São Paulo, segunda, 11 de maio de 1998

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COMUNICAÇÃO & MERCADO
A indústria do emagrecimento

HELCIO EMERICH
Segundo previsões dos órgãos de saúde norte-americanos, das 50 milhões de pessoas que farão este ano, nos Estados Unidos, algum tipo de regime para emagrecer (dos quais 8 milhões sob supervisão médica) só 5% irão perder de fato o excesso de peso. Como isso parece revelar uma duvidosa eficiência da maioria dos produtos, medicamentos e programas para tratamento da obesidade -um negócio que movimenta US$ 35 bilhões por ano-, organismos governamentais como a FTC (Federal Trade Comission) e a FDA (Food and Drug Administration), além de entidades de classe como a NAAG (National Association of Attorney's General), não estão dando vida fácil aos anunciantes do setor. O cerco sobre a propaganda dos fabricantes, revendedores e clínicas especializadas começou a fechar quando as três siglas se uniram para assinar a publicação intitulada "Fatos sobre produtos e programas para perder peso", um libelo contra toda sorte de falsas promessas das campanhas e promoções cuja temática é o emagrecimento.
Não foi só a propaganda. Ao passar da palavra à ação, a FDA exigiu a eliminação de mais de cem ingredientes usados em fórmulas de produtos ou remédios comercializados no mercado norte-americano, entre os quais cafeína, álcool e dextrose. Marcas de sucesso como Ultrafast e Medifast (para dietas líquidas) foram punidas pelo uso de apelos enganosos e a clínica Pacific Medical Management Inc. (um dos 10 mil centros de "estética corporal" existentes nos Estados Unidos) acumulou multas que totalizaram US$ 20 milhões. Ela atraía clientes vendendo a idéia de que o seu programa de emagrecimento, baseado num método para "regular o metabolismo", poderia derreter quase meio quilo de banha por dia.
É inegável que a "indústria do regime" está enfrentando uma sucessão de eventos negativos que comprometem seus objetivos de expansão. Além das interferências dos organismos governamentais e do Congresso, da divulgação de vários relatórios desfavoráveis assinados por entidades científicas e de centenas de ações judiciais movidas contra fabricantes e centros de tratamento, o setor sofre também com o recrudescimento de movimentos "antidiet" organizados por consumidores (comentados há algumas semanas nesta coluna).
Mas gigantes fomo a Weight Watchers e a Thompson Medical (esta última fabricante do popular Slim Fast) acham que a onda é passageira e com elas concordam analistas de mercado como John LaRosa, diretor da Marketdata Enterprises, de Valley Stream, Nova York. "A imprensa prefere sempre o foco negativo. Mas todos os estudos provam que os americanos estão cada vez mais gordos e não mais magros. A indústria da dieta é um dos negócios do futuro neste país" -profetizou ele em entrevista ao "Chicago Tribune".


Helcio Emerich é jornalista, publicitário e vice-presidente da agência Almap/BBDO.



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