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LUÍS NASSIF
A boa privatização que não sai
A Caixa Econômica Federal
estima em R$ 50 bilhões o
rombo do FGTS. Parte decorrente de empréstimos malconcedidos; parte de ações judiciais, que passaram a conceder
IPC para os devedores do Fundo, e correção integral dos diversos planos econômicos para
os credores (os trabalhadores
que sacaram seu dinheiro). Se
todos os correntistas do FGTS
pretenderem sacar seus depósitos, não conseguirão mais do
que 30% do que lhes é devido.
A União tem um conjunto de
ativos: estatais que não foram
privatizadas, créditos a receber, títulos públicos etc. A proposta do "encontro de contas"
visa permitir ao governo utilizar as estatais para bancar esses rombos. Se FHC se recusar
a utilizar as estatais para tal
propósito, e persistir no único
fim de atrair dólares para fechar as contas externas (problema profundamente minimizado pelas mudanças cambiais), significará deixar no
prejuízo milhões de brasileiros.
No entanto, a proposta não
avança. No governo Itamar,
foi feito o reconhecimento de
parte dos débitos do FGTS, na
conta do Fundo de Compensação das Variações Salariais
(FCVS). Qual a única moeda
contemplada? Os créditos que
o sistema bancário tinha junto
ao FCVS. O crédito dos correntistas nem sequer foi analisado, a não ser com a possibilidade vaga de se sacar o saldo
para participar individualmente dos leilões de privatização.
A única contra-indicação a
essa proposta é da parte dos
futuros beneficiários da privatização -os grupos econômicos de olho nas estatais a serem vendidas.
Do ponto de vista social, não
haveria objetivo mais nobre
do que utilizar as estatais para
quitar passivos sociais. Do
ponto de vista econômico, a
proposta seria saudada pelos
organismos internacionais,
porque ajudaria a resolver definitivamente problemas estruturais crônicos da economia brasileira -os passivos
ocultos do setor público. Do
ponto de vista nacional, permitiria a criação de um mercado de capitais moderno,
com a democratização do capital e um saldo expressivo nos
fundos de pensão -maiores
financiadores de economias
modernas.
Então, por que não sai? O
álibi da complexidade não vale. No fundo, não sai porque
significaria mudar substancialmente a natureza da privatização, permitindo que
seus benefícios fossem distribuídos pelo conjunto dos contribuintes.
FHC recusou muitas medidas de cunho social que considerava -com razão- paternalistas e comprometedoras
das contas públicas. Moldou
um discurso onde definia que
o verdadeiro defensor das
questões sociais era quem se
preocupasse com a modernização da economia.
Qual o argumento para se recusar a analisar essa proposta,
se ela é defensável sob qualquer critério de responsabilidade pública, e de gestão moderna da economia?
E-mail: lnassif@uol.com.br
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