São Paulo, domingo, 12 de fevereiro de 2006

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BOA ONDA

Luis Alberto Moreno, presidente do banco, que chegará ao Brasil na terça, destaca o papel dos programas sociais

AL vive seu melhor ciclo em 30 anos, diz BID

PAULO PARANAGUÁ
DO "LE MONDE"

Investimentos em alta e inflação em baixa são alguns dos indicadores que enchem de otimismo o colombiano Luis Alberto Moreno, diretor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e ex-embaixador da Colômbia em Washington durante sete anos. Ele chegará ao Brasil na terça-feira, em sua primeira visita oficial, para encontro com o presidente Luis Inácio Lula da Silva.
Questionado sobre suas intenções à frente do banco, para o qual foi eleito em julho do ano passado após derrotar, entre outros, o brasileiro João Sayad, ele responde com modéstia: "Não é fácil seguir os passos de Enrique Iglesias, que colocou o BID no centro dos projetos de desenvolvimento na América Latina".
Moreno prefere trabalhar pela continuidade de seu antecessor uruguaio, que durante 17 anos dirigiu o BID, organismo multilateral no qual os latino-americanos representam pouco mais de 50% das partes e podem desempenhar plenamente seu papel diante dos Estados Unidos, o acionista principal (com 30% de participação).
O otimismo toma o lugar da modéstia quando o novo presidente do banco fala da economia da região. "A América Latina está passando por seu melhor ciclo em 30 anos", declara. Desde 2003, o crescimento médio da região chega a 4,9%, com inflação de apenas 5,5% em 2005.
Os investimentos subiram para perto de 20% do PIB regional, enquanto o endividamento recuou para 53% do PIB em 2005, contra 72% em 2002.
Durante o mesmo período, o déficit orçamentário caiu de 3,3% para 1,7%. Assim, não espanta que esse crescimento sincronizado tenha provocado alta de 80% nas Bolsas de Valores nos últimos dois anos.
Se o período anterior de recessão ou estagnação provocara o empobrecimento da classe média, a tendência se inverteu. Moreno destaca o papel dos programas sociais, "mais bem concebidos, mais eficazes e dotados de alvos mais precisos".
Hoje, observa Moreno, "mais de 50 milhões de latino-americanos pobres em uma dúzia de países se beneficiam desses programas, que distribuem subsídios às famílias para que possam manter seus filhos na escola e suprir suas necessidades básicas em matéria de alimentação e saúde".

Remessas reduzem pobreza
Com relação às remessas de dinheiro de emigrantes latino-americanos a seus familiares que permaneceram em seus países, o BID reflete sobre o vínculo entre o microcrédito e as microempresas.
Essas remessas, que já contribuem para reduzir a pobreza, poderiam tornar-se uma alavanca para o desenvolvimento. Segundo o BID, as remessas chegam ao total de US$ 55 bilhões.
Entretanto Moreno admite que o otimismo deve ser moderado, em vista do crescimento duas vezes maior das economias asiáticas emergentes.
Por que a América Latina não consegue fazer melhor? "Não tenho explicação para isso", ele responde, mas dá algumas pistas. "O clima para os negócios não é tão propício, as reformas microeconômicas enfrentam dificuldades para serem implementadas, a reforma do Estado continua incompleta, o investimento em capital humano ainda é insuficiente e os investimentos não estão à altura das necessidades, apesar de a América Latina apresentar déficit de infra-estrutura que estimamos em US$ 80 bilhões por ano."
A infra-estrutura é uma das prioridades do BID, que apóia especialmente os projetos que possam facilitar a integração regional, tais como o gasoduto Colômbia-México, a interligação elétrica na América Central ou, dentro em breve, a ampliação do canal do Panamá.
O petróleo e o gás sul-americanos vão desempenhar o mesmo papel que o carvão e o aço nos primórdios da integração européia? Segundo Moreno, "a União Européia é o grande exemplo em termos de integração regional. Mas os projetos que precisam da colaboração de dois ou mais países são difíceis de serem lançados. O BID os apóia desde a etapa dos estudos de viabilidade, às vezes a fundo perdido."
Moreno não se mostra preocupado com a virada à esquerda verificada na América do Sul. Ele não é o único a apostar na continuidade. O novo presidente boliviano, Evo Morales, confirmou em seu cargo o representante permanente da Bolívia no BID. Os discursos inflamados do delegado da Venezuela continuarão sem encontrar eco.


Tradução de Clara Allain


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