São Paulo, terça-feira, 11 de julho de 2006

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Planalto deverá barrar FGTS para empregado doméstico

Governo não planeja editar nova MP ampliando direitos trabalhistas da categoria

Em encontro com trabalhadores, ministros afirmam apenas que será criada uma comissão para discutir o assunto

JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Sem avanço nas negociações com patrões e trabalhadores, o governo passou a tratar com mais ceticismo a possibilidade de ampliar direitos trabalhistas dos empregados domésticos.
Como já havia indicado, o Planalto deverá vetar a obrigatoriedade do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) para as domésticas, incluída pelo Congresso na medida provisória que concedeu benefícios fiscais aos empregadores que assinam a carteira de trabalho dessas trabalhadoras.
Mas a possibilidade de editar outra MP sobre o assunto -que poderia, por exemplo, tornar obrigatório o FGTS, mas sem a multa rescisória de 40%- ficou mais distante na reunião de ontem entre sindicalistas e os ministros Nelson Machado (Previdência) e Nilcéa Freire (Políticas para as Mulheres).
Os ministros não se comprometeram com essa proposta e afirmaram que o governo criará uma comissão tripartite para discutir os direitos da categoria. O governo tem até o dia 20 para sancionar a MP.
Machado acrescentou que o texto original da medida provisória deverá ser mantido pelo presidente Lula, garantindo a dedução da contribuição previdenciária de um empregado do Imposto de Renda. "Não tem como buscar acordo com categorias tão díspares. Queremos separar com clareza as duas pautas [direitos das empregadas e benefício fiscal]", disse.
Ele enfatizou que a intenção do governo ao editar a MP era aumentar a formalidade. Hoje, dos 6 milhões de domésticos, apenas 1,8 milhão tem carteira assinada. Ainda segundo o ministro, pesquisas empíricas mostram que a criação de novas obrigações para os patrões pode ter o efeito contrário, aumentando a informalidade.
Para ele, os artigos incluídos pelo Congresso avançam sobre uma discussão que vinha acontecendo e deverá continuar. "Vamos tomar uma decisão com autonomia, assim como a categoria vai buscar seus direitos com autonomia", afirmou.
"As trabalhadoras não abrem mão dos seus direitos e não estamos aqui para pedir que elas o façam. O governo vai terminar seus estudos e apresentar ao presidente o que nós achamos que deve ser vetado. Ainda não está fechado", disse Nilcéa, evitando detalhar os pontos que devem ser retirados da MP.
Apesar da tendência de veto da MP, a representante da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas, Ione de Oliveira, classificou a reunião de "positiva". "Foi muito boa, só pelo fato de que pela primeira vez alguém sentou conosco para conversar", disse.
Dados do Ministério da Previdência mostram que o benefício fiscal para os patrões com o desconto do IR seria de R$ 560 (já incluído o 13º salário e um terço de férias). A dedução vale para um empregado doméstico que ganha um salário mínimo. Já o custo do recolhimento do FGTS mensal, mais a multa de 40%, é de R$ 522,67 por ano.


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