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DRAGÃO ENFRAQUECIDO
Índice oficial do governo recua 0,15% em junho, sob o impacto da redução do consumo e do dólar
IPCA registra a 1ª deflação desde 1998
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Sob impacto das quedas do consumo e do dólar, o IPCA (Índice
de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial do governo
e referência para as metas de inflação, registrou em junho a primeira deflação desde novembro
de 1998. O índice caiu 0,15% -em
maio, a inflação foi de 0,61%, disse
o IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística).
Em novembro de 1998, os preços haviam caído, em média,
0,12%. O resultado de junho também é o menor desde setembro de
1998 (-0,22%), ano anterior à desvalorização e que teve a inflação
mais baixa do Real -1,65%.
A deflação de junho fez o índice
acumulado em 12 meses recuar
pela primeira vez desde agosto do
ano passado, quando o país sofria
os efeitos do aumento do dólar. A
taxa cedeu de 17,24% até maio para 16,57% até junho.
De acordo com a economista do
IBGE Eulina Nunes dos Santos,
esse pode ser o "ponto de inflexão" na curva da inflação -ou
seja, as taxas anualizadas atingiram o pico e a tendência daqui para a frente é queda. Ela acredita
que esse movimento deva se
manter: "Não existem indicações
de que a inflação atinja no mês
que vem o mesmo nível de julho
de 2002 [alta de 1,19%]".
Segundo ela, três foram os principais motivos para a deflação: o
recuo "consistente" do dólar desde o início do ano -e sua influência sobretudo nos alimentos-, a
diminuição do consumo interno e
a maior oferta de alimentos em
razão da safra recorde. Para a economista, os efeitos do "choque
cambial" de 2002 já não afetam
mais os preços.
A gasolina foi o item que mais
influenciou o resultado, com redução de 4,94% e impacto negativo de 0,22 ponto. Por causa da safra recorde, o preço do álcool
também caiu: 12,14%, com peso
negativo de 0,15 ponto. Os alimentos tiveram deflação de
0,34% -a primeira desde maio
de 2000 (-0,59%). A contribuição
no recuo do IPCA foi de 0,08%.
Queda dos juros
Para o economista Carlos Thadeu de Freitas Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o
IPCA de junho abre espaço para
uma redução de até dois pontos
percentuais na taxa básica de juros já neste mês -a Selic está em
26% ao ano. "Agora, ficaram escancarados os sinais de que a trajetória da inflação é a de queda e
que não há pressões à vista."
Na visão de Marco Antonio
Franklin, da administradora de
recursos ARX, a deflação foi decorrência do repasse das reduções, que já vinham ocorrendo no
atacado, para o varejo. Citou o dólar como o principal responsável.
Segundo ele, porém, a deflação
é algo pontual, que não deve se repetir nos próximos meses, já que
os alimentos e os combustíveis tiveram recuos atípicos.
Até o final do ano, Franklin prevê inflação média mensal na casa
de 0,40%, o que levaria as projeções anualizadas para a faixa de
6% e permitiria um corte "substancial" nos juros. Ele aposta numa redução de 1,5% neste mês.
"Mudou o regime inflacionário.
Passou de uma inflação alta desde
o final de 2002 com a disparada
do dólar para um cenário de estabilidade, como nos melhores períodos do Real. Essa mudança
possibilita um juro de 20% ao final do ano", disse o economista
Luiz Roberto Cunha, da PUC-RJ e
da Fecomercio-RJ.
Apesar da deflação, o núcleo da
inflação, levado em conta pelo BC
nas decisões de política monetária, teve uma queda pequena. Excluídas as variações mais altas e
mais baixas, passou de 1% para
0,87%, segundo cálculos da Tendências Consultoria -o IBGE
não calcula o núcleo.
Projeções da UFRJ mostram
ainda que os preços livres, sensíveis aos juros altos, caíram menos
(de 0,59% em maio para 0,22%
em junho) do que os administrados (0,81% para -1,02%). Foi um
reflexo da forte queda da gasolina.
Para julho, as previsões dos economistas ouvidos pela Folha variam de 0,20% a 0,50%.
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