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BOA ONDA
Luis Alberto Moreno, presidente do banco, que chegará ao Brasil na terça, destaca o papel dos programas sociais
AL vive seu melhor ciclo em 30 anos, diz BID
PAULO PARANAGUÁ
DO "LE MONDE"
Investimentos em alta e inflação
em baixa são alguns dos indicadores que enchem de otimismo o
colombiano Luis Alberto Moreno, diretor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e
ex-embaixador da Colômbia em
Washington durante sete anos.
Ele chegará ao Brasil na terça-feira, em sua primeira visita oficial,
para encontro com o presidente
Luis Inácio Lula da Silva.
Questionado sobre suas intenções à frente do banco, para o qual
foi eleito em julho do ano passado
após derrotar, entre outros, o brasileiro João Sayad, ele responde
com modéstia: "Não é fácil seguir
os passos de Enrique Iglesias, que
colocou o BID no centro dos projetos de desenvolvimento na
América Latina".
Moreno prefere trabalhar pela
continuidade de seu antecessor
uruguaio, que durante 17 anos dirigiu o BID, organismo multilateral no qual os latino-americanos
representam pouco mais de 50%
das partes e podem desempenhar
plenamente seu papel diante dos
Estados Unidos, o acionista principal (com 30% de participação).
O otimismo toma o lugar da
modéstia quando o novo presidente do banco fala da economia
da região. "A América Latina está
passando por seu melhor ciclo em
30 anos", declara. Desde 2003, o
crescimento médio da região chega a 4,9%, com inflação de apenas
5,5% em 2005.
Os investimentos subiram para
perto de 20% do PIB regional, enquanto o endividamento recuou
para 53% do PIB em 2005, contra
72% em 2002.
Durante o mesmo período, o
déficit orçamentário caiu de 3,3%
para 1,7%. Assim, não espanta
que esse crescimento sincronizado tenha provocado alta de 80%
nas Bolsas de Valores nos últimos
dois anos.
Se o período anterior de recessão ou estagnação provocara o
empobrecimento da classe média,
a tendência se inverteu. Moreno
destaca o papel dos programas
sociais, "mais bem concebidos,
mais eficazes e dotados de alvos
mais precisos".
Hoje, observa Moreno, "mais de
50 milhões de latino-americanos
pobres em uma dúzia de países se
beneficiam desses programas,
que distribuem subsídios às famílias para que possam manter seus
filhos na escola e suprir suas necessidades básicas em matéria de
alimentação e saúde".
Remessas reduzem pobreza
Com relação às remessas de dinheiro de emigrantes latino-americanos a seus familiares que permaneceram em seus países, o BID
reflete sobre o vínculo entre o microcrédito e as microempresas.
Essas remessas, que já contribuem para reduzir a pobreza, poderiam tornar-se uma alavanca
para o desenvolvimento. Segundo
o BID, as remessas chegam ao total de US$ 55 bilhões.
Entretanto Moreno admite que
o otimismo deve ser moderado,
em vista do crescimento duas vezes maior das economias asiáticas
emergentes.
Por que a América Latina não
consegue fazer melhor? "Não tenho explicação para isso", ele responde, mas dá algumas pistas. "O
clima para os negócios não é tão
propício, as reformas microeconômicas enfrentam dificuldades
para serem implementadas, a reforma do Estado continua incompleta, o investimento em capital
humano ainda é insuficiente e os
investimentos não estão à altura
das necessidades, apesar de a
América Latina apresentar déficit
de infra-estrutura que estimamos
em US$ 80 bilhões por ano."
A infra-estrutura é uma das
prioridades do BID, que apóia especialmente os projetos que possam facilitar a integração regional, tais como o gasoduto Colômbia-México, a interligação elétrica
na América Central ou, dentro em
breve, a ampliação do canal do
Panamá.
O petróleo e o gás sul-americanos vão desempenhar o mesmo
papel que o carvão e o aço nos primórdios da integração européia?
Segundo Moreno, "a União Européia é o grande exemplo em termos de integração regional. Mas
os projetos que precisam da colaboração de dois ou mais países
são difíceis de serem lançados. O
BID os apóia desde a etapa dos estudos de viabilidade, às vezes a
fundo perdido."
Moreno não se mostra preocupado com a virada à esquerda verificada na América do Sul. Ele
não é o único a apostar na continuidade. O novo presidente boliviano, Evo Morales, confirmou
em seu cargo o representante permanente da Bolívia no BID. Os
discursos inflamados do delegado
da Venezuela continuarão sem
encontrar eco.
Tradução de Clara Allain
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