Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BARRY EICHENGREEN
"Destino do Brasil depende da volta do crescimento nos EUA, Europa e Japão"
DA REPORTAGEM LOCAL
Barry Eichengreen é professor da Universidade da Califórnia em Berkeley. Em 1998, ele formulou, a pedido do FMI (Fundo Monetário Internacional), um diagnóstico sobre o papel dos fundos de hedge (similares aos fundos multimercado brasileiros, que aplicam em ações, títulos e câmbio) internacionais na deflagração da crise econômica asiática.
(MA)
FOLHA - A crise acabou?
BARRY EICHENGREEN - Só o tempo dirá. Mesmo se a economia norte-americana retomar seu ritmo em alguns meses, o crescimento subsequente será pífio. Os bancos não vão retomar os empréstimos do dia para a noite; as famílias só vão voltar a comprar quando seus fundos de aposentadoria forem recompostos; e a combinação atual de política fiscal frouxa com uma política monetária cada vez mais rígida vai produzir, no futuro, um ambiente ruim para os investimentos.
FOLHA - Quem vai sair primeiro da crise: os EUA ou a Europa?
EICHENGREEN - A crise americana começou primeiro, e deve acabar primeiro. Além disso, os europeus não conseguiram formular um caminho para o problema de seus bancos. A região vai sofrer por algum tempo. A crise mundial será solucionada em etapas. E vai demorar.
FOLHA - Economias como a brasileira conseguirão voltar à normalidade antes de os Estados Unidos e a Europa solucionarem seus problemas?
EICHENGREEN - O Brasil ainda precisa exportar, mesmo que a importância da demanda doméstica tenha crescido enormemente. E as importações chinesas não são suficientes para financiar o mesmo nível de exportações que o Brasil tinha antes da crise.
O destino do país, portanto, depende da retomada do crescimento nos Estados Unidos, na Europa e no Japão. O Brasil só vai sair da crise com o resto do mundo. Não há atalhos.
FOLHA - Os bancos resolveram os problemas que tinham com os empréstimos e derivativos podres?
EICHENGREEN - Não, esses problemas perduram. Nos Estados Unidos, o governo propôs criar uma empresa de investimento público-privada para "limpar" os balanços dos bancos. Não sei se vai funcionar.
Na Alemanha, propuseram a criação de um "banco podre" que teria a única função de absorver os ativos tóxicos das outras instituições. No entanto até agora não fizeram nada.
FOLHA - Mas houve algum avanço?
EICHENGREEN - Bem, se compararmos à situação logo após a quebra do Lehman Brothers, sim. Em setembro, a insolvência era generalizada. Temia-se uma nacionalização de todo o sistema financeiro.
O problema é que os bancos não estão ainda preparados para emprestar novamente. Meu medo é que eles não estejam adequadamente capitalizados.
Texto Anterior: Raghuram Rajan: "Ninguém encontrou um substituto à altura para o consumidor americano" Próximo Texto: Por fora das estatísticas, pobreza e desemprego crescem na Argentina Índice
|