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Para indústria, fenômeno pode significar prejuízo e quebradeira
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
A deflação registrada no IPCA
de junho pode ser saudada pelo
mercado financeiro como sinal
"da vitória da política monetária"
do Banco Central, mas, para o setor produtivo, significa o risco de
ter que praticar preços que nem
sempre cobrem seus custos, reduzir investimentos e se defrontar
com eventual quebradeira.
Ao decidir produzir, explica o
professor Fernando Cardim, da
UFRJ, uma empresa considera
determinada expectativa de preços para o produto ou serviço.
""Deflação significa que está recebendo menos do que esperava.
Em tese, esse produtor ou prestador de serviço terá que vender
mais para receber os mesmos
reais de antes", diz Cardim.
O problema é que deflação resulta normalmente de uma grande desaceleração da economia ou
de um quadro de recessão já existente -ou seja, nessas duas hipóteses o consumo interno tende a
estar em níveis muito baixos, a
exemplo do que ocorre no Brasil.
Para Cardim, a deflação no
IPCA de junho serve como ""alerta". ""Se o governo não for teimoso, espera-se que essa deflação,
muito pequena, sirva para o BC
tomar atitude sensata e baixar os
juros de forma mais agressiva."
Flávio Castelo Branco, coordenador de política econômica da
CNI (Confederação Nacional da
Indústria), sustenta que a deflação registrada mês passado não se
repetirá nos próximos indicadores. Usa como principal argumento os reajustes em preços administrados, como os de telefonia. ""Mas a inflação ficará em níveis muito reduzidos, quase exigindo uma queda de juros."
Reinaldo Gonçalves, também
da UFRJ, apresenta uma perspectiva mais sombria. ""Pode [a deflação] ser o primeiro sinal de um
círculo vicioso, em que temos
queda de consumo, com o aprofundamento da crise econômica,
perda de poder de investimentos
e quebra das empresas", afirma.
De acordo com ele, o que pesará
nos indicadores de inflação nos
próximos meses serão justamente
os preços controlados (que utilizam mecanismos de reajustes
acordados entre governo e concessionárias) ou os preços praticados pelos oligopólios. Os dos
chamados setores competitivos
(máquinas, bens de capital), argumenta Gonçalves, continuarão a
ver seus preços deflacionados,
por conta da falta de demanda.
"Na prática, haverá transferência de renda de um setor da economia para outro, do setor competitivo para os oligopólios ou os
que têm preços indexados."
Diz o relatório diário do banco
Modal, assinado pelo economista
Alexandre Póvoa, distribuído ontem: "A forte deflação observada
no atacado [preços agrícolas desde abril e custos industriais desde
maio], começa a se refletir no varejo". Prossegue: ""[o resultado]
representa a consolidação da vitória da política monetária" do BC.
"O governo precisou fazer opção
entre bolhas de crescimento, com
inflação, ou crescimento sustentável, sem inflação. Corretamente,
elegeu a segunda. O custo foi colocar a atividade econômica em
uma zona perigosa. Agora é possível baixar os juros, não digo 2 ou
3 pontos por reunião, mas 1 ou 1,5
e terminar o ano com uma taxa de
20%, 21%", afirma Póvoa.
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