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Fundos podem contestar avanço de Dantas na Vale
Tribunal arbitral permite compra de ações da mineradora a preço abaixo do mercado
Perda contábil com operação para fundos e Bradespar
chega a R$ 2 bilhões; para
especialistas, mudar decisão
na Justiça comum é difícil
SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO
MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Bradespar, controlada pelo
Bradesco, e fundos de pensão
liderados pela Previ estudam
pedir à Justiça suspensão de
decisão de tribunal arbitral que
deu ao Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, a possibilidade de aumentar sua fatia
no controle da Vale comprando
ações a preço abaixo da atual
cotação de mercado.
Conforme noticiado pela Folha ontem, o prejuízo contábil
conjunto, com a operação, para
a Bradespar e os fundos -em
outras palavras, para acionistas
da Bradespar e beneficiários
dos fundos- chega a quase R$
2 bilhões, se considerado o valor de mercado da Vale.
Isso porque, caso a decisão
arbitral seja cumprida, Bradespar e fundos teriam de vender
ao grupo de Dantas um pacote
de 37 milhões de ações da Valepar, empresa controladora da
Vale, por R$ 100 milhões,
acrescidos de juros e correção
monetária.
Trata-se de mais um episódio
de uma disputa iniciada em
2007, pelo grupo de Dantas,
por entender que tinha direito
a comprar ações da Valepar em
poder dos outros sócios. Esse
direito teria sido adquirido na
ocasião de um aumento de capital na Valepar, em 2002.
A sentença arbitral foi proferida no fim do ano passado. Em
21 de dezembro, o grupo Opportunity enviou comunicado
(fato relevante) à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) no
qual informou que o tribunal
"reconhece o direito" e "é competente para suprir a vontade
das partes e determinar a
transferência das ações".
No comunicado, o Opportunity reforça ainda que a arbitragem também tem poder "para
resolver sobre indenização correspondente às perdas e aos danos decorrentes do não exercício da opção de compra". Diz
também que o preço a ser pago
pelas ações e cobrado pelo "ressarcimento de danos" será decidido posteriormente.
O deslocamento da disputa
para o tribunal arbitral ocorreu
em 2009. Ironicamente, a mudança era defendida pela Bradespar e pelos fundos, porque
acordo entre acionistas da Valepar, assinado na época da privatização da Vale, em 1997, determinava que questões que
não pudessem ser resolvidas
amigavelmente fossem levadas
a arbitragem.
A arbitragem é uma instância
alternativa à Justiça e pode ser
acionada desde que as partes
em disputa assim concordem.
A Valepar detém 52,3% do
controle da Vale e 32,3% de seu
capital (hoje, de R$ 258 bilhões,
em valor de mercado). São acionistas da Valepar os fundos de
pensão, com 58% (Previ à frente, e mais Funcef, Petros e Funcesp), Bradespar, com 17,4%, o
grupo japonês Mitsui, com
15%, e o BNDES, com 9,5%. A
Elétron, empresa do Opportunity, detém 0,02%.
Na ação, o Opportunity reclama ter direito de elevar seu
capital na Valepar para 2%.
A Folha apurou que a decisão arbitral contrariou a Bradespar e os fundos, os maiores
acionistas na Vale. Reverter a
decisão arbitral na Justiça comum é visto como possível,
mas difícil, dizem especialistas.
Procurados, os fundos de
pensão Previ e Funcef, a Bradespar, o banco Opportunity e
respectivos advogados não responderam ou não quiseram comentar, já que o processo em
arbitragem exige sigilo das partes envolvidas. Até o fechamento da edição, a CVM também não havia comentado se
pediu esclarecimentos aos controladores da Vale.
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