São Paulo, terça-feira, 10 de agosto de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAFRA

Cerca de 30% dos grãos caíram

Cafeicultor de SP perde com excesso de chuva

Juca Varella/Folha Imagem
Trabalhador rural varre café em Espírito Santo do Pinhal (SP); chuvas em excesso no inverno deram prejuízo aos agricultores


MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPINAS

Os cafeicultores de Espírito Santo do Pinhal (202 km de São Paulo), na região de Campinas e ao norte do Estado, somam os prejuízos com a safra deste ano com a queda da qualidade dos grãos motivada pela alta quantidade de chuva neste inverno. Por isso, o produto já está sendo chamado de "café chuvado".
A cidade investe na qualidade dos grãos do tipo arábica, devido à altitude e ao clima da região, para exportar para países como Estados Unidos, Alemanha e Itália. A saca, que era vendida por R$ 240, hoje chega a ser cotada por apenas R$ 180.
A queda da qualidade ocorreu por causa das fortes chuvas que derrubaram cerca de 30% dos grãos. A produção da região representa cerca de 10% do que é colhido no Estado (por volta de 2,5 milhões de sacas), segundo os cafeicultores.
"O grão de café que cai no chão sofre uma maior fermentação, e isso afeta a qualidade da bebida. O café tem que ser colhido no pé para dar um bom fruto", disse o agrônomo Ezelino Mateus Tessarini, da Coopinhal (Cooperativa dos Cafeicultores de Espírito Santo do Pinhal).
Conforme os índices medidos pelos produtores, de janeiro até o final de junho choveu o mesmo volume do que era esperado para o ano inteiro. A média é de 1.500 ml por ano, mas apenas nos seis primeiros meses deste ano choveu 1.400 ml.

Alta qualidade
O café produzido em Espírito Santo do Pinhal é considerado de alta qualidade por causa da altitude da região -entre 850 metros e 1.200 metros acima do nível do mar-, que é ideal para o plantio da cultura, pois a temperatura é mais baixa e o fruto é secado mais lentamente. "Isso faz com que o fruto fique mais doce e encorpado", disse o agrônomo.
O excesso de chuva também elevou os custos da produção, atrasou a colheita e inviabilizou o retorno dos investimentos dos agricultores. A região tem cerca de 600 produtores de café.
A previsão é que a colheita seja de 220 mil sacas -30 mil sacas a menos do que a média anual. Além disso, a colheita, que normalmente começa em maio, teve atraso de um mês.
Segundo o presidente da cooperativa de produtores, Manoel Carlos Gonçalves, ao derrubar parte dos grãos de café no chão, a chuva acabou provocando a elevando dos custos.
"Isso exige que os produtores contratem mais mão-de-obra para realizar duas colheitas: a dos grãos caídos e a dos que permaneceram nos cafeeiros."

Custos sobem 30%
Pelo menos 5.000 pessoas trabalham na colheita, que, neste ano, começou em junho e vai durar até setembro. Pelo fato de a região ser montanhosa e acidentada, praticamente toda a colheita é feita manualmente.
Segundo Gonçalves, os custos aumentaram 30% com a dupla colheita. Além do campo, os prejuízos também estão no mercado, principalmente o externo, porque alguns compradores já cancelaram as compras devido à baixa qualidade dos grãos.
A safra do meio do ano é quando o Brasil costuma registrar aumento nas exportações, já que em outros países ela só começa em outubro.


Texto Anterior:
Agrofolha
Produção: Colheita do milho safrinha despenca no PR

Próximo Texto: Grãos ficam sem qualidade, afirma produtor
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.