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INFLAÇÃO
Antes restrito aos alimentos, reflexo do câmbio se espalha por quase todos os setores, e IPCA vai a 0,72% em setembro
Impacto do dólar se dissemina pelos preços
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
A alta do dólar chegou com força à inflação e fez o IPCA (Índice
de Preços ao Consumidor) subir
em setembro: a taxa ficou em
0,72% -acima dos 0,65% de
agosto. Foi a maior taxa para um
mês de setembro desde 1995,
quando ficara em 0,99%.
Segundo Eulina Nunes dos Santos, técnica do Departamento de
Preços do IBGE, o impacto do dólar se disseminou por quase todos
os preços, diferentemente dos
meses anteriores, quando havia
ficado restrito aos alimentos.
O dólar mais caro também fez
subir a inflação acumulada no
ano. Até setembro de 2002, a taxa
somou 5,6%, superando os 5,35%
do mesmo período de 2001.
Economistas ouvidos pela Folha revisaram suas previsões para
cima e projetam uma inflação entre 7,5% e 8% em 2002. Se confirmada a estimativa, a taxa ficará
ainda abaixo do limite máximo
acertado com o FMI (Fundo Monetário Internacional), de 9% para este ano.
Sob influência do dólar, subiram os preços dos eletrodomésticos (1,90%), artigos de higiene
pessoal (1,89%) e de limpeza
(1,73%). Todos esses produtos
têm insumos importados.
Também continuaram em alta
por causa do câmbio alimentos
como o óleo de soja (14,23%), farinha de trigo (10,71%), frango
(5,26%) e carnes (2,30%). O pão
francês, que já havia aumentado
9,70% em agosto, subiu mais
2,68% em setembro.
Para Eulina, o fato de o dólar
permanecer em alta por um longo
período fez os aumentos chegarem ao consumidor.
"Foi uma pressão continuada.
No início, o empresário não repassava [a variação do câmbio]
porque espera um recuo. Mas
agora ficou inevitável."
Segundo o economista Marcelo
Cypriano, do BankBoston, o repasse do câmbio deve continuar
nos próximos meses. "Existem
muitos preços atrasados, o que indica novos repasses", disse.
Por conta desse movimento,
Cypriano estima que o IPCA fique
próximo a 1% tanto em outubro
como em novembro. Para o final
do ano, prevê uma taxa de 8%.
Núcleo maior
Prova do contágio do câmbio é
o aumento do chamado núcleo da
inflação, que exclui as maiores e
as menores variações de preço. O
índice, segundo o Lloyds TSB, subiu de 0,65% em agosto para
0,77% em setembro.
"Mesmo sem os aumentos de
tarifas, a inflação subiu em setembro, e o núcleo, também. Isso
aponta uma tendência de um período de alta da inflação. O próximo governo sofrerá com essa alta
logo nos primeiros meses, o que
reduzirá sua margem para cortar
a taxa de juro", disse o economista Wilson Ramião, do Lloyds.
Mais contágio
Mesmo que a cotação do dólar
recue após as eleições, Ramião
considera que ainda existirá espaço para contágio do câmbio, pois
os aumentos no atacado estão
muito represados.
Diferentemente de julho e agosto, não houve em setembro uma
concentração de reajustes de tarifas, o que vinha fazendo a inflação
subir. Os preços administrados
dessa vez tiveram efeito inverso: a
queda de 7,61% do preço do gás
de cozinha teve um impacto negativo no IPCA de 0,13 ponto percentual, o que evitou uma alta ainda maior do índice.
A redução do preço do gás se
deve à queda de 12,4% do preço
do produto na refinaria em 19 de
agosto.
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