|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Teles querem recursos para massificar internet sem governo
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
A Oi é uma operadora de telefonia privada que tem como sócios o BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social) e fundos de pensão
detendo 49% de participação
na companhia. Com a compra
da Brasil Telecom, em 2008, ela
passou a atuar em praticamente todo o território nacional.
Mas isso teoricamente não é
suficiente para torná-la a "operadora oficial" do PNBL (Plano
Nacional de Banda Larga), um
projeto que ainda não existe.
Primeiro, o governo tentou
usar os 16 mil quilômetros de
fibras ópticas da Eletronet,
uma empresa em processo de
falência que tem como sócios o
próprio governo e o empresário
Nelson dos Santos, ex-cliente
de José Dirceu, conforme a Folha revelou em fevereiro.
Essa rede seria usada pelas
teles, que passariam a alugá-la
da Telebrás, a estatal das telecomunicações que seria reativada para gerenciar os serviços.
Caso não houvesse interesse
das teles, o Estado seria seu
concorrente direto. Esse projeto patinou devido a uma disputa jurídica entre o governo e os
credores da Eletronet.
Agora, o governo dá sinais de
que a Oi poderá ser sua "parceira" no PNBL. O presidente da
operadora, Luiz Eduardo Falco, disse que a empresa poderia
participar em até 90% do plano, oferecendo pacotes entre
R$ 15 e R$ 35 ao consumidor.
Para chegar a esse preço, como
pretende o PNBL, o governo terá obrigatoriamente que desonerar o serviço, liberando, por
exemplo, fundos setoriais,
principalmente o Fust (Fundo
de Universalização dos Serviços de Telecomunicações).
As teles reclamam há anos
pela liberação desses recursos,
que, desde o princípio, deveriam ser destinados para que a
internet chegasse a todos os
municípios.
Hoje, um projeto de lei em
tramitação no Congresso estabelece que o processo de escolha entre as operadoras para a
utilização desse dinheiro seja
aberto. A Oi teria de concorrer
com outras até em sua área de
cobertura.
Se isso já estivesse valendo, o
governo não precisaria de um
PNBL porque, em 31 de dezembro deste ano, as operadoras terão concluído os investimentos
previstos pela União para levar
à sede de todos os municípios
do país a infraestrutura (rede)
que garante o acesso à internet.
O problema é o investimento
na chamada "última milha", o
trecho que conecta as centrais à
casa de cada morador. Em lugares onde a renda per capita é
baixa, as teles não veem motivo
para investir porque não haveria demanda. A telefonia competiria com o "arroz e o feijão".
Segundo elas, aí entrariam os
recursos dos fundos setoriais
para tornar o preço baixo o suficiente para gerar procura e
amortizar os investimentos.
Por isso, os órgãos de defesa
do consumidor defendem que o
governo baixe um decreto que
transforme a internet em serviço de utilidade pública, como a
oferta de água e energia. Para
eles, só assim a discussão deixará a esfera dos interesses públicos e privados e estará mais conectada com a realidade e os direitos dos cidadãos.
Texto Anterior: Planalto negocia banda larga com teles Próximo Texto: Claro cobra iguais condições para estatal Índice
|