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PLANO REAL
Para adotar regime de "inflation targeting", país deve antes obter equilíbrio fiscal, acreditam técnicos do Fundo
FMI duvida de metas de inflação no Brasil
MARCIO AITH
de Washington
Crescem o ceticismo e as dúvidas
dentro do FMI (Fundo Monetário
Internacional) com relação à adoção de um regime formal de metas
de inflação no Brasil.
O regime foi eleito pelo presidente do Banco Central, Armínio Fraga, como uma das prioridades do
governo e está previsto na última
carta de intenções entre o Fundo e
o país, aprovada no dia 30 de março.
A direção do FMI não acredita no
sucesso desse regime antes de o
país solucionar seu problema fiscal
e avançar nas reformas institucionais, principalmente na reforma
tributária.
A Folha apurou que, devido a essa resistência, é improvável que o
país adote esse modelo ainda em
1999.
O FMI ainda prefere confiar num
programa tradicional, de consolidação fiscal e política monetária
apertada. Sua direção acredita que
essa política ortodoxa tem sido
fundamental para que o país recupere a confiança dos mercados e
diz não querer arriscar.
No comunicado divulgado pelo
FMI no dia da aprovação do ajuste
ao programa de ajuda ao Brasil, o
vice-diretor-gerente da instituição, Stanley Fischer, já dava sinais
desse ceticismo: "Um modelo formal de metas de inflação deverá
ser adotado mais tarde nesse ano,
depois que um sistema for criado."
De qualquer maneira, o Fundo
faz questão de assessorar diretamente o governo brasileiro no que
for necessário para preparar a estrutura necessária à adoção desse
modelo. Para isso, deverá promover, no próximo mês, um seminário sobre o assunto no Brasil.
Há questões básicas ainda não
solucionadas.
O Fundo e o governo brasileiro
não sabem se a meta inflacionária
deve ser fixada em bandas. Também não decidiram qual índice
usar para medi-la (se deve incluir
preços no atacado ou somente preços ao consumidor).
E, mais importante, se devem expurgar desse índice choques inesperados na economia (como nos
preços agrícolas, por exemplo).
Além de preferir a adoção desse
modelo somente numa situação
fiscal consolidada, o Fundo teme
que o governo brasileiro crie uma
medida de inflação muito diferenciada daquelas com as quais o setor privado e a população têm familiaridade. O governo perderia a
credibilidade.
Experiências
Implantado pela primeira vez na
Nova Zelândia, em 1989, o regime
de metas inflacionárias consiste
em subordinar as políticas monetárias de um país ao objetivo de
atingir índices de preços anunciados com antecedência.
Com base nesse regime, o presidente do banco central anuncia os
índices de inflação desejados para
prazos que podem chegar a cinco
anos e direciona rigorosamente o
uso de seus instrumentos (principalmente juros) para atingir essas
metas.
Todos os países que hoje adotam
o regime de metas de inflação ("inflation targeting") o implantaram
para substituir políticas monetárias que antes eram baseadas em
âncoras cambiais.
No caso brasileiro, o regime foi
cogitado como forma de substituir
o regime cambial depois da desvalorização do real, em janeiro, como forma de restaurar segurança
aos mercados.
A adoção desses regimes em países emergentes, no entanto, sempre foi sempre vista com ceticismo
pelos técnicos do FMI.
O ceticismo decorre do fato de o
modelo pressupor total independência do banco central do país,
uma situação fiscal equacionada e
a garantia de que o país não crie dinheiro para compensar deficiências na arrecadação tributária.
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