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BRASIL X ARGENTINA
Eletrônicos e eletrodomésticos produzidos para país vizinho podem ficar à disposição do varejo brasileiro
Barreira pode beneficiar consumo interno
DA REPORTAGEM LOCAL
A trombada entre Brasil e Argentina, nas negociações que envolvem a pauta de eletrodomésticos e eletrônicos, pode beneficiar
o bolso do consumidor brasileiro.
A possibilidade de restrições na
entrada de geladeiras e televisores
no país vizinho, como quer o governo argentino, tende a elevar o
volume de eletroeletrônicos à disposição no varejo brasileiro.
E, quanto maior a oferta, menor
a pressão sobre os preços.
Na prática, o que ocorre é o seguinte: os fabricantes nacionais já
têm fechado seu plano de produção para o segundo semestre.
Tanto que esses fornecedores no
Brasil já finalizaram contratos de
compra de matéria-prima importada da Ásia para a produção nos
próximos dois a três meses.
Por isso, se os compradores argentinos puderem se valer de
uma medida restritiva para barrar
a importação de itens nacionais, a
questão será o que fazer com os
insumos a serem destinados para
a produção ao mercado vizinho
neste terceiro trimestre.
Com mais matéria-prima nas
fábricas, a produção tende a aumentar, e essas mercadorias
prontas precisam ser destinadas
para algum mercado.
"A indústria precisa ou rever
seus contratos de entrega de insumos e de produção, se ainda for
possível, ou vender mais aqui
dentro. Se destinar os produtos
para o mercado interno, e a oferta
aumentar, então a pressão por
reajustes pode ser menor", diz
Valdemir Colleone, superintendente da rede Lojas Cem.
Atualmente, há navios vindo da
Ásia para atender os contratos de
fornecimento de componentes
para a indústria brasileira. A negociação foi fechada há mais de
dois meses. Parte desses insumos
atenderá encomendas já negociadas com a Argentina.
A determinação do governo argentino de restringir a importação de eletrodomésticos e eletrônicos ainda precisa ser regulamentada. Ela não está em vigência
oficialmente. Isso, em parte, tranqüiliza os empresários do setor,
apurou a Folha.
De qualquer forma, já há reações para evitar perdas nas contas
das companhias. A Semp Toshiba
informou nesta semana que parou de negociar novos contratos
com importadores argentinos até
que a pendenga se resolva.
Não ficou claro até agora, nas
declarações do governo argentino, se será imediata a aplicação da
medida de restrição de importações -quando e se for regulamentada. Ou se os contratos em
vigor de entrega de mercadorias
já vendidas serão respeitados.
As vendas para a Argentina representam cerca de 26% das exportações de fogões, geladeiras e
lavadoras de roupas do setor.
Reflexo no bolso
A possibilidade de uma maior
oferta de eletrônicos e de eletrodomésticos no mercado interno,
caso seja ratificada a restrição argentina, terá reflexos no preço dos
itens no Brasil. Ele pode cair se a
oferta de mercadorias subir.
Por outro lado, o risco de uma
subida nos preços continua. A
instabilidade nas cotações do dólar tem efeito sobre o preço dessas
mercadorias.
Isso porque os componentes
oriundos da Ásia, assim como
plástico e aço, são cotados em
moeda estrangeira. Quando o dólar se valoriza ante o real, o produto tende a ficar mais caro.
No segundo semestre de 2003,
houve forte pressão dos fabricantes de geladeiras por aumentos
nas tabelas. Fabricantes de TVs
também chegaram a cogitar alta
de 6% a 8% nos preços. O reajuste
foi feito de forma escalonada.
(ADRIANA MATTOS)
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