São Paulo, sábado, 10 de julho de 2004

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BRASIL X ARGENTINA

Eletrônicos e eletrodomésticos produzidos para país vizinho podem ficar à disposição do varejo brasileiro

Barreira pode beneficiar consumo interno

DA REPORTAGEM LOCAL

A trombada entre Brasil e Argentina, nas negociações que envolvem a pauta de eletrodomésticos e eletrônicos, pode beneficiar o bolso do consumidor brasileiro. A possibilidade de restrições na entrada de geladeiras e televisores no país vizinho, como quer o governo argentino, tende a elevar o volume de eletroeletrônicos à disposição no varejo brasileiro.
E, quanto maior a oferta, menor a pressão sobre os preços.
Na prática, o que ocorre é o seguinte: os fabricantes nacionais já têm fechado seu plano de produção para o segundo semestre. Tanto que esses fornecedores no Brasil já finalizaram contratos de compra de matéria-prima importada da Ásia para a produção nos próximos dois a três meses.
Por isso, se os compradores argentinos puderem se valer de uma medida restritiva para barrar a importação de itens nacionais, a questão será o que fazer com os insumos a serem destinados para a produção ao mercado vizinho neste terceiro trimestre.
Com mais matéria-prima nas fábricas, a produção tende a aumentar, e essas mercadorias prontas precisam ser destinadas para algum mercado.
"A indústria precisa ou rever seus contratos de entrega de insumos e de produção, se ainda for possível, ou vender mais aqui dentro. Se destinar os produtos para o mercado interno, e a oferta aumentar, então a pressão por reajustes pode ser menor", diz Valdemir Colleone, superintendente da rede Lojas Cem.
Atualmente, há navios vindo da Ásia para atender os contratos de fornecimento de componentes para a indústria brasileira. A negociação foi fechada há mais de dois meses. Parte desses insumos atenderá encomendas já negociadas com a Argentina.
A determinação do governo argentino de restringir a importação de eletrodomésticos e eletrônicos ainda precisa ser regulamentada. Ela não está em vigência oficialmente. Isso, em parte, tranqüiliza os empresários do setor, apurou a Folha.
De qualquer forma, já há reações para evitar perdas nas contas das companhias. A Semp Toshiba informou nesta semana que parou de negociar novos contratos com importadores argentinos até que a pendenga se resolva.
Não ficou claro até agora, nas declarações do governo argentino, se será imediata a aplicação da medida de restrição de importações -quando e se for regulamentada. Ou se os contratos em vigor de entrega de mercadorias já vendidas serão respeitados.
As vendas para a Argentina representam cerca de 26% das exportações de fogões, geladeiras e lavadoras de roupas do setor.

Reflexo no bolso
A possibilidade de uma maior oferta de eletrônicos e de eletrodomésticos no mercado interno, caso seja ratificada a restrição argentina, terá reflexos no preço dos itens no Brasil. Ele pode cair se a oferta de mercadorias subir.
Por outro lado, o risco de uma subida nos preços continua. A instabilidade nas cotações do dólar tem efeito sobre o preço dessas mercadorias.
Isso porque os componentes oriundos da Ásia, assim como plástico e aço, são cotados em moeda estrangeira. Quando o dólar se valoriza ante o real, o produto tende a ficar mais caro.
No segundo semestre de 2003, houve forte pressão dos fabricantes de geladeiras por aumentos nas tabelas. Fabricantes de TVs também chegaram a cogitar alta de 6% a 8% nos preços. O reajuste foi feito de forma escalonada.
(ADRIANA MATTOS)


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