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A NOVELA DO CALOTE
Banco central reduz quantia que instituições locais podem manter aplicada nos Estados Unidos
Argentina força volta de recursos ao país
FABRICIO VIEIRA
DE BUENOS AIRES
Os bancos que operam na Argentina terão de trazer a maior
parte do dinheiro que mantêm no
Deutsche Bank de Nova York de
volta. Fortalecer o arsenal do governo no momento em que o país
se prepara para tentar reestruturar sua dívida e evitar a moratória
é a palavra de ordem.
A preocupação do governo argentino é a contínua sangria dos
depósitos bancários e das reservas
internacionais, que ganhou fôlego
nas últimas semanas.
A medida tomada pelo banco
central atinge os US$ 2,4 bilhões
que os bancos têm aplicados no
Deutsche Bank de NY. Esses recursos são parte do dinheiro que
os bancos são obrigados a manter
"imobilizados" (não podem utilizá-los para empréstimos ou reaplicá-los, por exemplo).
Até ontem, as instituições podiam manter 80% desses recursos
em NY e o resto numa conta no
banco central local. Esse percentual deve cair para cerca de 10%.
A decisão deve repatriar mais de
US$ 1,5 bilhão e aumentar as reservas do banco central argentino, que hoje estão em US$ 17,6 bilhões. Reservas maiores significam maior poder de barganha para convencer os investidores internacionais a participarem da
megatroca de títulos programada
para o início de 2002.
Analistas consultados pela Folha afirmaram que a medida também visa dar proteção à Argentina no caso de o país ir a "default"
(calote). Se isso acontecesse, investidores internacionais poderiam processar o governo argentino e pedir que a Justiça dos EUA
bloqueasse esses recursos para o
eventual pagamento das dívidas.
O aumento da perda de confiança dos argentinos na possibilidade de o país escapar da forte crise econômica fez com que os saques dos depósitos bancários superassem os US$ 3,6 bilhões somente nos últimos dez dias.
As reservas internacionais do
sistema financeiro despencaram
para o nível do início de setembro, pouco acima dos US$ 20 bilhões. Isso quer dizer que os US$ 4
bilhões emprestados pelo FMI
(Fundo Monetário Internacional)
para fortalecer as reservas no início de setembro evaporaram.
O fracasso do governo na tentativa de fechar acordo com todas as
Províncias -que equivalem aos
Estados brasileiros- na quinta-feira repercutiu no mercado: o
Merval caiu 3%, o risco-país subiu
para 2.438 pontos e o Global 2008
(título da dívida argentina mais
negociado) despencou 8%.
O ministro Domingo Cavallo
(Economia) retorna hoje à Argentina e não vai esperar o presidente
Fernando de la Rúa, que deve se
encontrar amanhã com o presidente dos EUA, George W. Bush.
Nos EUA, Cavallo se reuniu
com banqueiros para falar sobre
os planos de reestruturação da dívida do país. Fontes do Ministério
da Economia afirmam que Cavallo volta para ajudar o chefe de
Gabinete, Chrystian Colombo,
nas negociações com os governadores da oposição.
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