São Paulo, terça-feira, 10 de agosto de 2004

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LUÍS NASSIF

Mais investimento externo

Lá por volta de 1997 ou 1998, fiz uma provocação pela coluna acerca da teoria dos déficits gêmeos. Base teórica das loucuras cambiais do primeiro governo Fernando Henrique Cardoso, dizia-se que bastaria o equilíbrio fiscal para obter, automaticamente, o equilíbrio externo -sendo que o equilíbrio fiscal tratava de reais, e as contas externas, de dólares. Filtrados os e-mails recebidos, com argumentos contra e a favor, ficava claro que não existia relação automática entre ambos os déficits.
Repito a provocação, agora, em relação aos investimentos externos. A hipótese -exposta na coluna de sábado- é que o investimento externo que entra no país, capital de curto prazo ou mesmo de investimento, em lugar de ampliar o crédito, provoca efeito substituição. Os dólares são convertidos em reais, o Banco Central emite títulos para enxugar esse excesso de moeda, com dois efeitos:
1) ao montante de crédito que entra para o país do dólar, há a redução correspondente do montante de crédito disponível para o país do real, que foi enxugado pelo Banco Central;
2) como o investimento externo provoca aumento da dívida pública, acarreta aumento de impostos para compensar o aumento da dívida, e o aumento dos juros, para rolar a dívida.
O investimento direto externo é importante pela tecnologia que transfere, pelos produtos que produz, pelo emprego que gera (de qualificação mais alta). O que se está discutindo é a tese de que a poupança externa é complementar à interna. O que sustento é que não apenas não é complementar como é substituta do crédito interno. E a soma final é negativa para o país. Ou seja, pegando o que o Brasil em dólar ganha com a captação e descontando o que o Brasil em real paga (mais juros, mais impostos, menos crédito), o resultado final, além de tremendamente concentrador de renda, é prejudicial ao país.
Vamos às primeiras observações recebidas:
Rodrigo Bresser reconhece o efeito substituição do crédito externo, mas observa que não é o aumento da dívida interna que provoca o aumento da taxa Selic, cuja formação "parece estar muito mais associada à busca de um equilíbrio entre o produto existente e potencial e à tentativa de acelerar ou reduzir o processo de formação de preços". Lembro que, desde o Plano Real, todas as manifestações inflacionárias tiveram como foco central o câmbio. E todas as oscilações cambiais tiveram como espoleta ou a arbitragem entre as taxas de juros interna e externa ou a fuga de capitais. Como lembra Luiz Fernando Soares Brandão, além do efeito substituição, o endividamento em dólares leva a uma pressão por hedge toda vez que há receio de uma grande desvalorização cambial, obrigando o Banco Central a emitir títulos cambiais, impactando ainda mais a dívida pública.

Trabalhos acadêmicos
O professor Luiz Carlos Bresser Pereira, da FGV-SP, e Gerson Lima e Patrícia Hartmann, do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná, encaminham "papers" acadêmicos que escreveram sobre o tema. Por falta de espaço, volto oportunamente ao tema.

E-mail -
Luisnassif@uol.com.br


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