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BRASIL PROFUNDO
Primeiro poço surgiu há 24 anos em Sousa, onde há outros três perfurados; "jazidas" permanecem inexploradas
Paraíba busca água e acha petróleo no sertão
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SOUSA (PB)
ROGÉRIO CASSIMIRO
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO
Na busca por água no semi-árido nordestino, trabalhadores rurais do sertão paraibano descobriram em suas terras uma riqueza
que não imaginavam existir. Cavando poços na terra seca, em vez
de água encontraram petróleo, a
poucos metros de profundidade.
O primeiro poço, com 46 metros, surgiu há 24 anos, na zona
rural de Sousa, a 430 km de João
Pessoa. Nos anos seguintes, pelo
menos outros três, perfurados em
áreas vizinhas, também apresentaram indícios do óleo. Até agora,
entretanto, as possíveis jazidas
permanecem inexploradas.
O petróleo, retirado em latinhas
penduradas por cordas ou arames, só tem servido para causar
espanto aos vizinhos e curiosos
que visitam os lavradores. O agricultor Crisogônio Estrela de Oliveira, 43, é o mais procurado.
No seu sítio, onde vive com a
mulher e três filhos, Oliveira mantém o poço mais antigo e também
o mais "produtivo" da vizinhança. O cano estreito de onde ele extrai o produto fica tapado por um
pedaço de pano velho e escondido
sob uma pedra, perto da pocilga.
Do buraco, sempre cercado de
galinhas e bois, Oliveira mergulha
a latinha e retira um líquido grosso, escuro e viscoso, com cheiro
que lembra uma mistura improvável de tinta com gás.
É o petróleo, "de boa qualidade", segundo o diretor-presidente
da CDRM (Companhia de Desenvolvimento de Recursos Minerais) da Paraíba, José Aderaldo de
Medeiros Ferreira, 67.
De acordo com ele, há indícios
de que o óleo possa estar presente
não apenas no sítio de Oliveira e
de seus vizinhos, mas também em
uma extensa área de 1.400 km2,
conhecida como bacia sedimentar do Rio do Peixe.
Essa área, disse Ferreira, seria
uma extensão da bacia do Apodi,
região produtora de petróleo com
15 mil km2, localizada no Estado
vizinho do Rio Grande do Norte.
Com base nessa suposição, o diretor da CDRM acredita que as
possíveis jazidas paraibanas possam produzir até 20 mil barris por
dia. "Evidentemente, não seria
uma produção de impacto nacional, mas, para a região, representaria a estabilização", afirmou.
De acordo com ele, os seis municípios localizados na bacia do
Rio do Peixe e os agricultores receberiam royalties pela exploração do petróleo em suas terras.
Até agora, porém, ninguém sabe nem sequer onde estariam as
jazidas. O único estudo realizado
na área, disse Ferreira, foi feito pela ANP (Agência Nacional de Petróleo), a pedido do governo estadual. O objetivo era detectar sinais de gás e óleo no solo.
Na pesquisa, afirmou, a potencial região produtora foi mapeada
e dividida. De locais determinados, foram retiradas 1.800 amostras de terra a uma profundidade
média de 70 cm. As amostras foram enviadas para análise no Rio
de Janeiro e nos Estados Unidos,
que "confirmaram os indícios".
O otimismo de Ferreira, contudo, ainda não contagiou os lavradores. Em Sousa, os agricultores
continuam mais preocupados em
plantar e conseguir água potável
do que em sonhar com dinheiro
fácil e rápido em suas mãos.
"Acho que a Paraíba vai ficar rica, mas, para mim, não sei não se
vai sobrar algum", disse o lavrador Pedro Maria dos Santos, 44,
dono de "uma tarefa de terra [3,5
hectares]" e que se proclama o
"descobridor" do petróleo.
Santos afirma que, apesar de ter
perfurado seu poço com sinais de
óleo apenas em 2001, foi ele quem
fez o alerta que levou à confirmação da presença de petróleo na região. "Por isso, o descobridor posso dizer que fui eu mesmo."
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