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LUÍS NASSIF
A renda interna e o crescimento
Agora que as exportações se
frustraram, ficam mais claros os efeitos devastadores das
políticas fiscal e monetária sobre
a renda interna, inclusive ameaçando a própria continuidade da
obra de governo.
Tome-se a equação
P = C + G + (E-I), a partir dos livros-texto, na qual P é produtividade (horas trabalhadas por trabalhador), C é consumo privado,
G é consumo de governo, E é exportação e I, importação.
A produtividade permite o
crescimento sustentado da economia dentro de um determinado ritmo. Quando ocorre o desequilíbrio, é preciso atuar sobre
cada um dos demais fatores.
Fator 1 - O consumo privado é
tratado com política monetária.
Com o manejo dos juros, o Banco Central pode reduzir ou aumentar a demanda.
Fator 2 - O consumo público é
tratado pela política fiscal. Em
caso de recessão, afrouxa-se a
política fiscal, ou pela redução
dos tributos ou pelo aumento
dos gastos públicos. Em caso de
aquecimento, aperta-se a política fiscal.
Fator 3 - Finalmente, a questão
das exportações e importações é
tratada pela política cambial e
também pelo aumento da produtividade.
Política econômica virtuosa é a
que sabe equilibrar os três instrumentos, mesmo porque um
interfere em outro, não sobrecarregando nenhum deles com
atribuições que não são de sua
competência.
No primeiro governo FHC, desequilibraram-se os fatores 2 e 3
-deturpou-se a política cambial, desequilibrando a balança
comercial, e atuou-se frouxamente na frente fiscal. O equilíbrio foi mantido com o reforço
violento do fator 1, a política monetária, com juros extraordinariamente elevados que arrebentaram as contas públicas e privadas, sobrecarregando, num segundo momento, as políticas fiscal e cambial.
Com as políticas cambial e monetária puxando para baixo, a
fiscal nem acertou as contas nem
garantiu a atividade econômica.
E a economia patinou em todas
as frentes.
No último ano atuou-se um
pouco mais agressivamente na
política cambial, que puxou a
economia para cima. Mas atuou-se de maneira rígida na política
fiscal, para poder pagar as contas
do período anterior, puxando a
economia para baixo.
Aumentos de tarifas e de impostos e desvalorização de câmbio produziram impacto sobre
os custos dos produtos. Para impedir o repasse para preços, o BC
manteve juros elevados, apesar
de a economia não estar aquecida.
Poderia ter corrido algum risco
e percebido que, com a economia sendo puxada para baixo
pela frente externa e pela política
fiscal, haveria pouco espaço para
repasse de preços. Mas aí entra o
paradigma da prioridade única,
que já liquidou muitas empresas.
Coloca-se toda a ênfase em uma
única prioridade, em vez de procurar um equilíbrio maior entre
controle de inflação e crescimento.
A conseqüência é que toda a
esperança de recuperação da
economia acabou residindo na
última perna da equação -a recuperação das exportações, que
ajudaria a puxar o consumo e a
renda.
Com a frustração das exportações e a falta de espaço para flexibilizar a política fiscal e de coragem para amenizar a política
monetária, os resultados são os
seguintes: recorde de inadimplência, revisão para baixo dos
índices de crescimento da economia e de popularidade do governo.
Daí a importância de todos os
candidatos se debruçarem sobre
os estudos de Yoshiaki Nakano e
Luiz Carlos Bresser Pereira, aliviando a política monetária (e os
juros) e centrando na política
cambial a recuperação da economia.
Responsabilidade fiscal
O presidente da Associação
dos Tribunais de Contas do Brasil, Carlos Pina, entra em contato
para informar que a coluna de 5
de abril passado, que discute a
tese sobre qual o prazo a ser considerado para a avaliação da gestão do governante (se o último
dia de governo ou o último de
mandato), será oficialmente
apresentada para discussão no
congresso de tribunais de contas
que ocorrerá na próxima semana na Espanha.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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