São Paulo, Domingo, 11 de Abril de 1999
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NOVO PARADIGMA
Consultora do BNDES acredita em processo de nacionalização de produtos antes importados
"Investimento produtivo continua"

Fabiano Accorsi/Folha Imagem
A economista Lídia Goldenstein, consultora do BNDES, que vê mudanças no parque produtivo brasileiro após desvalorização do real


da Reportagem Local

A recessão e a crise do câmbio não afetaram os investimentos produtivos no Brasil. Pelo contrário, diz a economista Lídia Goldenstein, consultora do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e associada a MB Consultores. Na sua opinião, o país está em meio a um ciclo de substituição dos artigos importados pela produção local, acelerado pela desvalorização da moeda.
"Ficou proibitivo ter o índice de importações tão elevado como ainda se mantinha", diz.
Goldenstein fez uma série de estudos sobre o que chama "revolução na estrutura produtiva brasileira", junto com o ex-secretário de política econômica, José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Consultores. Segundo Goldenstein, o Brasil vive desde o início do Plano Real o "efeito Vaporetto": empresas estrangeiras que testaram o mercado brasileiro com exportações e acabaram trazendo suas fábricas para o país, como a indústria italiana.
A seguir, trechos da entrevista que concedeu a Folha:

Folha - Estamos passando por um novo período de substituição de importações como nas décadas de 50 e 70?
Lídia Goldenstein -
Já estávamos num ciclo de substituição de importações, mesmo com câmbio sobrevalorizado. A abertura, a privatização, a globalização e a estabilização provocaram uma profunda reestruturação da economia brasileira. Houve o retorno do investimento externo e também dos investimentos de empresas que já estavam no país. Ocorreu o chamado efeito "Vaporetto" ou "Kinder Ovo", empresas que começaram testando o mercado brasileiro exportando produtos para cá e acabaram implantando suas fábricas aqui. Tínhamos um problema que era a restrição externa e a âncora cambial. Com a mudança na política cambial, o processo de revolução na estrutura produtiva está se aprofundando. Ficou muito caro, proibitivo, ter o índice de importações tão elevado como ainda se mantinha. Com todas as empresas que tenho conversado, tenho observado a tendência de acelerar a substituição de importações. Já está acontecendo.
Folha - Qual a diferença entre o atual processo de substituição de importações e os do passado?
Goldenstein -
A diferença é que, agora, a economia é aberta e as empresas já passaram - ou ainda estão passando - por um forte processo de reestruturação. Nos ciclos do passado, o Brasil se fechava aos importados e fabricava, aqui dentro, produtos de segunda classe. Agora, mesmo com o câmbio não tão favorável às importações, não tem como aumentar preços para repassar os custos de ineficiência da produção para o consumidor. No limite, se o fornecedor quiser empurrar um produto ruim ou caro pode-se importar uma mercadoria de outro fornecedor.
Folha - Na década de 70, a taxa de investimento na economia chegou a mais de 20% do PIB. Agora, está por volta de 18%. Não é pouco?
Goldenstein -
Nossa taxa de investimentos precisa ser aumentada, mas está subestimada. A base de dados de estatísticas no Brasil é muito ruim. Todo o cálculo da taxa de investimento do PIB é feito de acordo com uma matriz antiga. O antigo cálculo não leva em conta as novas tecnologias, a terceirização, o novo papel dos serviços. A taxa de investimentos é maior do que a registrada pelas estatísticas.
Folha - Qual o papel do governo neste momento?
Goldenstein -
É um papel diferente das políticas de substituição de importações do passado. Existem ministérios se sobrepondo para questões da indústria. Cinco ministérios cuidam da Zona Franca de Manaus, decisiva para os fabricantes de eletroeletrônicos. A idéia é que o Ministério de Produção mude isso, mas ainda não aconteceu. Os impostos sobre a produção no Brasil fomentam a importação. O sistema financeiro brasileiro não é estruturado para financiar a longo prazo. O BNDES tem que ocupar esse papel. (RG)




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