São Paulo, Quinta-feira, 10 de Junho de 1999
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NEGÓCIOS
A fabricante de aviões, privatizada em 94, registrou lucro em 98 e tem mais de US$ 4 bilhões de encomendas
Bozano, Simonsen quer sair da Embraer

VANESSA ADACHI
da Reportagem Local

Pouco mais de quatro anos após a privatização, o Grupo Bozano, Simonsen planeja vender sua participação no controle acionário da Embraer.
O grupo do banqueiro Júlio Bozano tem 29,1% das ações ordinárias (com direito a voto) da Embraer, segundo as últimas informações prestadas à Bolsa.
O controle acionário da empresa aeronáutica é compartilhado com os fundos de pensão Sistel (Telebrás), que tem 19,7%, e Previ (Banco do Brasil), que tem 27,9%, de acordo com o boletim da Bolsa.
A intenção de sair da Embraer, segundo a Folha apurou, segue a orientação estratégica do grupo Bozano de centrar cada vez mais seus esforços no setor financeiro, que se tornou mais competitivo nos últimos anos.
Além disso, a avaliação interna é de que o processo de reestruturação da Embraer já está feito e a companhia encontra-se pronta para atrair interessados pela perspectiva de vendas ascendentes e lucros.
Em 98, pela primeira vez desde que foi privatizada, a companhia exibiu um resultado positivo, de R$ 132 milhões, deixando para trás um prejuízo de R$ 33 milhões registrado em 97. Foi também o maior lucro dos seus 30 anos de existência.
Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa do Grupo Bozano não quis comentar. A Embraer, por meio de sua assessoria, informou desconhecer o assunto.
A Folha apurou, entretanto, que já ocorreram contatos com possíveis interessados.
Entre eles estariam as fabricantes de aeronaves Saab, sueca, Boeing, norte-americana, e Dassault, francesa.
A Embraer foi privatizada em dezembro de 94 por R$ 154,1 milhões. O consórcio liderado pelo Bozano, Simonsen, que contava também com as fundações, ficou com a maior parte das ações leiloadas.
Com mais de US$ 4 bilhões de encomendas em seus livros, hoje a Embraer está entre as grandes fabricantes mundiais de aviões.
É o resultado do trabalho de reestruturação, investimento tecnológico e corte de custos feitos a partir da transferência para a iniciativa privada. À frente dessa virada da Embraer está Maurício Novis Botelho, que até 94 era executivo do próprio Grupo Bozano, Simonsen.
A venda da participação do Bozano não é exatamente uma surpresa. O grupo foi bastante agressivo no processo de privatização e em muitos casos mostrou que seu objetivo era comprar empresas, profissionalizá-las, transformá-las em negócios rentáveis e vendê-las com lucro.
Foi assim com a Usiminas, com a Companhia Siderúrgica de Tubarão e com a Escelsa (Espírito Santos Centrais Elétricas). Calcula-se que o grupo tenha lucrado cerca de US$ 500 milhões com a transferência desses investimentos.
Nos últimos dois anos, o Bozano, Simonsen tem se consolidado no setor financeiro e se mostra disposto a concentrar investimentos na área.
Originalmente um banco de atacado, que atendia apenas a grandes clientes, no final de 97 a instituição mostrou também ter apetite para o varejo bancário. Arrematou o Banco Meridional, com forte presença no Sul do país, privatizado pelo governo federal. Hoje está entre os maiores conglomerados financeiros do país.
Embora tenha se desfeito de participações em empresas fora do setor financeiro, o grupo ainda mantém investimentos diversificados.
Está presente no capital de shoppings centers, por meio da BS Centros Comerciais, e também atua no setor agrícola, com a Ipanema Agro-Indústria.
Na indústria, além da Embraer, o grupo de Júlio Bozano tem negócios no segmento de madeiras.


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