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DESVALORIZAÇÃO CAMBIAL
Mudança no câmbio acelera investimentos para fabricação local de produtos antes importados
País testa ciclo de substituição de importado
RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local
O produto made in Brazil voltou
à moda. Na última Automec, a feira dos fabricantes de autopeças
realizada em março, o sinal foi dado pelas montadoras de veículos.
Fiat e Mercedes-Benz apresentaram peças importadas usadas em
seus carros e pediram aos fabricantes brasileiros que fizessem
propostas de produção por um
preço mais baixo. Só a montadora
italiana cadastrou 180 novos potenciais fornecedores.
A Natura, um dos maiores fabricantes brasileiros de cosméticos,
está negociando a vinda para o
país de três fornecedores da França e dos Estados Unidos. Em Americana, no interior de São Paulo, os
donos de confecções estão confiantes na recuperação do mercado perdido para os importados.
"Há dois anos tivemos de abandonar nosso carro-chefe, os tecidos para vestuário feminino, por
causa dos importados. Agora, estamos investindo para aumentar a
produção", diz Alexandre Dahruj
Jr., dono de uma confecção que fatura R$ 30 milhões por ano e que
acaba de comprar duas novas máquinas, por R$ 500 mil.
Mesmo com a recessão e a incerteza que rondam a economia, os
empresários estão fazendo planos
para aumentar as compras no Brasil. O objetivo é se adaptar a uma
mudança trazida pela desvalorização do real: ficou mais barato produzir no país do que trazer as mercadorias do exterior.
A mudança traz de volta uma velha estratégia. Neste século, a política de substituição de importações foi um dos principais motores
da indústria. Surtos industriais,
como a era Vargas, os 50 anos em 5
de Juscelino Kubitschek e o milagre econômico da ditadura militar,
foram baseados na troca das importações pela produção local.
"Deve haver uma reconstituição
dos elos da cadeia produtiva que
tinham sido substituídos por importados devido à abertura atabalhoada da economia", diz o ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso.
"O país também deve começar a
fabricar produtos que não eram
feitos aqui por falta de competitividade".
Nacionalização
Ainda é cedo para saber as dimensões do novo processo de
substituição de importações e se o
país continuará se recuperando
como prevê o governo. Mas uma
coisa é certa: a mexida no câmbio
provocou uma virada na base da
economia.
"Quando o governo começou a
abrir a economia, em 1990, a moeda já estava sobrevalorizada em relação a média da década de 80", diz
Maurício Mesquita, economista
do BNDES. "Como se valorizou
ainda mais 35% até 98, provocou
exagero na substituição de produtos nacionais por importados."
A participação dos importados
no mercado de produtos industriais saltou de 4,8% para 18,8%
entre 1989 e 1998. O maior avanço
ocorreu entre os fabricantes de
aparelhos eletrônicos e de comunicação, um aumento de 11,6%,
em 1989, para 60,4%, em 1998.
Outras indústrias muito atingidas foram as de máquinas e de
equipamentos. Em 1989, os importados representavam 13,3% do
mercado, contra 51,4% no ano
passado. Agora, a expectativa é de
que os fabricantes brasileiros recuperem espaço. "Estamos recebendo muitas consultas, mas os
negócios ainda não foram fechados porque os investidores estão
cautelosos com a economia", diz
Luiz Carlos Delben Leite, presidente da associação dos fabricantes de máquinas.
Proteção do governo
Há uma grande diferença entre o
atual processo de substituição de
importações e os ciclos das décadas de 50 e de 70. No passado, o
governo fechou a economia aos
importados e deu subsídios para
as empresas se desenvolverem.
É pouco provável que isso volte a
ocorrer. O Brasil assinou acordos,
como o do Mercosul, que prevêem
uma crescente abertura da economia. O governo também se comprometeu a ajustar suas contas, o
que dificulta a concessão de novos
subsídios.
" Brasil ainda é incrivelmente fechado" diz o economista Eduardo
Gianetti da Fonseca. "Nosso problema não é reduzir as importações, mas aumentar as exportações e nossa participação no comércio mundial."
A rigor, a taxa de importação da
economia brasileira ainda é baixa,
quando comparada a de outros
países, como Itália ou Alemanha.
O problema, segundo especialistas, é que a abertura foi feita de
maneira descontrolada. A combinação de abertura com câmbio sobrevalorizado e juros altos deixou
empresas em situação frágil.
Agora, as indústrias podem recuperar terreno, mas numa situação diferente.
Como a economia continua progressivamente sendo aberta aos
importados, as indústrias terão de
se manter eficientes para não perder espaço.
"O governo deve ajudar as indústrias e os fornecedores a se organizar para substituir importações, mas não deve incentivar a
produção local de empresas sem
escala e qualidade internacional
porque prejudicaria toda a cadeia
produtiva", diz o economista Luciano Coutinho.
Para o ex-ministro Mailson da
Nóbrega, as empresas estão hoje
numa situação melhor para enfrentar a competição internacional do que nos tempos de economia fechada.
"Por força da abertura e do câmbio, um grupo importante de empresas brasileiras se modernizou e
atingiu padrões de qualidade que
não devem nada aos do exterior."
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