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OPINIÃO ECONÔMICA
Confiamos neles
BENJAMIN STEINBRUCH
Cruzo os dedos para que,
dentro de duas semanas, no
dia 23, lá pelas quatro horas da
tarde, todo o Brasil esteja parado
diante da televisão. Se tudo correr
bem, nesse dia a ginasta Daiane
dos Santos disputará a final da
prova de solo, sua especialidade,
na Olimpíada de Atenas.
Caso ganhe uma medalha, essa
gauchinha de 1,45 m de altura
conseguirá um registro inédito
tanto para o esporte brasileiro
quanto para os Jogos Olímpicos.
Pela primeira vez, uma atleta negra subirá ao pódio olímpico na
ginástica artística.
Daiane é, na verdade, uma esperança de medalha de ouro na
Olimpíada que começa na sexta-feira. Mas, salvo casos isolados como esse, o Brasil entra nos Jogos
ainda com poucas chances de
apresentar um desempenho esportivo digno do tamanho do
país.
O futebol e o basquete masculino não conseguiram classificação, e só as meninas nos representarão nessas duas tradicionais
modalidades. Vôlei masculino e
feminino, basquete feminino, futebol feminino, vela, salto triplo,
natação, judô e equitação, entre
outras modalidades, também podem trazer medalhas.
De qualquer forma, as conquistas continuarão sendo mais decorrência de determinação e perseverança individual de atletas e
treinadores obstinados do que de
organização e apoio oficial ao esporte.
Comparado com o de outros
países, o apoio brasileiro aos esportes olímpicos é ainda inexpressivo. Os Estados Unidos, por
exemplo, destinaram recursos públicos da ordem de US$ 500 milhões às modalidades olímpicas
nos últimos quatro anos, quase
dez vezes mais do que o Brasil.
Tudo bem, nada a reclamar.
Não se podem exigir mais recursos para desenvolver novas modalidades, dadas as dificuldades
enfrentadas pelo país nos últimos
anos. Mas também é inaceitável o
retrocesso observado nos esportes
olímpicos brasileiros. Em Sydney,
quatro anos atrás, mesmo ressalvada a má sorte de alguns atletas,
a verdade é que o país regrediu
mais de 20 anos em matéria de
conquistas. Desde 1976, em Montréal, foi a primeira vez em que o
Brasil saiu de uma Olimpíada
sem nenhuma medalha de ouro.
O país foi o 52º colocado no quadro geral de medalhas.
Todos se lembram das tristes
madrugadas de Sydney. O cavalo
Baloubet du Rouet, que, aliás,
volta a competir em Atenas, refugou ao saltar os últimos obstáculos, que dariam a medalha de ouro a Rodrigo Pessoa. O futebol
caiu nas quartas-de-final diante
de nove valentes camaroneses,
derrotado pela empáfia de um time que se considerava campeão
por antecipação. O velejador Robert Scheidt foi vítima de manobras "agressivas" do britânico
Ben Ainslie e perdeu o ouro na regata final. O vôlei de praia, masculino e feminino, também caiu
na final.
O esporte é um negócio bilionário. A Olimpíada de Atenas, que
exigiu investimentos de US$ 12 bilhões da Grécia, será vista por 2,5
bilhões de pessoas pelo mundo.
Estima-se que os patrocínios esportivos alcancem US$ 26 bilhões
por ano em todo o mundo.
Mas o fator econômico do esporte não é o mais importante.
Não custa lembrar que a prática
do esporte ajuda na formação dos
jovens e, bem direcionada, proporciona vida saudável para as
pessoas de todas as idades. Além
disso, conquistas esportivas são
fundamentais para um país porque despertam a auto-estima e o
nacionalismo sadio, aquele que
não tem vergonha de cantar hinos e balançar bandeiras, sem o
que não se vai a lugar nenhum
em matéria de desenvolvimento
de uma nação.
Ganhar ou perder é uma contingência do esporte. Mas há, sem
dúvida, muita responsabilidade
sobre os ombros da pequena
Daiane dos Santos e dos demais
244 atletas brasileiros que participam das Olimpíadas. Confiamos
neles.
Benjamin Steinbruch, 50, empresário,
é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e presidente do conselho de administração da empresa.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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