São Paulo, domingo, 10 de julho de 2005

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COMÉRCIO EXTERIOR

Desvalorização da moeda norte-americana fez indústrias reajustarem tabelas para clientes externos

Exportador eleva preços para compensar dólar fraco

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A choradeira da indústria em torno do tombo do dólar diante do real -que faz as exportações perderem competitividade- vai ter de baixar o tom. Os resultados do setor no semestre vão mostrar que aumentos de preços, em dólares, promovidos lá fora, deram alívio para as companhias.
Além disso, a desistência de empresas "oportunistas" em continuar a explorar o mercado externo abriu mais espaço para os grupos tradicionais ganharem mais dinheiro no exterior.
Os casos pipocam pelo mercado e devem aparecer nos balancetes do segundo trimestre. Alimentos, calçados e automóveis são exemplos disso. Os fabricantes de calçados venderam, de janeiro a maio, volumes menores para as lojas no exterior -a queda foi de 10% em relação a 2004, segundo a Abicalçados, entidade do setor.
Os fornecedores do Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul, sentiram mais o baque. Na contramão dessa queda, o faturamento subiu -alta de 8% nos cinco primeiros meses do ano- em conseqüência do preço mais salgado pago pelos estrangeiros.
No ano, o preço médio ficou em US$ 8,54 -em 2004 estava em US$ 7,09. Bom para a empresa e para a balança comercial, diz a Abicalçados. Se mantivesse o valor do ano passado, as empresas estariam recebendo hoje R$ 17,22 pela unidade vendida. Com o aumento, passaram a embolsar R$ 20,83 por sapato.

"Fuga" de competidores
Nos automóveis, a situação é muito parecida. De janeiro a maio, as empresas exportaram 309 mil unidades entre carros, caminhões e ônibus (pouco mais de 63 mil foram de carros populares). Nesse ano, eles foram vendidos por US$ 11,2 mil lá fora -preço médio de janeiro a maio, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. No ano passado, custavam menos: US$ 10,4 mil.
Não só os volumes batem recordes -até junho a alta nas exportações é de 41%- como o reajuste é superior ao promovido neste ano pelas montadoras no mercado interno, quando a taxa variou de 1,5% a 2%. Das exportações do setor automotivo, 87% são transacionadas em dólares.
No setor de alimentos, a situação tende a se repetir, mas dentro de outro contexto. A Sadia constatou que há "fuga" de competidores ocasionais do mercado exportador devido ao enfraquecimento do dólar. O que era interessante no passado, quando o dólar beirava R$ 3 em junho de 2004, passou a ser menos lucrativo.
Com isso, as grandes empresas, que se mantiveram atuando no exterior, principalmente Ásia e Rússia, vão ganhar mais mercado.
"Os preços internacionais tiveram recuperação por conta da redução na oferta. Sem os incentivos do câmbio, fornecedores brasileiros não-tradicionais deixaram de exportar", diz a empresa em seu balancete do início do ano, afirmando que "soube aproveitar essa oportunidade".
A recuperação nas tabelas, com os aumentos de preços, é necessária, na avaliação da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil). "As empresas têm de tentar esse caminho de aumento de preços ou vão ter prejuízos ao final do ano", diz João Augusto de Castro, vice-presidente da AEB.
Com freqüência, as empresas, por meio da Fiesp e de associações empresariais, fazem sérias críticas à queda do dólar e pressionam por uma intervenção do governo para elevar a cotação.
O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, disse recentemente que "o dólar baixo prejudica as exportações de vários setores, mas isso não muda a meta porque há compensações".

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