|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Amorim vê "dores do crescimento"
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
"São as dores do crescimento",
disse o ministro Celso Amorim
(Relações Exteriores) ontem sobre a decisão da Argentina de impor barreiras à importação de geladeiras, lavadoras e fogões brasileiros e o tom duro que vem sendo
usado pelo país vizinho, inclusive
pelo presidente Néstor Kirchner.
Mantendo o tom complacente,
apesar das cobranças internas, ele
disse que a disputa só existe "em
decorrência da intensidade das
relações".
A Argentina é o segundo parceiro comercial do Brasil, voltou a
crescer depois de intensa crise interna e, pela primeira vez, desde
1995, deixa de ser superavitária
nas trocas com o Brasil.
Comparando a competição
Brasil-Argentina com a vivida entre Estados Unidos e Canadá, o
ministro ironizou: "Nós não teríamos um contencioso com o Camboja, por exemplo. Se é para ter,
que seja com países competitivos,
como a Argentina".
Muito questionado sobre a atitude considerada excessivamente
polida e passiva em relação às
barreiras anunciadas pelos argentinos de forma inesperada e a dois
dias de uma visita do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva ao país,
Amorim disse, em entrevista coletiva, que "não há complacência"
e provocou os que desejam uma
reação mais incisiva.
"Tem gente querendo ver guerra comercial onde nós [governo]
não vemos. Nós vemos tudo isso
como coisa natural que precisa
ser tratada com maturidade e paciência. É preciso acomodar certos interesses", disse.
Cautela
Durante toda a entrevista, no
seu gabinete do Itamaraty, no
meio da tarde, Amorim foi cauteloso e se esforçou para demonstrar compreensão com os problemas e com a decisão argentina.
Lembrou que as exportações
brasileiras dos produtos da chamada "linha branca" vêm crescendo muito para a Argentina,
em torno de 70% a 80% só neste
ano, e que há, "naturalmente", alguma ansiedade desse setor.
"Até porque é um dos poucos
setores do país com capital nacional", fez questão de frisar.
Amorim, porém, admitiu a hipótese de o governo Kirchner rever a imposição de barreiras a
partir de uma reunião na próxima
quarta-feira entre empresários
dos dois países, com mediação do
Ministério do Desenvolvimento e
apoio do Itamaraty.
"Se não fosse para mexer, não
haveria reunião nenhuma", disse
o ministro, fazendo "uma aposta
no otimismo".
OMC em Paris
O ministro estava com viagem
marcada ontem mesmo para Paris, onde se encontra, hoje e amanhã, com representantes do chamado NG5, o "não-grupo", ou
grupo informal, que reúne Brasil,
Índia, Austrália, Estados Unidos e
União Européia em torno de um
dos temas mais sensíveis da OMC
(Organização Mundial do Comércio): agricultura.
Ele também terá café da manhã
à parte com o comissário da UE,
Pascal Lamy, em torno do tema
agricultura e da possibilidade
crescente de os europeus recuarem nos subsídios agrícolas.
Na pauta das duas reuniões, o
que os negociadores chamam de
três pilares das negociações na
área de agricultura: subsídios às
exportações; subsídios à produção interna; acesso a mercados.
De Paris, Amorim irá às Ilhas
Maurício, na África, para um encontro do G90 -os países mais
pobres, que representam mais da
metade da OMC e que também
pressionam pelo fim dos subsídios agrícolas dos países ricos.
Um dos acertos mais difíceis na
área agrícola é conseguir um "paralelismo" entre a UE e os EUA.
Os europeus querem relaxar os
subsídios, mas com o compromisso de os americanos seguirem
o mesmo caminho. Até agora,
não há esse compromisso.
De acordo com Amorim, as
conversas sobre a Alca (Área de
Livre Comércio das Américas)
também serão retomadas: "Terão
que ser reativadas as negociações.
E é fácil. Basta retomar o arcabouço de Miami [em que ficaram
acertadas negociações básicas para todos, com possibilidades de
flexibilização em blocos ou bilateralmente]".
Amorim provocou os EUA com
uma comparação: "Os anglo-saxões [americanos] têm fama de
serem mais pragmáticos, mas estão sendo mais doutrinários do
que os europeus".
Depois, foi diplomático: "Mas
não quero botar a culpa [pelo emperramento da Alca] em ninguém".
Texto Anterior: Empresários argentinos não esperam acordo Próximo Texto: Comércio exterior: OMC decide adiar encontro sobre negociações agrícolas em Genebra Índice
|