São Paulo, sábado, 10 de abril de 2004

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LUÍS NASSIF

Caminhos para o software livre

Tempos atrás descobri um software livre de trabalho colaborativo, com boas funcionalidades. Os autores -norte-americanos- permitem que qualquer desenvolvedor baixe o software, pronto para funcionar, com o compromisso de divulgá-lo e de entregar à comunidade as implementações efetuadas.
A comunidade em questão é boa, pessoal de primeira, talentosos, porém poetas e poucos. Tanto que a empresa desses técnicos fechou e foi absorvida por uma empresa maior. Acertei com esta empresa um acordo de permuta para desenvolvimento de um portal. Foi baixado o software, e o site colocado no ar com as funcionalidades nativas do sistema. Poucas semanas depois, os desenvolvedores do sistema desistiriam ou se desentenderam com o empresário.
Com o desenvolvimento parado, pedi que a empresa me passasse o controle do site, para que pudesse ir atrás de outro desenvolvedor. O empresário se recusou. Se quisesse abrir mão da parceria, teria de pagar pelo desenvolvimento. Me mandou um orçamento com valores inflacionados e o descritivo do trabalho efetuado: 90% correspondentes a funcionalidades nativas da versão que baixara da Internet. Por sorte um dos membros da comunidade indicou um desenvolvedor de fora de São Paulo, que rapidamente desenvolveu um novo site.
Essa experiência trouxe lições importantes na hora de discutir o futuro do software livre. Qualquer política de desenvolvimento do software livre tem de contemplar pesadamente a formação de desenvolvedores. A desvantagem da Microsoft é deixar o cliente à mercê dela. A vantagem é não deixar o cliente à mercê do desenvolvedor.
A lição positiva é que, graças ao fato de o software ser livre, um segundo desenvolvedor pode desenvolver rapidamente uma nova versão do site, o que teria sido impossível se fosse um software fechado de fabricante menos conhecido. E por um décimo do preço que pagaria por sistema semelhante da Microsoft. Mas, e se eu não tivesse indicação desse desenvolvedor?
A partir dessa experiência, há várias lições a serem tiradas.
A primeira é a importância de fortalecer a plataforma Linux e os bancos de dados -sistemas de uso geral e, por isso mesmo, mais seguros e controláveis.
A segunda é definir modelos de atuação das comunidades de aplicativos, de maneira a lhes conferir mais organicidade e mais segurança aos usuários. Por exemplo, identificando os aplicativos livres de maior futuro em cada área e constituindo uma espécie de comitê gestor -com membros da comunidade, do Estado e de clientes privados - incumbido de dar transparência, criar regras, um código de ética e pensar políticas de formação de desenvolvedores.
O terceiro ponto é estimular fortemente o uso do software livre em sistemas encapsulados, em que o único contato do usuário seja por meio de uma interface já desenvolvida como terminais bancários ou de serviços públicos, jogos de celular e computador.
Quanto às exportações de aplicativos, tem que se aprofundar a discussão sobre o papel do software livre e dos softwares proprietários padronizados.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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