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LUÍS NASSIF
O dólar paralelo
Um profundo conhecedor do setor estima que
devam existir hoje US$ 160 bilhões de recursos brasileiros no
exterior, sendo US$ 70 bilhões
registrados no Banco Central e
US$ 90 bilhões não-registrados.
Os dados registrados são informações oficiais da Firce do BC.
Os não-registrados foram obtidos por meio de dados bianuais tabulados pelo BIS e pelo
JP Morgan.
O mercado paralelo é antigo
e bem estruturado no Brasil,
explica o especialista. Funciona capilarmente, como uma
rede de varejo legal, pelas casas
de câmbio registradas e uma
segunda rede clandestina, em
centenas de salas e saletas nas
principais cidades brasileiras.
Acima da rede varejista existem as chamadas "mesas grandes", os atacadistas, em torno
de uma dúzia de mesas, um
pouco mais da metade em São
Paulo e as demais no Rio. Essas
mesas usam as CC-5 e por meio
delas os grandes operadores do
Cone Sul, que são o atacado do
atacado em relação ao mercado paralelo brasileiro.
No Paraguai o controle é efetuado pela Cambio Guarany
S.A. e Câmbios Amambay S.A.,
duas operações ligadas ao sistema político local. Uma das
quatro grandes corretoras de
câmbio oficial no Brasil é de
origem uruguaia, a Finambras. Outra grande operadora
argentino-uruguaia quebrou
no fim do governo Menem, o
Banco Velox, da família Peirano. Consta que continuam
operando por outros nomes,
assim como a família Piano, da
Argentina, durante muito anos
a maior operadora do Cone
Sul.
A agência nova-iorquina do
Banestado e as operações do
Banco Araucária fazem parte
do mercado paralelo semi-legalizado -que não é o principal canal para a fuga de capitais do Brasil, explica esse especialista.
As grandes operações de exportação de capital líquido, a
partir do Brasil, são legais, estruturadas a partir de engenharias financeiras montadas
por grandes bancos, alguns altamente especializados nesses
serviços. Os veículos preferidos
são de super e subfaturamento
no comércio exterior, compra
com desconto de bônus de
emissão privada mantendo
aberto o registro integral no
BC, investimentos brasileiros
no exterior verdadeiros ou de
simples cobertura etc.
O mercado de segunda linha
-operado pelo paralelo e daí
para as CC-5- é de outra natureza, de origem ilícita ou não
comprovável, já que não há razão para um remetente legal
usar o paralelo, em que as taxas são normalmente 8% a
12% mais altas do que no legal.
No entanto é preciso cuidado
para analisar as 37 mil remessas apuradas na investigação
da Polícia Federal, diz ele.
Muitos dos cheques depositados em CC-5 para cobrir remessas posteriores não são dos
verdadeiros remetentes.
Quando alguém compra um
apartamento, por exemplo, dá
ao vendedor cheque de sua
emissão. Este pode ir a um doleiro e comprar uma remessa
cabo. O doleiro envia o cheque
a uma mesa grande e esta deposita o cheque em uma CC-5
de fronteira. Faz a remessa e
vai aparecer no levantamento
que se fizer na conta o nome do
emitente do cheque, que nem
sabe que ele foi parar em uma
CC-5.
Por problema de espaço, voltarei ao tema em próxima coluna.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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