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São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 2003

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DRAGÃO ENFRAQUECIDO

Índice oficial do governo recua 0,15% em junho, sob o impacto da redução do consumo e do dólar

IPCA registra a 1ª deflação desde 1998

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Sob impacto das quedas do consumo e do dólar, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial do governo e referência para as metas de inflação, registrou em junho a primeira deflação desde novembro de 1998. O índice caiu 0,15% -em maio, a inflação foi de 0,61%, disse o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Em novembro de 1998, os preços haviam caído, em média, 0,12%. O resultado de junho também é o menor desde setembro de 1998 (-0,22%), ano anterior à desvalorização e que teve a inflação mais baixa do Real -1,65%.
A deflação de junho fez o índice acumulado em 12 meses recuar pela primeira vez desde agosto do ano passado, quando o país sofria os efeitos do aumento do dólar. A taxa cedeu de 17,24% até maio para 16,57% até junho.
De acordo com a economista do IBGE Eulina Nunes dos Santos, esse pode ser o "ponto de inflexão" na curva da inflação -ou seja, as taxas anualizadas atingiram o pico e a tendência daqui para a frente é queda. Ela acredita que esse movimento deva se manter: "Não existem indicações de que a inflação atinja no mês que vem o mesmo nível de julho de 2002 [alta de 1,19%]".
Segundo ela, três foram os principais motivos para a deflação: o recuo "consistente" do dólar desde o início do ano -e sua influência sobretudo nos alimentos-, a diminuição do consumo interno e a maior oferta de alimentos em razão da safra recorde. Para a economista, os efeitos do "choque cambial" de 2002 já não afetam mais os preços.
A gasolina foi o item que mais influenciou o resultado, com redução de 4,94% e impacto negativo de 0,22 ponto. Por causa da safra recorde, o preço do álcool também caiu: 12,14%, com peso negativo de 0,15 ponto. Os alimentos tiveram deflação de 0,34% -a primeira desde maio de 2000 (-0,59%). A contribuição no recuo do IPCA foi de 0,08%.

Queda dos juros
Para o economista Carlos Thadeu de Freitas Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o IPCA de junho abre espaço para uma redução de até dois pontos percentuais na taxa básica de juros já neste mês -a Selic está em 26% ao ano. "Agora, ficaram escancarados os sinais de que a trajetória da inflação é a de queda e que não há pressões à vista."
Na visão de Marco Antonio Franklin, da administradora de recursos ARX, a deflação foi decorrência do repasse das reduções, que já vinham ocorrendo no atacado, para o varejo. Citou o dólar como o principal responsável.
Segundo ele, porém, a deflação é algo pontual, que não deve se repetir nos próximos meses, já que os alimentos e os combustíveis tiveram recuos atípicos.
Até o final do ano, Franklin prevê inflação média mensal na casa de 0,40%, o que levaria as projeções anualizadas para a faixa de 6% e permitiria um corte "substancial" nos juros. Ele aposta numa redução de 1,5% neste mês.
"Mudou o regime inflacionário. Passou de uma inflação alta desde o final de 2002 com a disparada do dólar para um cenário de estabilidade, como nos melhores períodos do Real. Essa mudança possibilita um juro de 20% ao final do ano", disse o economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-RJ e da Fecomercio-RJ.
Apesar da deflação, o núcleo da inflação, levado em conta pelo BC nas decisões de política monetária, teve uma queda pequena. Excluídas as variações mais altas e mais baixas, passou de 1% para 0,87%, segundo cálculos da Tendências Consultoria -o IBGE não calcula o núcleo.
Projeções da UFRJ mostram ainda que os preços livres, sensíveis aos juros altos, caíram menos (de 0,59% em maio para 0,22% em junho) do que os administrados (0,81% para -1,02%). Foi um reflexo da forte queda da gasolina.
Para julho, as previsões dos economistas ouvidos pela Folha variam de 0,20% a 0,50%.


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