São Paulo, quinta-feira, 10 de maio de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

Casas mal-assombradas e o PAC

Parece haver um boom na construção civil, mas números da indústria de insumos e máquinas do setor declinam

AS EMPRESAS reclamam desde o ano passado de escassez de mão-de-obra na construção civil. Em um ano e meio, 14 empresas imobiliárias foram à Bovespa e captaram quase R$ 10 bilhões, cerca de três quartos disso em investimento estrangeiro. Trata-se pelo menos de um sinal de boas expectativas de rentabilidade do negócio.
Investidores estrangeiros incorporam e compram imóveis. O mercado de títulos imobiliários começa a se desenvolver. Há mais crédito.
Os juros caíram. O governo cortou alguns impostos sobre insumos da construção. As vendas de materiais no varejo crescem a 6% anuais. Por fim, o governo prometeu que a engenharia civil seria um motor do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento. Tudo parece prenunciar um boom na construção.
Mas, embora ainda tenha sido de razoáveis 3,3% nos últimos 12 meses, o crescimento da indústria de materiais para a construção civil parece declinar desde novembro passado, segundo dados do IBGE. Ainda mais estranho, o crescimento da indústria de máquinas e equipamentos para o setor parece sofrer uma violenta desaceleração: de um crescimento anualizado da casa dos 30%, do início de 2006, para 5%.
Na pesquisa de emprego da FGV-SindusCon, o Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo, o emprego formal no setor cresceu 5,9% no primeiro bimestre de 2007 em relação ao mesmo período de 2006, quando já registrara 9,3% mais empregados do que em 2005.
Em quais casas fantasmas estariam trabalhando os operários? Na verdade, os operários levantam, sim, mais casas. O emprego cresce menos é no setor de construção de infra-estrutura, no entanto responsável por apenas 6% dos postos de trabalho na área. Ainda assim, o que se passa?
A indústria de materiais para a construção civil é variadíssima. Inclui, pela ordem de importância nos cálculos do IBGE, cimento, fios e cabos elétricos, cerâmicas, válvulas e registros, ladrilhos, madeiras, tintas, asfaltos, elevadores. Estaríamos importando privadas? Seria preciso um longo estudo dos dados de importação, que não são costumeiramente abertos nesse nível de detalhe nem agregados para materiais de construção civil. Mas não se ouve muita queixa no setor a respeito.
A Gerdau está muito otimista em relação às vendas de aço para a construção. Os dados de consumo de cimento ainda estão muito atrasados, embora, pelo IBGE, o crescimento da indústria corra na casa dos 4,5% (indústria que trabalha com capacidade ociosa de 35%!), embora os dados mensais do início do ano na construção civil não costumem permitir prognósticos confiáveis, pois o setor esfria nesse período. Mas até a baqueada indústria de transformação dá sinais de que vai crescer quase o dobro do ano passado. Há um mistério feito de cimentos e tijolos.


vinit@uol.com.br

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