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COMÉRCIO EXTERIOR
Três meses depois do impasse no México, coordenador das negociações diz que não houve avanço real
Pós-Cancún, OMC já prevê novo fracasso
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
Três meses depois do fiasco da
Conferência Ministerial de Cancún, a Organização Mundial do
Comércio viverá novo fracasso:
não será possível, até o dia 15, juntar os cacos deixados pelo encontro em Cancún, ao contrário do
que recomendava o texto final da
reunião no balneário mexicano.
"Não observei negociações reais
nem movimentos para buscar terrenos comuns, com poucas exceções", diz o embaixador uruguaio
Carlos Pérez del Castillo, presidente do Conselho Geral, o organismo que supervisiona todos os
grupos negociadores.
A avaliação do uruguaio foi feita
à Folha logo depois de encerrada
a derradeira tentativa de encontrar "terrenos comuns", em reunião dele com os chefes das delegações em Genebra, QG da OMC.
Por isso, Pérez del Castillo já
avisa que não vai apresentar no
dia 15 um texto do Conselho Geral, portanto com o consenso entre os 148 países que hoje são
membros da organização.
Apresentará só o seu próprio
documento, pessoal, dividido em
três: uma revisão dos progressos
nas duas semanas mais recentes
de negociação; a identificação do
que chama de "questões-chaves"
surgidas das consultas pós-Cancún; e o seu próprio enfoque de
como abordar tais questões.
Proporá também o reinício, em
fevereiro, das sessões dos grupos
negociadores, interrompidas desde Cancún por absoluta falta do
que negociar, ante o impasse espetacularmente evidenciado no
México e que prosseguiu depois.
"Repete-se Cancún, com a diferença de que houve avanços", disse Pérez del Castillo à Folha.
Concorda com ele o principal
negociador brasileiro para assuntos da OMC, o embaixador Clodoaldo Hugueney: "Está-se de
volta ao pré-Cancún".
Ao dizer que houve avanços, Pérez del Castillo se refere ao fato de
que as consultas, desde o México,
abordaram "os temas substantivos" e à sua avaliação de que "todos os participantes reafirmaram
seus compromissos com o sistema multilateral de comércio e
com a Rodada Doha" (convocada
na Ministerial de Doha, em 2001).
Mas são avanços dinamitados
pelos aspectos negativos apontados pelo próprio presidente do
Conselho Geral: "Essas manifestações positivas não se traduziram em posições de negociação".
De todo modo, Pérez del Castillo, em seu documento pessoal,
vai enfatizar aspectos que agradam aos países em desenvolvimento, talvez por ter sido duramente criticado por eles pelo texto (igualmente pessoal) que apresentou para Cancún.
Exemplo: limitará os temas de
Cingapura a apenas dois, os menos controvertidos, como facilitação de negócios e transparência
nas compras públicas.
Na primeira Ministerial da
OMC, em Cingapura (1996), entraram na agenda quatro temas:
investimentos, compras governamentais, facilitação de negócios e
políticas de concorrência.
Os países em desenvolvimento
rejeitam duramente a inclusão
dos temas. Não se sentem preparados para absorvê-los, até porque os países ricos não entregaram toda a abertura prometida na
Rodada Uruguai, pré-Doha.
Mas a União Européia insistiu
nos temas em Cancún, o que levou ao impasse final e ao fiasco.
Agora, aceita que os quatro temas
sejam tratados isoladamente ou
que nem sejam tratados.
O uruguaio proporá discutir só
a transparência nas concorrências
públicas, o que significa que não
haverá equiparação entre nacionais e estrangeiros na disputa pelas encomendas dos governos.
Quanto à facilitação de negócios, são medidas puramente burocráticas, que não interferem nas
políticas econômicas.
Na área agrícola, Pérez del Castillo também coincide com uma
das mais fortes reivindicações do
Brasil. "Reduzir ou eliminar os
subsídios à exportação é uma necessidade fundamental", diz.
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