UOL


São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LUÍS NASSIF

O dólar paralelo

Um profundo conhecedor do setor estima que devam existir hoje US$ 160 bilhões de recursos brasileiros no exterior, sendo US$ 70 bilhões registrados no Banco Central e US$ 90 bilhões não-registrados. Os dados registrados são informações oficiais da Firce do BC. Os não-registrados foram obtidos por meio de dados bianuais tabulados pelo BIS e pelo JP Morgan.
O mercado paralelo é antigo e bem estruturado no Brasil, explica o especialista. Funciona capilarmente, como uma rede de varejo legal, pelas casas de câmbio registradas e uma segunda rede clandestina, em centenas de salas e saletas nas principais cidades brasileiras.
Acima da rede varejista existem as chamadas "mesas grandes", os atacadistas, em torno de uma dúzia de mesas, um pouco mais da metade em São Paulo e as demais no Rio. Essas mesas usam as CC-5 e por meio delas os grandes operadores do Cone Sul, que são o atacado do atacado em relação ao mercado paralelo brasileiro.
No Paraguai o controle é efetuado pela Cambio Guarany S.A. e Câmbios Amambay S.A., duas operações ligadas ao sistema político local. Uma das quatro grandes corretoras de câmbio oficial no Brasil é de origem uruguaia, a Finambras. Outra grande operadora argentino-uruguaia quebrou no fim do governo Menem, o Banco Velox, da família Peirano. Consta que continuam operando por outros nomes, assim como a família Piano, da Argentina, durante muito anos a maior operadora do Cone Sul.
A agência nova-iorquina do Banestado e as operações do Banco Araucária fazem parte do mercado paralelo semi-legalizado -que não é o principal canal para a fuga de capitais do Brasil, explica esse especialista.
As grandes operações de exportação de capital líquido, a partir do Brasil, são legais, estruturadas a partir de engenharias financeiras montadas por grandes bancos, alguns altamente especializados nesses serviços. Os veículos preferidos são de super e subfaturamento no comércio exterior, compra com desconto de bônus de emissão privada mantendo aberto o registro integral no BC, investimentos brasileiros no exterior verdadeiros ou de simples cobertura etc.
O mercado de segunda linha -operado pelo paralelo e daí para as CC-5- é de outra natureza, de origem ilícita ou não comprovável, já que não há razão para um remetente legal usar o paralelo, em que as taxas são normalmente 8% a 12% mais altas do que no legal.
No entanto é preciso cuidado para analisar as 37 mil remessas apuradas na investigação da Polícia Federal, diz ele. Muitos dos cheques depositados em CC-5 para cobrir remessas posteriores não são dos verdadeiros remetentes.
Quando alguém compra um apartamento, por exemplo, dá ao vendedor cheque de sua emissão. Este pode ir a um doleiro e comprar uma remessa cabo. O doleiro envia o cheque a uma mesa grande e esta deposita o cheque em uma CC-5 de fronteira. Faz a remessa e vai aparecer no levantamento que se fizer na conta o nome do emitente do cheque, que nem sabe que ele foi parar em uma CC-5.
Por problema de espaço, voltarei ao tema em próxima coluna.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


Texto Anterior: Opinião econômica: O segundo casamento
Próximo Texto: Tributos: Senado amplia base de cobrança do ISS para 208 serviços
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.