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LUÍS NASSIF
Mais investimento externo
Lá por volta de 1997 ou
1998, fiz uma provocação
pela coluna acerca da teoria
dos déficits gêmeos. Base teórica das loucuras cambiais do
primeiro governo Fernando
Henrique Cardoso, dizia-se
que bastaria o equilíbrio fiscal
para obter, automaticamente,
o equilíbrio externo -sendo
que o equilíbrio fiscal tratava
de reais, e as contas externas,
de dólares. Filtrados os e-mails
recebidos, com argumentos
contra e a favor, ficava claro
que não existia relação automática entre ambos os déficits.
Repito a provocação, agora,
em relação aos investimentos
externos. A hipótese -exposta
na coluna de sábado- é que o
investimento externo que entra no país, capital de curto
prazo ou mesmo de investimento, em lugar de ampliar o
crédito, provoca efeito substituição. Os dólares são convertidos em reais, o Banco Central
emite títulos para enxugar esse
excesso de moeda, com dois
efeitos:
1) ao montante de crédito
que entra para o país do dólar,
há a redução correspondente
do montante de crédito disponível para o país do real, que
foi enxugado pelo Banco Central;
2) como o investimento externo provoca aumento da dívida pública, acarreta aumento de impostos para compensar o aumento da dívida, e o
aumento dos juros, para rolar
a dívida.
O investimento direto externo é importante pela tecnologia que transfere, pelos produtos que produz, pelo emprego
que gera (de qualificação mais
alta). O que se está discutindo
é a tese de que a poupança externa é complementar à interna. O que sustento é que não
apenas não é complementar
como é substituta do crédito
interno. E a soma final é negativa para o país. Ou seja, pegando o que o Brasil em dólar
ganha com a captação e descontando o que o Brasil em
real paga (mais juros, mais
impostos, menos crédito), o resultado final, além de tremendamente concentrador de renda, é prejudicial ao país.
Vamos às primeiras observações recebidas:
Rodrigo Bresser reconhece o
efeito substituição do crédito
externo, mas observa que não
é o aumento da dívida interna
que provoca o aumento da taxa Selic, cuja formação "parece estar muito mais associada
à busca de um equilíbrio entre
o produto existente e potencial
e à tentativa de acelerar ou reduzir o processo de formação
de preços". Lembro que, desde
o Plano Real, todas as manifestações inflacionárias tiveram como foco central o câmbio. E todas as oscilações cambiais tiveram como espoleta ou
a arbitragem entre as taxas de
juros interna e externa ou a fuga de capitais. Como lembra
Luiz Fernando Soares Brandão, além do efeito substituição, o endividamento em dólares leva a uma pressão por
hedge toda vez que há receio
de uma grande desvalorização
cambial, obrigando o Banco
Central a emitir títulos cambiais, impactando ainda mais
a dívida pública.
Trabalhos acadêmicos
O professor Luiz Carlos Bresser Pereira, da FGV-SP, e Gerson Lima e Patrícia Hartmann, do Departamento de
Economia da Universidade
Federal do Paraná, encaminham "papers" acadêmicos
que escreveram sobre o tema.
Por falta de espaço, volto
oportunamente ao tema.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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