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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Investimento direto também é perigoso
GILSON SCHWARTZ
da Equipe de Articulistas
No princípio, era a xenofobia, o
horror ao capital estrangeiro. Com
o tempo, a maioria dos países em
desenvolvimento adotou a crença
oposta, tratando de atrair investimentos externos a qualquer custo.
Agora, talvez estejam surgindo indicações de que é possível uma atitude mais pragmática, madura e
responsável.
Atitudes como a do governador
do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra, que está provocando uma revisão do acordo feito pelo seu antecessor com a Ford do Brasil, podem ser polêmicas do ponto de
vista jurídico. Mas, do ponto de
vista econômico, elas parecem alinhadas com o que há de mais atual
no debate sobre políticas de atração de investimento direto.
Uma obra importante, que apresenta uma ampla revisão da literatura e de casos em todo o mundo,
foi publicada no final de 1998 pelo
"Institute for International Economics" ("Foreign Direct Investment
and Development", de Theodore
Moran, da Georgetown University).
O livro examina praticamente todos os modelos e instrumentos de
atração de investimento direto.
Suas principais conclusões recomendam cautela na guerra por capitais externos. Muitas vezes o custo de atrair uma empresa é bem superior ao benefício. Mais ainda, levando em conta a desigualdade entre as nações, os países menos desenvolvidos talvez fizessem melhor combatendo a guerra global
por investimentos, pois muitas vezes não têm chances de competir
com os incentivos oferecidos pelos
governos dos países mais industrializados.
Um dos pontos sublinhados por
Moran é o risco associado à capacidade de mobilização política das
empresas multinacionais. Mas, se
essas empresas eram criticadas pela esquerda por apoiarem políticas
de direita, o argumento agora aparece invertido.
As empresas, beneficiadas por
acordos protecionistas, por subsídios e créditos oficiais, tornam-se
defensoras da intervenção do Estado na economia (a seu favor, claro)
e inimigas da abertura comercial.
Obviamente, nessa mobilização
elas organizam lobbies que incluem sindicatos e empresários integrados em suas linhas de produção.
Ou seja, as empresas beneficiadas parecem defender políticas
econômicas "de esquerda", em defesa do emprego e da produção local. Segundo Moran, em muitos
casos essa estratégia apenas esconde os custos elevados do acordo setorial para o resto da sociedade e
mesmo para outros setores econômicos.
Para quem está acompanhando
algumas das manifestações públicas de protesto contra a revisão do
acordo com a Ford no Rio Grande
do Sul, o cenário corresponde como uma luva ao retrato desenhado
no livro de Moran.
Há inúmeros outros riscos associados ao IDE (investimento direto
estrangeiro). Aliás, em muitos casos é difícil estabelecer a fronteira
entre o que é e o que não é investimento direto. Fluxos de IDE podem ser acompanhados de operações de "hedge" cambial, por
exemplo. Nesse caso, o dinheiro de
longo prazo cria fluxos de curto
prazo que podem ser bastante voláteis.
Outras modalidades de fluxo financeiro são apenas aparentemente mais estáveis. Os créditos
ao comércio exterior são o melhor
exemplo e, como se viu nos últimos meses, podem responder a
impulsos tão especulativos quanto
os que imperam numa Bolsa de
Valores.
Finalmente, é bom lembrar que a
participação das fusões e aquisições no total do IDE no mundo
tem crescido (passou de 48,2% em
96 para 59% em 97, segundo a
Unctad). Ou seja, contabiliza-se
como investimento algo que não
cria nova capacidade produtiva, só
promove mudanças de donos.
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