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Psicanalista vê "otimismo cego" na Bolsa
Vera Rita de Mello Ferreira, da PUC, recomenda aos investidores olhar o extrato bancário apenas uma vez por ano
Os economistas erram nas previsões porque é difícil analisar rapidamente e
com isenção o que vai acontecer, diz a professora
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
A psicanalista Vera Rita de
Mello Ferreira, professora de
psicologia econômica da PUC-SP, diz que o "excesso de otimismo" levou os investidores a
minimizarem os riscos. Ela
afirma que a Bolsa "não é para
qualquer um". Para alguns, ela
recomenda "realizar prejuízo"
para "não enlouquecer". Como
conselho, diz: "Só olhe o extrato de investimentos uma vez
por ano". A seguir, os principais
trechos da entrevista.
FOLHA - Como Freud explicaria a
crise nos mercados?
VERA RITA FERREIRA - O otimismo
excessivo faz as pessoas esquecerem que o mercado passa por
ciclos. Quando tudo vai bem, é
muito difícil incorporar o fato
de que há risco de perdas. A
gente tem inúmeras limitações
cognitivas. A nossa memória é
falha. Tudo o que deu errado,
você ou não lembra ou culpa
terceiros. Também odeia frustração. A gente só pensa o que
consegue aceitar. Por isso,
achamos que tudo vai dar certo.
FOLHA - Como as pessoas que tomaram o primeiro tombo na Bolsa
podem manter a serenidade?
FERREIRA - A psicologia econômica diz para só olhar para os
seus investimentos uma vez ao
ano. Tem gente que é melhor
sair agora, realizar prejuízo,
mas não enlouquecer. A Bolsa
não é para todo mundo.
FOLHA - Como a psicologia vê a decisão de investir com risco?
FERREIRA - A recomendação é
comprar na baixa e vender na
alta, mas muitos vêem a Bolsa
caindo, caindo... Como vou entrar agora? É o melhor momento. As pessoas não têm aversão
a risco, mas a perdas.
FOLHA - Por que há pessoas que toleram mais perder?
FERREIRA - Há pessoas que têm
mais conhecimento e tolerância à frustração -então não entram com tanta ingenuidade e
sabem jogar. Pouca gente faz a
conta do quanto já ganhou
-então pode perder um pouco.
FOLHA - Economistas falam que,
ao socorrer com juro menor, o Fed
estimula a irresponsabilidade do investidor. Como a psicologia vê isso?
FERREIRA - O Fed [BC dos EUA]
passa a mensagem de que vai
socorrer sempre. Estimula a
tendência de empurrar com a
barriga e jogar a conta para a
frente. Só que a conta chega.
FOLHA - A medida que mais acalmou foi o socorro às seguradoras.
Por que um socorro funciona mais
do que um estímulo na economia?
FERREIRA - Tenho dúvida se foi
aquilo que acalmou ou se ninguém agüentava mais tanta angústia. Qualquer coisa que fizessem naquele momento poderia ter a mesma função. Depois, cai tudo de novo.
FOLHA - No balanço dos culpados,
todos lembram das agências de risco. Por que precisamos que um terceiro faça a avaliação do nosso risco?
FERREIRA - Ninguém gosta de se
responsabilizar, então prefere
que venha um Deus ou uma autoridade para dizer o que está
certo. As agências fizeram isso
para os títulos imobiliários.
FOLHA - Os investidores comportam-se como manada? Por que é difícil pensar com a própria cabeça?
FERREIRA - Às vezes, os primeiros estudaram as alternativas e
pensaram com a própria cabeça. Os outros decidem fazer
igual, mas não sabem o raciocínio completo. É como num telefone sem fio. Aconteceu isso
na bolha da internet. Os primeiros pensavam em comprar
uma empresa de busca; os últimos viam: termina com pontocom, então eu compro.
FOLHA - Por que os economistas
sempre falham em suas previsões?
FERREIRA - Ninguém tem bola
de cristal nem sabe o que vai
acontecer. Desesperada, a pessoa inventa qualquer coisa
-ela acredita, faz os seus modelos. Sob tortura, estatística
confessa qualquer coisa.
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