São Paulo, terça-feira, 10 de agosto de 2004

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VIZINHO EM CRISE

Argentina estuda forma de pagamento a organismos multilaterais

Lavagna pode pagar dívida com reserva

DE BUENOS AIRES

O governo argentino ainda não definiu como será feito o pagamento ao FMI (Fundo Monetário Internacional) enquanto durar a suspensão das revisões do acordo de US$ 13,8 bilhões assinado em setembro. O Ministério da Economia estuda utilizar as reservas internacionais para manter os compromissos com os organismos internacionais de crédito.
Ontem, o ministro da Economia, Roberto Lavagna, confirmou que não está suspenso o acordo com o Fundo, mas apenas adiadas as revisões das metas acertadas com o organismo.
"Se não terminaram a revisão do mês de julho, a posição do governo argentino é a de que não deve haver revisão em setembro, porque afetaria a oferta aos credores privados", disse Lavagna.
O governo crê que as pressões do FMI para aumentar a oferta de pagamento da dívida privada, como condição para aprovar as revisões, atrapalhem as negociações com os credores, que se sentem respaldados pelo Fundo.
Uma das possibilidades estudadas no governo é usar as reservas para continuar pagando ao FMI durante a suspensão das revisões, para impedir que o acordo de setembro deixe de valer e para que o país não entre em "default" também com os organismos.
Até o fim do ano, a Argentina tem que pagar US$ 2,248 bilhões ao FMI, US$ 204 milhões ao Banco Mundial e US$ 275 milhões ao Banco Interamericano de Desenvolvimento, valores correspondentes a juros de empréstimos.
O país possui cerca de US$ 18 bilhões em reservas internacionais. O impacto nas reservas até o fim do ano será de US$ 2,7 bilhões. Com a suspensão das revisões, a Argentina deixa de submeter a condução da economia à aprovação do FMI até dezembro.
Isso significa que o país não terá a obrigação de reformar o sistema financeiro, renovar os contratos com as empresas privatizadas -o que implica aumento de tarifas públicas-, aumentar o superávit fiscal e a oferta de pagamento aos credores. Essas eram as principais condições para que o país pudesse continuar sacando as parcelas referentes ao acordo de US$ 13,8 bilhões.
As reservas se formam basicamente com o superávit comercial. A Argentina vem registrando saldo positivo principalmente por causa da alta do preço do petróleo e da soja no mercado internacional, dois dos principais produtos de exportação.
"Usar as reservas para pagar dívidas é perigoso, porque pode gerar inflação. O ideal seria pagar dívidas com superávit fiscal. Mas o impacto nas reservas não será muito grande, portanto a estratégia é sustentável. A inflação está controlada em cerca de 5% ao ano", disse o professor de macroeconomia da Universidade de Buenos Aires Eduardo Conesa.
Segundo ele, para evitar a inflação, a Argentina teria que pagar seus compromissos com o dinheiro que economiza. A arrecadação do governo tem batido recordes por causa do dinheiro obtido com impostos de exportação, que estão em alta.
Em 2003, o país cresceu 8,7%, e, neste ano, o governo espera expansão de 6%. Mas as despesas do governo também estão aumentando. Neste ano, o gasto público da administração nacional cresceu 9% acima do Orçamento aprovado em 2003 no Congresso, segundo o jornal "La Nación".
(CLÁUDIA DIANNI)


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