São Paulo, Quinta-feira, 11 de Março de 1999
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TELECOMUNICAÇÃO
Modelo de divisão de mercado imaginado pelo governo não deve vingar; acionistas discutem incorporações
Quatro teles estudam processo de fusão

ELVIRA LOBATO
da Sucursal do Rio

O modelo de divisão de mercado da telefonia celular imaginado pelo governo -com 10 operadoras na banda B e 13 na banda A (9 oriundas da Telebrás e 4 independentes)- não vai sobreviver por muito tempo. A fusão de empresas que têm acionistas em comum já está sendo discutida pelas companhias.
O primeiro caso em andamento envolve quatro operadoras de telefonia celular: duas da banda A (Telemig e Tele Norte Celular) e duas da banda B (Americel e Telet).
As discussões entre os sócios, por enquanto, transcorrem sob sigilo absoluto.
Nesse caso, segundo a Folha apurou, deve ocorrer um processo de incorporação. A hipótese mais provável é que a Telemig, por ser a maior das quatro, incorpore as demais.
Nenhum dos sócios fala sobre o assunto.
Como a Telemig e a Tele Norte Celular são companhias abertas, com ações negociadas em Bolsa, os acionistas mantêm silêncio com a alegação de que poderiam ser punidos pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e pela SEC (Security Exchange Comission), dos Estados Unidos.
No entanto, as discussões estão em ritmo acelerado.
A holding que vai controlar as quatro empresas foi batizada internamente de Amalco, numa referência à palavra amálgama (mistura).
O projeto de incorporação está sendo desenvolvido pelo banco Opportunity, por sugestão do grupo canadense Telesystem International Wireless, principal acionista (48% do capital) da Telemig e da Tele Norte Celular.
O objetivo da incorporação é criar uma empresa de grande porte, que possa ter expressão no mercado financeiro internacional. Juntas, as quatro operadoras se tornariam a maior empresa de telefonia celular do país em extensão de cobertura.
Três das quatro companhias têm áreas de concessão contíguas.
A Tele Norte cobre os Estados do Amazonas, Roraima, Pará, Amapá e Maranhão. A Americel abrange o Distrito Federal, Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Acre. A Telemig faz divisa com a Americel. Só a Telet está isolada das demais, no Rio Grande do Sul.

Problemas
A proposta preparada pelo Opportunity prevê a troca de ações com direito a voto nas quatro operadoras por ações preferenciais (sem direito a voto) na holding, e o banco ficaria na posição de controlador.
A idéia de substituição de ações com direito a voto por outras sem poder de voto foi rejeitada pela Previ (Caixa de Previdência do Banco do Brasil), que é sócia das empresas.
Um diretor do fundo de pensão, que não quis se identificar, disse à Folha que a Previ faz investimentos de longo prazo e não abre mão de exercer seu poder de voto. ""Não precisamos de tutor", afirmou o executivo.
De acordo com ele, o Opportunity sugeriu a incorporação aos demais acionistas há duas semanas, mas ainda não apresentou uma proposta detalhada e por escrito.

Opção
Pessoas ligadas ao banco afirmam que a troca de ações será apenas uma opção.
Ao ser privatizada, no ano passado, a Telemig Celular possuía 420 mil assinantes e foi arrematada por R$ 756 milhões (com 229% de ágio).
A Tele Norte Celular, então com 208 mil assinantes, foi vendida no leilão por R$ 188 milhões (109% de ágio).
A Americel foi a primeira empresa da banda B a entrar em funcionamento e tem hoje cerca de 160 mil assinantes.
Seus sócios pagaram R$ 338,8 milhões pela concessão. A Telet só entrou em operação no mês passado, e sua concessão custou R$ 334,5 milhões.


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