São Paulo, sábado, 10 de novembro de 2001

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A NOVELA DO CALOTE

Banco central reduz quantia que instituições locais podem manter aplicada nos Estados Unidos

Argentina força volta de recursos ao país

FABRICIO VIEIRA
DE BUENOS AIRES

Os bancos que operam na Argentina terão de trazer a maior parte do dinheiro que mantêm no Deutsche Bank de Nova York de volta. Fortalecer o arsenal do governo no momento em que o país se prepara para tentar reestruturar sua dívida e evitar a moratória é a palavra de ordem.
A preocupação do governo argentino é a contínua sangria dos depósitos bancários e das reservas internacionais, que ganhou fôlego nas últimas semanas.
A medida tomada pelo banco central atinge os US$ 2,4 bilhões que os bancos têm aplicados no Deutsche Bank de NY. Esses recursos são parte do dinheiro que os bancos são obrigados a manter "imobilizados" (não podem utilizá-los para empréstimos ou reaplicá-los, por exemplo).
Até ontem, as instituições podiam manter 80% desses recursos em NY e o resto numa conta no banco central local. Esse percentual deve cair para cerca de 10%.
A decisão deve repatriar mais de US$ 1,5 bilhão e aumentar as reservas do banco central argentino, que hoje estão em US$ 17,6 bilhões. Reservas maiores significam maior poder de barganha para convencer os investidores internacionais a participarem da megatroca de títulos programada para o início de 2002.
Analistas consultados pela Folha afirmaram que a medida também visa dar proteção à Argentina no caso de o país ir a "default" (calote). Se isso acontecesse, investidores internacionais poderiam processar o governo argentino e pedir que a Justiça dos EUA bloqueasse esses recursos para o eventual pagamento das dívidas.
O aumento da perda de confiança dos argentinos na possibilidade de o país escapar da forte crise econômica fez com que os saques dos depósitos bancários superassem os US$ 3,6 bilhões somente nos últimos dez dias.
As reservas internacionais do sistema financeiro despencaram para o nível do início de setembro, pouco acima dos US$ 20 bilhões. Isso quer dizer que os US$ 4 bilhões emprestados pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) para fortalecer as reservas no início de setembro evaporaram.
O fracasso do governo na tentativa de fechar acordo com todas as Províncias -que equivalem aos Estados brasileiros- na quinta-feira repercutiu no mercado: o Merval caiu 3%, o risco-país subiu para 2.438 pontos e o Global 2008 (título da dívida argentina mais negociado) despencou 8%.
O ministro Domingo Cavallo (Economia) retorna hoje à Argentina e não vai esperar o presidente Fernando de la Rúa, que deve se encontrar amanhã com o presidente dos EUA, George W. Bush.
Nos EUA, Cavallo se reuniu com banqueiros para falar sobre os planos de reestruturação da dívida do país. Fontes do Ministério da Economia afirmam que Cavallo volta para ajudar o chefe de Gabinete, Chrystian Colombo, nas negociações com os governadores da oposição.



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