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Repasse pára no varejo, diz indústria
FÁTIMA FERNANDES
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e a
CNI (Confederação Nacional da
Indústria) acreditam que as pressões do atacado para aumentos de
preços não devam atingir os consumidores. O desemprego elevado e a renda em queda vão barrar
os reajustes dos bens nas lojas.
Horacio Lafer Piva, presidente
da Fiesp, diz que acha "muito difícil que os aumentos de preços sejam repassados aos consumidores. Estamos em um momento de
renda reduzida e de uma massa
salarial que não cresce. O mercado não absorve aumentos expressivos", afirma.
O presidente da CNI, Armando
Monteiro Neto, concorda. "Não
existe um movimento generalizado por aumentos de preços nas
empresas. Alguns setores sofrem
evidentes pressões de custos. Há
matérias-primas que subiram no
mercado internacional e condicionaram o aumento de custos no
mercado doméstico. No entanto,
é claro que a indústria brasileira
não tem interesse em colocar o
processo de estabilização da economia em risco", afirma.
Para ele, alguns setores têm suportado a alta dos custos, pois a
queda na renda do consumidor
impede o repasse dos preços.
Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de
Estudos para o Desenvolvimento
Industrial), diz, porém, que algumas empresas já chegaram ao limite. "Não tem jeito, algumas indústrias vão aumentar os preços
porque estão com margem zero.
Mas esses aumentos não terão
impacto significativo na inflação
no ano", afirma.
Enquanto não fica definido se a
indústria conseguirá reajustar ou
não os preços e se esses possíveis
aumentos chegarão ao comércio,
economistas têm revisado para cima suas projeções de inflação para o primeiro trimestre deste ano,
principalmente para janeiro e fevereiro. Motivo: os reajustes já
ocorridos no atacado, que, em
média, vieram acima do previsto.
A LCA Consultores, que projetava inflação de 1,5% para este
primeiro trimestre, estima agora
1,8%. A consultoria Tendências
aumentou de 1,9% para 2%, e a
Gap Asset Management, de algo
entre 1,7% e 1,8% para 2,06%.
Os reajustes recentes ainda não
são considerados alarmantes para
os economistas porque decorreram, em grande parte, de uma
combinação de fatores pontuais.
Por enquanto, os aumentos de
preços foram reflexo de um aumento nas cotações das commodities, como cobre, chumbo e zinco, no mercado internacional, por
conta de uma recuperação da economia norte-americana e da forte
demanda por esses produtos na
China. A isso se somou a alta do
petróleo nos últimos dois meses.
Para produtores nacionais, esse
é um cenário de custos mais altos
que, no contexto de ensaio de recuperação da economia brasileira, incentivou o setor industrial a
repassar parte desse ônus. Os aumentos expressivos de preços de
produtos metalúrgicos e têxteis
que ocorreram em janeiro comprovam esse movimento.
Além disso, no mercado interno, preços de produtos agrícolas
subiram acima do esperado devido às chuvas do início do ano. Essa pressão começa a diminuir.
Segundo analistas, o risco
-que deve manter o Banco Central cauteloso na condução da política monetária- é que, ao contrário das expectativas, esses reajustes se expandam e cheguem ao
consumidor.
Para a maior parte dos analistas,
porém, as pressões foram e continuarão sendo pontuais e o repasse ao consumidor é pequeno porque a renda continua deprimida.
"Os aumentos de preços industriais terão um pequeno impacto
na inflação, já que não são generalizados, não ocorrem em toda a
cadeia industrial", afirma Ricardo
Denadai, economista da LCA.
"Quando isolamos as pressões
sazonais, percebemos que os núcleos de inflação têm vindo um
pouco pressionados. Isso é motivo para cautela", afirma Alexandre Bassoli, economista-chefe do
HSBC.
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