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COMÉRCIO EXTERIOR
Desvalorização da moeda norte-americana fez indústrias reajustarem tabelas para clientes externos
Exportador eleva preços para compensar dólar fraco
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A choradeira da indústria em
torno do tombo do dólar diante
do real -que faz as exportações
perderem competitividade- vai
ter de baixar o tom. Os resultados
do setor no semestre vão mostrar
que aumentos de preços, em dólares, promovidos lá fora, deram
alívio para as companhias.
Além disso, a desistência de empresas "oportunistas" em continuar a explorar o mercado externo abriu mais espaço para os grupos tradicionais ganharem mais
dinheiro no exterior.
Os casos pipocam pelo mercado
e devem aparecer nos balancetes
do segundo trimestre. Alimentos,
calçados e automóveis são exemplos disso. Os fabricantes de calçados venderam, de janeiro a
maio, volumes menores para as
lojas no exterior -a queda foi de
10% em relação a 2004, segundo a
Abicalçados, entidade do setor.
Os fornecedores do Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul, sentiram mais o baque. Na contramão
dessa queda, o faturamento subiu
-alta de 8% nos cinco primeiros
meses do ano- em conseqüência
do preço mais salgado pago pelos
estrangeiros.
No ano, o preço médio ficou em
US$ 8,54 -em 2004 estava em
US$ 7,09. Bom para a empresa e
para a balança comercial, diz a
Abicalçados. Se mantivesse o valor do ano passado, as empresas
estariam recebendo hoje R$ 17,22
pela unidade vendida. Com o aumento, passaram a embolsar R$
20,83 por sapato.
"Fuga" de competidores
Nos automóveis, a situação é
muito parecida. De janeiro a
maio, as empresas exportaram
309 mil unidades entre carros, caminhões e ônibus (pouco mais de
63 mil foram de carros populares). Nesse ano, eles foram vendidos por US$ 11,2 mil lá fora -preço médio de janeiro a maio, segundo dados do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. No ano passado,
custavam menos: US$ 10,4 mil.
Não só os volumes batem recordes -até junho a alta nas exportações é de 41%- como o reajuste é superior ao promovido neste
ano pelas montadoras no mercado interno, quando a taxa variou
de 1,5% a 2%. Das exportações do
setor automotivo, 87% são transacionadas em dólares.
No setor de alimentos, a situação tende a se repetir, mas dentro
de outro contexto. A Sadia constatou que há "fuga" de competidores ocasionais do mercado exportador devido ao enfraquecimento do dólar. O que era interessante no passado, quando o dólar
beirava R$ 3 em junho de 2004,
passou a ser menos lucrativo.
Com isso, as grandes empresas,
que se mantiveram atuando no
exterior, principalmente Ásia e
Rússia, vão ganhar mais mercado.
"Os preços internacionais tiveram recuperação por conta da redução na oferta. Sem os incentivos do câmbio, fornecedores brasileiros não-tradicionais deixaram de exportar", diz a empresa
em seu balancete do início do ano,
afirmando que "soube aproveitar
essa oportunidade".
A recuperação nas tabelas, com
os aumentos de preços, é necessária, na avaliação da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil). "As empresas têm de tentar
esse caminho de aumento de preços ou vão ter prejuízos ao final
do ano", diz João Augusto de Castro, vice-presidente da AEB.
Com freqüência, as empresas,
por meio da Fiesp e de associações empresariais, fazem sérias
críticas à queda do dólar e pressionam por uma intervenção do
governo para elevar a cotação.
O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, disse
recentemente que "o dólar baixo
prejudica as exportações de vários setores, mas isso não muda a
meta porque há compensações".
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