São Paulo, quarta-feira, 11 de fevereiro de 2004

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Repasse pára no varejo, diz indústria

FÁTIMA FERNANDES
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e a CNI (Confederação Nacional da Indústria) acreditam que as pressões do atacado para aumentos de preços não devam atingir os consumidores. O desemprego elevado e a renda em queda vão barrar os reajustes dos bens nas lojas.
Horacio Lafer Piva, presidente da Fiesp, diz que acha "muito difícil que os aumentos de preços sejam repassados aos consumidores. Estamos em um momento de renda reduzida e de uma massa salarial que não cresce. O mercado não absorve aumentos expressivos", afirma.
O presidente da CNI, Armando Monteiro Neto, concorda. "Não existe um movimento generalizado por aumentos de preços nas empresas. Alguns setores sofrem evidentes pressões de custos. Há matérias-primas que subiram no mercado internacional e condicionaram o aumento de custos no mercado doméstico. No entanto, é claro que a indústria brasileira não tem interesse em colocar o processo de estabilização da economia em risco", afirma.
Para ele, alguns setores têm suportado a alta dos custos, pois a queda na renda do consumidor impede o repasse dos preços.
Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), diz, porém, que algumas empresas já chegaram ao limite. "Não tem jeito, algumas indústrias vão aumentar os preços porque estão com margem zero. Mas esses aumentos não terão impacto significativo na inflação no ano", afirma.
Enquanto não fica definido se a indústria conseguirá reajustar ou não os preços e se esses possíveis aumentos chegarão ao comércio, economistas têm revisado para cima suas projeções de inflação para o primeiro trimestre deste ano, principalmente para janeiro e fevereiro. Motivo: os reajustes já ocorridos no atacado, que, em média, vieram acima do previsto.
A LCA Consultores, que projetava inflação de 1,5% para este primeiro trimestre, estima agora 1,8%. A consultoria Tendências aumentou de 1,9% para 2%, e a Gap Asset Management, de algo entre 1,7% e 1,8% para 2,06%.
Os reajustes recentes ainda não são considerados alarmantes para os economistas porque decorreram, em grande parte, de uma combinação de fatores pontuais.
Por enquanto, os aumentos de preços foram reflexo de um aumento nas cotações das commodities, como cobre, chumbo e zinco, no mercado internacional, por conta de uma recuperação da economia norte-americana e da forte demanda por esses produtos na China. A isso se somou a alta do petróleo nos últimos dois meses.
Para produtores nacionais, esse é um cenário de custos mais altos que, no contexto de ensaio de recuperação da economia brasileira, incentivou o setor industrial a repassar parte desse ônus. Os aumentos expressivos de preços de produtos metalúrgicos e têxteis que ocorreram em janeiro comprovam esse movimento.
Além disso, no mercado interno, preços de produtos agrícolas subiram acima do esperado devido às chuvas do início do ano. Essa pressão começa a diminuir.
Segundo analistas, o risco -que deve manter o Banco Central cauteloso na condução da política monetária- é que, ao contrário das expectativas, esses reajustes se expandam e cheguem ao consumidor.
Para a maior parte dos analistas, porém, as pressões foram e continuarão sendo pontuais e o repasse ao consumidor é pequeno porque a renda continua deprimida.
"Os aumentos de preços industriais terão um pequeno impacto na inflação, já que não são generalizados, não ocorrem em toda a cadeia industrial", afirma Ricardo Denadai, economista da LCA.
"Quando isolamos as pressões sazonais, percebemos que os núcleos de inflação têm vindo um pouco pressionados. Isso é motivo para cautela", afirma Alexandre Bassoli, economista-chefe do HSBC.


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