São Paulo, Domingo, 11 de Abril de 1999
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Cumprir os objetivos é difícil, afirma especialista

de Washington

Anunciar metas inflacionárias é fácil. O difícil é cumpri-las.
Em entrevista à Folha, John Green, economista formado pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology) e integrante do departamento de pesquisas do FMI, diz que "a tarefa envolve riscos e uma enorme capacidade de prever tendências".
Autor de um trabalho técnico sobre "inflation targeting" preparado para o próprio Fundo, ele diz que o modelo depende diretamente das expectativas do mercado e que, por essa razão, só funciona se as ações do banco central forem confiáveis.
"Metas inflacionárias por si só não funcionam", diz ele. "É preciso que o mercado acredite nas intenções do governo em segui-las e na capacidade do banco central de antecipar e de corrigir distorções", disse ele.
Sem se referir ao caso brasileiro (ele se especializou no caso europeu), Green relata que, ao estipular metas inflacionárias e guiar as expectativas do setor privado, os governos podem se sentir tentados, no meio do processo, a expandir a oferta monetária para aquecer a economia.
"O governo pode achar que conseguirá aumentar a produção e manter a inflação controlada, mas os mercados não são inocentes. Eles logo percebem o movimento e mudam suas projeções. A inflação sobe sem que a economia cresça", disse ele.
Em seu trabalho, Green propõe a adoção de metas conjuntas de inflação e de produção, como forma de dar ainda mais credibilidade ao modelo.
Pelo menos sete países industrializados mantêm hoje sistemas de metas inflacionárias: Nova Zelândia, Canadá, Inglaterra, Suécia, Finlândia, Austrália e Espanha. O México é o país em desenvolvimento mais avançado na implantação desse modelo, mas os resultados ainda não podem ser avaliados.
Esses países adotaram o modelo como resposta às dificuldades que encontraram na condução de sistemas baseados em câmbios fixos ou no controle da expansão monetária.
Cada país tem um sistema diferente do outro. No caso da Nova Zelândia, primeira economia a adotar o modelo, em 1989, o presidente do banco central pode ser demitido se a meta inflacionária não for atingida. O governo permite que as metas sejam alteradas quando há choques no comércio internacional, expurgando esses choques. Já na Inglaterra (modelo que agrada ao presidente do BC brasileiro, Armínio Fraga), mede-se a inflação excluindo-se os preços das prestações imobiliárias, que têm um peso grande nos índices de inflação. "Cada país encontra sua própria maneira de implantar o modelo", diz ele.
Green explicou que, na prática, quase todos os países mantêm metas inflacionárias.
"Mas só esses sete o fazem de maneira oficial", disse ele. "Os outros têm metas não oficiais, que servem para direcionar internamente a política monetária". (MA)




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