UOL


São Paulo, terça-feira, 10 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MARCHA LENTA

Produção recua 4,2%; grupo dos alimentos, calçados e vestuário desaba 10,6%, o maior recuo desde 92

Indústria leva tombo histórico em abril

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

A queda do consumo doméstico já atinge a produção de bens essenciais. É o que revela a Pesquisa Industrial Mensal do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgada ontem.
Em abril, a produção da indústria caiu 4,2%, em relação ao mesmo mês de 2002 -a primeira taxa negativa desde maio do ano passado, nesse tipo de comparação.
A produção de bens de consumo semiduráveis e não-duráveis, os últimos a serem cortados no consumo das famílias, teve queda maior: 10,6%. É o pior desempenho desde agosto de 1992. Estão nessa categoria alimentos, calçados, vestuário e produtos farmacêuticos, entre outros.
Segundo o IBGE, o principal impacto negativo na queda da produção dos bens semi e não-duráveis veio de vestuário e calçados. Mas a indústria alimentar, prioritariamente voltada ao mercado interno, também se retraiu. No acumulado do ano, a queda é de 1,3% -até março, a taxa era positiva em 0,3%. Só em abril, caiu 5,7% ante o mesmo mês de 2002.
A produção dos bens semiduráveis e não-duráveis sofre principalmente com o achatamento contínuo da renda, segundo especialistas ouvidos pela Folha. Em abril, a renda do trabalhador caiu 7,7%, em relação ao mesmo mês do ano passado.
"As pessoas estão substituindo produtos e consumindo menos porque a renda está em queda", disse Sílvio Sales, chefe do Departamento de Indústria do IBGE.
Os bens não-duráveis também foram afetados pela inflação, pois os alimentos figuraram entre os produtos que tiveram as maiores altas até o fim do primeiro trimestre, afirmou o economista Paulo Levy, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

Ressalvas
Ao comentar a menor produção da indústria, Sales fez duas ressalvas: abril deste ano teve dois dias úteis a menos do que em 2002 e a base de comparação é elevada. Em abril de 2002, o setor crescera 6,2%. Mesmo assim, diz, o dado de abril mostrou que a desaceleração da indústria se intensificou.
A produção caiu de forma generalizada: em 14 dos 20 ramos pesquisados, na comparação com abril de 2002. "A queda está ficando mais espalhada. É como se aqueles fatores dinâmicos -a agroindústria, as exportações e o petróleo- não tivessem mais o ímpeto de neutralizar a queda dos bens de consumo interno", disse Sales.
Em relação a março, a taxa com ajuste sazonal teve uma ligeira queda, de 0,1%. Depois de a produção da indústria ter recuado 3,3% em março, sobretudo por causa do fato de o Carnaval ter caído naquele mês, analistas esperavam uma recuperação de até 1,5% em abril. É o caso de Juan Pedro Jensen, da Tendências Consultoria, que se disse surpreso com o "tombo" do consumo interno, superior ao previsto. No acumulado do ano, o setor ainda registra expansão: 0,6% -menos do que os 2,4% acumulados até março.

Exportação esgotada
Para Luiz Afonso Lima, do BBV, a capacidade das exportações de sustentar o nível de atividade da indústria está se esgotando. É que elas, mesmo em expansão, respondem por apenas 20% da produção. O pior é que o crescimento das vendas ao exterior está se desacelerando. De janeiro a março, haviam crescido 28%. Até abril, a expansão foi de 25,5%.
Não fosse o crescimento dos produtos destinados à exportação Jensen calcula que a retração da produção seria muito maior em abril: 10% em relação a igual mês de 2002.
O economista da CNI (Confederação Nacional da Indústria) Flávio Castello Branco prevê uma recuperação do setor no segundo semestre. Condiciona a melhora, porém, à redução dos juros, que poderia incentivar a produção de bens duráveis e de máquinas.
Levy, do Ipea, afirma que nos próximos meses a indústria deve apresentar taxas negativas, devido à base elevada de comparação a partir de abril de 2002, quando a indústria começou a se recuperar da queda da produção provocada pelo racionamento de energia elétrica (junho de 2001 a fevereiro de 2002). Apesar disso, o Ipea estima um crescimento de 1,8% na produção industrial para este ano.


Texto Anterior: Painel S.A.
Próximo Texto: Produção de carros, móveis e eletroeletrônicos desaba
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.