|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TRABALHO
Em 72% dos 640 acordos salariais negociados em 2005, trabalhadores conseguiram aumento real, segundo Dieese
Reajustes salariais são os melhores em 10 anos
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os trabalhadores tiveram no
ano passado as melhores negociações salariais dos últimos dez
anos e conquistaram aumento
real acima da inflação em 72%
dos acordos realizados em 2005.
No setor industrial, o desempenho foi ainda melhor -oito em
cada dez negociações concederam ganhos reais ao trabalhador.
A pressão menor da inflação
nos salários, o crescimento da
economia pelo segundo ano consecutivo e a criação de postos de
trabalho contribuíram para esses
resultados, segundo informam
economistas, sindicalistas e especialistas em mercado de trabalho.
As informações constam de levantamento nacional do Dieese
(Departamento Intersindical de
Estatística e Estaduais Sócio-Econômicos), divulgado ontem, a
partir de 640 acordos de categorias profissionais negociados entre janeiro e dezembro em 18 Estados do país.
Em 88% dessas negociações
(563 acordos), os trabalhadores
conseguiram superar ou zerar as
perdas acumuladas pela inflação
medida pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor)
nos 12 meses anteriores a cada data-base. Em 2004, esse percentual
havia sido de 81% -sendo que
em 55% das negociações houve
ganho real acima do INPC. O índice, calculado pelo IBGE, é o
mais usado nas negociações e serve para corrigir o salário mínimo
e benefícios previdenciários. Ele
fechou em dezembro em 5,53%.
"É o melhor resultado para as
negociações salariais já obtidos
desde que a pesquisa foi iniciada
em 1996", diz Clemente Ganz Lucio, diretor técnico do Dieese. "A
inflação em baixa e a redução dos
juros, aliados ao crescimento do
PIB, quase que de forma contínua
durante nove trimestres, o que
não ocorria no país havia 15 anos,
tiveram impacto significativo nas
negociações", afirma.
Dos 640 acordos analisados,
72% foram superiores à inflação
-sendo que a maior parte dos
ganhos reais foram até 2% acima
do INPC. Entre os acordos que se
enquadram nessa faixa de aumento real estão os firmados por
metalúrgicos, químicos e operários da construção civil paulista.
Os reajustes empataram com a inflação em 16,3% das negociações.
"O aumento do nível de ocupação, que cresceu 3,3% no ano passado, boa parte com carteira assinada, contribuiu para elevar o poder de negociação dos sindicatos", diz o economista Fábio Silveira, da RC Consultores. Só na
Grande São Paulo foram criados
no ano passado 250 mil postos de
trabalho com carteira assinada,
segundo o Dieese.
"A manutenção do emprego
saiu da pauta dos sindicatos e deu
lugar à busca por aumento real",
concorda Eleno José Bezerra, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo (Força Sindical). Os metalúrgicos conseguiram 8,3% de reposição salarial no ano passado, sendo 3% de aumento real.
O recuo do desemprego estimulou o trabalhador a participar das
campanhas salariais com mais intensidade, diz Sérgio Luiz Leite,
secretário-geral da Fequimfar (federação dos químicos paulistas).
Na análise dos técnicos do Dieese, o desempenho favorável das
exportações também contribuiu
para os resultados positivos das
negociações em 2005. "Os metalúrgicos, principalmente das
montadoras, se beneficiaram do
desempenho das exportações,
ainda que tenham crescido em
ritmo menor do que o de 2004. O
setor calçadista também", diz José
Silvestre de Oliveira, supervisor
do Dieese em São Paulo.
Outro fator que influenciou as
negociações salariais foi o aumento real concedido ao salário mínimo no ano passado (8,23%), segundo José Dari Krein, professor
do Cesit (Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho) da Unicamp. "As categorias
com mais dificuldade de organização sindical buscam estender o
ganho do salário mínimo não só
aos pisos profissionais, mas para
outras faixas de salário."
Por atividade econômica, os aumentos reais foram mais freqüentes na indústria, setor em que
83,5% dos acordos feitos foram
acima do INPC acumulado. No
comércio, esse percentual atingiu
70,3% e nos serviços, 57,8%.
"É mais fácil negociar índices de
reposição com a inflação em patamares em torno de 5%, caso do
ano passado", diz Ricardo Patah,
presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo -categoria que obteve, no ano passado,
ganho real de 1,2% no reajuste de
5,5% negociado ante uma inflação de 5,01% pelo INPC (acumulado 12 meses antes da data-base
dos comerciários, em setembro).
O pagamento dos reajustes
-ao contrário de anos anteriores
em que a tendência era de parcelamento em até três vezes -foi
pago em uma única vez em 95,5%
dos acordos. Há três anos, pelo
menos um terço dos acordos foram pagos em parcelas.
A incidência de abonos negociados para compensar as perdas
salariais recuou no ano passado.
Em 2005, 11% dos acordos previam pagamento de abonos
-percentual que chegou a 16%
nos dois anos anteriores.
Sem ganhos
Os trabalhadores não conseguiram repor as perdas da inflação
em 12% dos acordos firmados no
ano passado. Em 2003, considerado o pior ano para as negociações
salariais, esse percentual atingiu
58,4%. "A inflação nesse ano chegou a 20%, o que dificultou as negociações", afirma o supervisor
do Dieese em São Paulo.
Para o presidente da CUT, João
Felício, "não é prudente gastar
tempo demais comemorando,
pois há muito por fazer". "O desafio é realizar uma campanha unificada que defenda direitos, não
só econômicos, com acordos salariais de maior duração", afirma.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Comissão aprova o fim do fator previdenciário Índice
|