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VINICIUS TORRES FREIRE
Casas mal-assombradas e o PAC
Parece haver um boom na construção civil, mas números da indústria de insumos e máquinas do setor declinam
AS EMPRESAS reclamam desde
o ano passado de escassez de
mão-de-obra na construção
civil. Em um ano e meio, 14 empresas imobiliárias foram à Bovespa e
captaram quase R$ 10 bilhões, cerca
de três quartos disso em investimento estrangeiro. Trata-se pelo
menos de um sinal de boas expectativas de rentabilidade do negócio.
Investidores estrangeiros incorporam e compram imóveis. O mercado de títulos imobiliários começa
a se desenvolver. Há mais crédito.
Os juros caíram. O governo cortou
alguns impostos sobre insumos da
construção. As vendas de materiais
no varejo crescem a 6% anuais. Por
fim, o governo prometeu que a engenharia civil seria um motor do PAC,
o Programa de Aceleração do Crescimento. Tudo parece prenunciar
um boom na construção.
Mas, embora ainda tenha sido de
razoáveis 3,3% nos últimos 12 meses, o crescimento da indústria de
materiais para a construção civil parece declinar desde novembro passado, segundo dados do IBGE. Ainda mais estranho, o crescimento da indústria de
máquinas e equipamentos para o setor parece sofrer uma violenta desaceleração: de um crescimento anualizado da casa dos 30%, do início de
2006, para 5%.
Na pesquisa de emprego da FGV-SindusCon, o Sindicato da Indústria
da Construção Civil de São Paulo, o
emprego formal no setor cresceu
5,9% no primeiro bimestre de 2007
em relação ao mesmo período de
2006, quando já registrara 9,3%
mais empregados do que em 2005.
Em quais casas fantasmas estariam
trabalhando os operários? Na verdade, os operários levantam, sim, mais
casas. O emprego cresce menos é no
setor de construção de infra-estrutura, no entanto responsável por
apenas 6% dos postos de trabalho na
área. Ainda assim, o que se passa?
A indústria de materiais para a
construção civil é variadíssima. Inclui, pela ordem de importância nos
cálculos do IBGE, cimento, fios e cabos elétricos, cerâmicas, válvulas e
registros, ladrilhos, madeiras, tintas,
asfaltos, elevadores. Estaríamos importando privadas? Seria preciso
um longo estudo dos dados de importação, que não são costumeiramente abertos nesse nível de detalhe nem agregados para materiais de
construção civil. Mas não se ouve
muita queixa no setor a respeito.
A Gerdau está muito otimista em
relação às vendas de aço para a construção. Os dados de consumo de cimento ainda estão muito atrasados,
embora, pelo IBGE, o crescimento
da indústria corra na casa dos 4,5%
(indústria que trabalha com capacidade ociosa de 35%!), embora os dados mensais do início do ano na
construção civil não costumem permitir prognósticos confiáveis, pois o
setor esfria nesse período. Mas até a
baqueada indústria de transformação dá sinais de que vai crescer quase o dobro do ano passado. Há um
mistério feito de cimentos e tijolos.
vinit@uol.com.br
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