São Paulo, quinta-feira, 10 de outubro de 2002

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INFLAÇÃO

Antes restrito aos alimentos, reflexo do câmbio se espalha por quase todos os setores, e IPCA vai a 0,72% em setembro

Impacto do dólar se dissemina pelos preços

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

A alta do dólar chegou com força à inflação e fez o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor) subir em setembro: a taxa ficou em 0,72% -acima dos 0,65% de agosto. Foi a maior taxa para um mês de setembro desde 1995, quando ficara em 0,99%.
Segundo Eulina Nunes dos Santos, técnica do Departamento de Preços do IBGE, o impacto do dólar se disseminou por quase todos os preços, diferentemente dos meses anteriores, quando havia ficado restrito aos alimentos.
O dólar mais caro também fez subir a inflação acumulada no ano. Até setembro de 2002, a taxa somou 5,6%, superando os 5,35% do mesmo período de 2001.
Economistas ouvidos pela Folha revisaram suas previsões para cima e projetam uma inflação entre 7,5% e 8% em 2002. Se confirmada a estimativa, a taxa ficará ainda abaixo do limite máximo acertado com o FMI (Fundo Monetário Internacional), de 9% para este ano.
Sob influência do dólar, subiram os preços dos eletrodomésticos (1,90%), artigos de higiene pessoal (1,89%) e de limpeza (1,73%). Todos esses produtos têm insumos importados.
Também continuaram em alta por causa do câmbio alimentos como o óleo de soja (14,23%), farinha de trigo (10,71%), frango (5,26%) e carnes (2,30%). O pão francês, que já havia aumentado 9,70% em agosto, subiu mais 2,68% em setembro.
Para Eulina, o fato de o dólar permanecer em alta por um longo período fez os aumentos chegarem ao consumidor.
"Foi uma pressão continuada. No início, o empresário não repassava [a variação do câmbio] porque espera um recuo. Mas agora ficou inevitável."
Segundo o economista Marcelo Cypriano, do BankBoston, o repasse do câmbio deve continuar nos próximos meses. "Existem muitos preços atrasados, o que indica novos repasses", disse.
Por conta desse movimento, Cypriano estima que o IPCA fique próximo a 1% tanto em outubro como em novembro. Para o final do ano, prevê uma taxa de 8%.

Núcleo maior
Prova do contágio do câmbio é o aumento do chamado núcleo da inflação, que exclui as maiores e as menores variações de preço. O índice, segundo o Lloyds TSB, subiu de 0,65% em agosto para 0,77% em setembro.
"Mesmo sem os aumentos de tarifas, a inflação subiu em setembro, e o núcleo, também. Isso aponta uma tendência de um período de alta da inflação. O próximo governo sofrerá com essa alta logo nos primeiros meses, o que reduzirá sua margem para cortar a taxa de juro", disse o economista Wilson Ramião, do Lloyds.

Mais contágio
Mesmo que a cotação do dólar recue após as eleições, Ramião considera que ainda existirá espaço para contágio do câmbio, pois os aumentos no atacado estão muito represados.
Diferentemente de julho e agosto, não houve em setembro uma concentração de reajustes de tarifas, o que vinha fazendo a inflação subir. Os preços administrados dessa vez tiveram efeito inverso: a queda de 7,61% do preço do gás de cozinha teve um impacto negativo no IPCA de 0,13 ponto percentual, o que evitou uma alta ainda maior do índice.
A redução do preço do gás se deve à queda de 12,4% do preço do produto na refinaria em 19 de agosto.


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