São Paulo, quarta-feira, 11 de abril de 2001

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MERCOSUL

País capta US$ 700 mi

Argentina paga mais para financiar dívida

JOSÉ ALAN DIAS
DE BUENOS AIRES

A Argentina refinanciou US$ 700 milhões de sua dívida de curto prazo em uma operação que ficou longe de ratificar as expectativas otimistas do governo, mas que, ainda assim, não foi tomada como um desastre pelo mercado.
Na licitação de ontem, foram colocados à disposição dos investidores locais US$ 350 milhões em títulos com vencimento em 88 dias e outros US$ 350 milhões em papéis com prazo de 179 dias.
Para o primeiro lote, os bancos exigiram taxas de 10,36% -as projeções apontavam entre 9,5% e 10,5%. Quando da última operação com títulos equivalentes, em 27 de março, o ministro da Economia, Domingo Cavallo, então recém-empossado, teve que se dobrar à taxa de 10,96%.
No caso dos papéis de 180 dias, a última operação havia ocorrido em 13 de março e fora a única na rápida permanência (15 dias) de Ricardo López Murphy como titular do Ministério. A taxa passou de 9,88% daquele dia para os 11,91% de ontem. Contrariou as estimativas de governo e analistas, para os quais ficaria num nível entre 10,5% e 11,5%. A Bolsa de Buenos Aires, que operava em alta de 1,6%, acabou fechando sem variação depois do resultado.
A licitação despertara interesse anormal pela série de fatos acumulados nas últimas semanas na turbulenta economia argentina.
Primeiro porque duas semanas atrás Domingo Cavallo se recusou a aceitar a primeira oferta que os bancos fizeram pelos títulos de 90 dias (assustadores 13%) e fez pressão sobre os executivos até obter o ""alívio" para 10,96%.
Na mesma noite, diante de uma platéia de banqueiros, acenou com uma vingança afirmando que o governo se retiraria do mercado local até que a Argentina obtivesse as mesmas condições do México (taxas entre 7% e 8%).
Argumentou que isso seria possível por conta dos recursos arrecadados com o novo imposto sobre movimentação financeira -inspirado na CPMF brasileira.
Voltou atrás, mas por meio de seus assessores diretos, diante da constatação de que o país não pode deixar de cumprir com a programação de refinanciamento de dívida de curto prazo -sob eventual ameaça de moratória.
Além do jogo de cena de Cavallo, havia motivos factíveis para esperar que as taxas baixassem.
Na sexta-feira, o ministro anunciou a colocação de três novos bônus, no total de US$ 3,5 bilhões, que, se formalizados, junto com o imposto sobre os cheques, os desembolsos do FMI (Fundo Monetário Internacional) e as operações de títulos do mercado interno, cobrem necessidades de financiamento para este ano.
O governo também permitiu aos bancos diminuir de 21% para 18% o montante dos depósitos de clientes que são obrigados a colocar em custódia no banco central. Em tese, haveria mais dinheiro em circulação -e as instituições poderiam emprestar para o Estado, empresas e público a juros menores.
"O resultado (da licitação) não foi impressionante, mas também não é para alarmar-se. As taxas estão compatíveis com as do mercado hoje. Se a licitação de papéis 180 dias fosse uma semana atrás, por exemplo, em vez de 11,91%, a taxa não sairia menos que 18% ou 19%", disse Leonardo Chialva, da Delphos Investment.


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