São Paulo, sábado, 10 de agosto de 2002

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Socorro à Argentina não deve passar de US$ 7 bi

DE BUENOS AIRES

O acordo que a Argentina estaria prestes a fechar com o FMI seria de cerca de US$ 7 bilhões, o suficiente apenas para que o país honre seus compromissos com a própria instituição e com outros organismos multilaterais no próximo ano. A informação, de acordo com a agência Reuters, foi revelada por uma autoridade do G7 (grupo dos sete países mais industrializados).
"A Argentina não espera um grande pacote", disse a autoridade, que falou sob a condição de manter o anonimato. "A solução será a renegociação da dívida privada, mas o país tem grandes débitos com FMI, BID e Bird."
O acordo que o presidente argentino, Eduardo Duhalde, promete assinar "em dias ou semanas" deve incluir metas a serem cumpridas pelo próximo presidente, que assumirá em maio. O esboço da carta de intenções prevê, segundo o jornal "La Nación", uma meta de superávit primário de 0,6% do PIB para este ano e de 2% para 2003.
O documento também estima que o PIB argentino vai recuar 13,5% em 2002, mas apresentaria um crescimento de 3% no próximo ano devido, principalmente, ao efeito positivo da desvalorização cambial sobre as exportações.
Os números já foram apresentados pelo secretário de Fazenda, Jorge Sarghini, aos técnicos do FMI que estão no país para revisar as contas fiscais do país. Na próxima semana, os dados serão avaliados pela diretoria do Fundo.
Para o acordo ampliado, que poderia incluir um empréstimo novo de US$ 15 bilhões, o próximo governo deverá realizar uma reforma tributária e alterar a lei que estabelece o repasse das verbas federais às Províncias criando sanções aos governadores que gastam mais do que arrecadam.
O governo Duhalde foi abalado ontem por uma onda de renúncias em cargos importantes. O secretário de Agricultura, Rafael Delpech, renunciou após ser alvo de protesto durante o fim de semana devido ao imposto de 20% sobre as exportações agrícolas. No final da tarde, foi a vez do superintendente de Bancos do Banco Central, Felipe Murolo, entregar seu pedido de demissão.
Anteontem, o substituído foi o secretário de Energia, Alieto Guadagni, que estava em conflito com empresários sobre o preço dos combustíveis. Após a confirmação de sua saída, o governo anunciou que vai subir o imposto sobre o transporte dos combustíveis e convocou as empresas de serviços públicos a fazerem proposta para o reajuste das tarifas.
A Justiça italiana bloqueou ontem um empréstimo de 2,59 milhões que seria liberado pelo governo do país à Argentina. Os recursos ficarão na Itália como garantia de que credores do país receberão o pagamento da dívida externa argentina, que está suspenso desde dezembro.
O arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, disse ontem que os argentinos devem parar de "rezar" para o FMI porque isso não ajuda o país a se recuperar de sua maior crise da história. "Não vamos a lugar nenhum, simplesmente nos endividaríamos ainda mais", disse. (JS)


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