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LUÍS NASSIF
Os argumentos do bingo
A Associação Brasileira
dos Bingos (Abin) entra
em contato para questionar algumas informações do Ministério Público acerca da atividade.
A primeira, a de que a atividade serviria para lavagem de dinheiro. Segundo a Abin, a denúncia surgiu após uma importação específica da Itália, supostamente com dinheiro da
Máfia. Foi aberto um inquérito
que, três anos depois, nada apurou. Além disso, a Abin sustenta
que há que se separar as máquinas de padaria daquelas dos
bingos oficiais, que seriam honestas e trabalhando com o
conceito de rateio.
Não há porque duvidar das
informações, mas o buraco é
mais embaixo: é a questão do
bingo como ameaça à saúde
pública.
Em todos os países civilizados,
há cada vez mais medidas de
repressão às chamadas doenças
sociais, como a droga, o alcoolismo, o tabagismo e o jogo. Mas
não se pode comparar o ato de
beber com o ato de jogar. A disseminação do alcoolismo não
depende da quantidade de bares existente, nem os alcoólatras
representam porcentagem elevada dos freqüentadores de bares.
Já o jogo -especialmente o
bingo- é uma compulsão que
depende basicamente da facilidade de acesso aos cassinos.
Não se venha com o argumento
de que, se proibir o jogo, os viciados irão recorrer a cassinos
clandestinos. As donas de casa,
os aposentados e as pessoas humildes frequentam bingos pela
proximidade e pelo fato de ser
atividade legal e aceita pela sociedade. Apenas uma pequena
porcentagem aceitaria correr os
riscos de frequentar cassinos
clandestinos.
No ano passado foi feita pesquisa em um bingo de São José
dos Campos que mostrou que
45% (!) dos freqüentadores são
jogadores patológicos. Em 1997,
outro estudo "Jogo Patológico:
Um Estudo Sobre Jogadores de
Bingo, Videopoker e Jockey
Club", de Maria Paula de Magalhães Tavares de Oliveira, do
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, classificou 33% dos frequentadores como jogadores patológicos.
Os dois estudos foram feitos
por pesquisadoras do Proad
(Programa de Orientação e
Atendimento a Dependentes),
da Unifesp. Para o psiquiatra
Marcelo Fernandes, que coordena o ambulatório de jogadores patológicos da Unifesp, o
bingo democratizou o vício do
jogo e já é a modalidade preferida entre dependentes, desbancando inclusive a loteria.
Velho adversário do jogo, das
poucas pessoas que tentaram
barrar a autorização aos bingos, o ex-senador José Serra escreveu artigo na época (republicado em seu recém lançado livro "Ampliando o Possível"),
rebatendo mitos do jogo, como
o de que os cassinos significariam mais empregos ou recursos externos para o país.
Em Las Vegas, cidade com a
maior concentração de cassinos
do mundo, 8,7% da população
adulta (ou 70 mil pessoas) tem
algum problema ligado ao jogo.
No estado de Nevada (onde está
Las Vegas e onde existem mais
cassinos e há mais tempo nos
EUA), o número de casos de suicídio é duas vezes maior do que
na média do país. Estudo de
1995, feito em Iowa, mostrou
que 5,4% da população do Estado tinham, naquele ano, algum
problema mais sério com o jogo,
contra apenas 1,7% da população antes da abertura dos barcos-cassinos na região.
Em Atlantic City, metade dos
restaurantes da cidade fechou
as portas dois anos depois da
abertura dos cassinos na cidade, no final dos anos 70. Em Illinois, em 1995, a operação dos
cassinos provocou perdas de
US$ 1,9 bilhão para o comércio
local. No mesmo Estado, todos
os efeitos "positivos" trazidos
pelos cassinos (pagamento de
salários e compras na região)
totalizaram US$ 1,8 bilhão
também em 1995.
Em Wisconsin, o número de
crimes cresceu 6,7% depois da
abertura de cassinos. Somando-se os casos de crimes que decorrem indiretamente do jogo (como maus-tratos e agressões cometidas por viciados), o número cresceu para 9%. Como bem
lembra Serra, o volume de dinheiro que circula em torno do
jogo é suficiente para atrair dinheiro sujo, proveniente do tráfego de drogas e outras atividades ilegais.
E-mail -
lnassif@uol.com.br
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