São Paulo, segunda-feira, 11 de março de 2002

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Varejo será o setor mais afetado pelo sistema

DA REPORTAGEM LOCAL

Como a cultura do cheque é muito forte no país e seria impossível baixar um decreto obrigando as pessoas a usarem o novo SPB, o Banco Central pretende empurrar as operações acima de R$ 5.000 para o sistema eletrônico mexendo no bolso dos bancos, empresas e pessoas físicas.
Conforme a Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos), os bancos continuarão processando cheques de valor igual ou superior a R$ 5.000, mas serão obrigados a recolher parte expressiva dos seus valores ao BC.
Isso vai elevar o custo desse serviço para a instituição financeira, que, consequentemente, tenderá a cobrar mais do cliente pelo processamento de tais cheques. Outra tendência é que o banco amplie o prazo de compensação.
Segundo Altair Assis, diretor da Novabase do Brasil, as empresas que serão mais afetadas pelo SPB serão aquelas que costumam fazer pagamentos acima de R$ 5.000 para os seus fornecedores, mas têm como fonte de receita cheques com valores inferiores. Entram nesse segmento supermercados e postos de gasolina.
Enquanto o cheque do cliente vai passar pelo processo normal de compensação, o pagamento acima de R$ 5.000 será on-line. Hoje, pagamentos e recebimentos em cheques são processados à noite ou no dia seguinte. E o banco compensa um com o outro.
Com o SPB, na hora em que uma pessoa fizer um pagamento eletrônico acima de R$ 5.000, ela terá de ter o valor correspondente na conta, já liberado. A transferência será na hora.
Isso significa, explica Ricardo Balkins, sócio-diretor da Deloitte Touche Tohmatsu, que a empresa terá de ter um controle rigoroso de entrada e saída de recursos. Dependendo do caso, deverá modificar a forma como cobra pelos seus serviços e negociar prazos de pagamentos mais dilatados com seus fornecedores, para coincidir com a compensação dos cheques de seus clientes.
Para Clarice Messer, diretora da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), essa mudança de processo exigirá que as empresas tenham um capital de giro maior do que o atual. "Para zelar pela boa conduta e não correr o risco de deixar um fornecedor sem receber, a empresa terá de negociar com os bancos um crédito adicional."
Para todas as empresas que costumam fazer pagamentos acima de R$ 5.000, Assis e Osvaldo Calixto, diretor da Sagy, alertam que não bastará ter o dinheiro na conta para fazer um pagamento eletrônico. Dependendo do valor, o banco exigirá que o cliente reserve a disponibilidade dos recursos com antecedência. Se não o fizer, o banco terá a opção de não efetuar o pagamento ou de cobrar uma taxa extra pelo serviço.
De acordo com o consultor Josino Garcia, outro aspecto importante a ser estudado pelas empresas é com relação à segurança das transações via SPB. Hoje, para evitar fraudes, muitas empresas exigem que os pagamentos por meio de cheques sejam assinados por dois funcionários. Além disso, quando detecta alguma irregularidade, sua direção quase sempre tem tempo de ligar para o gerente do banco e solicitar a sustação do cheque.
Com o SPB, a empresa terá de criar mecanismos novos de segurança para os seus pagamentos. Uma vez feitos, eles serão irreversíveis. Acaba a sustação. (IC)

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