São Paulo, terça-feira, 10 de fevereiro de 2004

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TRABALHO

Ministro diz que país deve crescer até 4%, mas sem gerar os empregos necessários; saída é financiar grandes empregadores

BNDES deve priorizar setor que crie vagas

Alexandre Meneghini/Associated Press
Pessoas procuram vaga em agência de trabalho no centro de São Paulo; em 2003, a taxa média de desemprego ficou em 12,3%


FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência) disse ontem a deputados federais do PT que o PIB (Produto Interno Bruto) do país crescerá de 3,5% a 4% neste ano, mas que isso não será suficiente para gerar os empregos necessários. Ele também descartou a possibilidade de mudança de rumo na política econômica.
Uma das medidas citadas pelo ministro para superar o desemprego, de acordo com deputados que participaram da reunião, realizada a portas fechadas em um hotel de Brasília, diz respeito aos financiamentos concedidos pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que passará a levar esse critério em consideração. O banco terá neste ano R$ 48 bilhões para investimentos, contra R$ 35 bilhões em 2003.
"A retomada do crescimento econômico sempre gera empregos, mas não todos os empregos necessários. Então, o governo quer combinar a retomada do crescimento com políticas ativas de geração de emprego", disse ele após a reunião.
Sobre o BNDES, Dulci afirmou que "é um banco que vai emprestar dinheiro para atividades que sejam viáveis economicamente, mas levando em conta também a dimensão do emprego". Segundo ele, os investimentos neste ano vão priorizar as áreas de saneamento básico, habitação popular e construção civil, setores que mais absorvem mão-de-obra.
Durante o seminário da bancada do PT na Câmara, Dulci descartou a possibilidade de mudança de rumo na política econômica, ao alegar, segundo presentes, que isso não faria sentido após o ajuste fiscal feito no último ano.
"Vamos ter crescimento com estabilidade. Se a estabilidade não fosse importante, não era justificável o esforço feito pelo governo e pela sociedade no ano passado para recuperá-la", disse ele.

Repetição
Dulci foi convidado para o evento para falar das ações governamentais e das prioridades do governo Lula em relação ao Congresso neste ano, mas não agradou à bancada como um todo. Muitos deputados consideraram a exposição do ministro uma repetição do que já tinham ouvido em reuniões no ano passado.
"Só houve declaração de intenções. Há que crescer e gerar emprego, mas como? Quais são os instrumentos? Vai mandar projeto de lei para o Congresso?", questionava o deputado Walter Pinheiro (PT-BA) após a reunião. Dos 91 deputados petistas, 42 compareceram ao evento.
Outro ponto abordado pelo ministro foi o debate, que considerou superado, entre desenvolvimentistas, centrados no crescimento econômico, e monetaristas, corrente que prioriza o controle inflacionário.
"Na década de 80 e em parte da de 90 havia a impressão de que o país só tinha duas alternativas: ou crescia sem estabilidade, com inflação, o que não se sustenta, é apenas uma bolha de crescimento, ou estabilidade sem crescimento, que também tivemos ao longo de muitos anos. Queremos superar isso, essa falsa dicotomia. O país precisa crescer com estabilidade", afirmou.
Aos deputados, muitos deles críticos da política econômica em vigor, Dulci disse que a proposta eleitoral do PT não era a de ruptura, e sim reformista, mas que nem essa teria sido realizada ainda.
"A Carta ao Povo Brasileiro já dizia que tinha que primeiro garantir a estabilidade antes de implementar o programa [de governo]", afirmou.


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