tenho 99,99% de certeza que podem ter errado nesse registro".
Nelson Marquezelli (PTB-SP) recebeu R$ 2.500 da Lastro, uma empresa de factoring (que desconta cheques de comerciantes). "Eu nem me lembro. Assinei porque acho que a desnacionalização está demais e porque o Delfim me pediu."
Rita Camata (PMDB-ES) explica que o banco Santos Neves, que lhe doou R$ 20 mil, "é de uma família de amigos". Afirma ter assinado a proposta para que todos os processos de privatização passem antes pelo Congresso -embora o projeto não seja para esse fim.
Júlio Redecker (PPB-RS) disse que não se sente constrangido. "A doação é bem-vinda e é declarada."
Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) afirmou que "a doação é pública e legal". Disse não ter compromisso com o mérito da emenda: "Sou o defensor número um da abertura ao capital estrangeiro, sem restrições".


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