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AVIAÇÃO
Presidente da agência que vai regular setor aéreo diz que permissão pode ser dada caso brasileiras não atendam demanda
Anac aceita estrangeira em vôo doméstico
FABÍOLA SALANI
DA REDAÇÃO
Se depender do diretor-presidente da recém-criada Anac
(Agência Nacional de Aviação Civil), Milton Zuanazzi, 49, as aéreas
estrangeiras vão, sim, poder operar trechos nacionais -nas rotas
em que a demanda estiver acima
da oferta e que as companhias
brasileiras não consigam ampliar
os assentos disponíveis.
"Essa pode ser uma concessão
precária, não precisa ser definitiva, até que as brasileiras consigam
ampliar a malha para aquele trecho específico", disse Zuanazzi,
aprovado pelo Senado na semana
passada e que deve tomar posse
em cerca de 20 dias.
À Anac caberão, entre outras
funções, conceder, permitir ou
autorizar a exploração de serviços
aéreos, aeroclubes e aeroportos,
fiscalizar segurança de vôo, certificar aeronaves -enfim, tudo o
que toca ao setor aéreo, à exceção
do espaço aéreo, considerado de
segurança nacional. A agência será independente, como o são hoje
Anatel, Aneel e outras, mas estará
ligada ao Ministério da Defesa.
Atualmente secretário de Políticas de Turismo do Ministério do
Turismo, Zuanazzi disse, logo que
teve seu nome aprovado, que sua
missão seria fazer os aviões voarem cheios. Como faria isso? Com
a união do setor e a implementação de políticas de turismo.
Leia a seguir trechos da entrevista concedida na última sexta.
Folha - Quando seu nome foi
aprovado para a Anac, o sr. disse
que a meta da agência será lotar os
aviões. O sr. já tem uma visão de
como isso pode ser feito?
Milton Zuanazzi - Acho que o
ano de 2005 já mostrou o quanto
isso é possível. Tradicionalmente,
com o real forte, os brasileiros viajavam muito para fora, mas os estrangeiros não vinham. Neste
ano, os brasileiros foram sim
muito para fora, mas tivemos um
aumento de 16% no receptivo internacional e ainda registramos
um acréscimo no interno.
Hoje temos oferta. Temos que
articular a busca da demanda. Isso deve ser uma tarefa nova na
aviação brasileira comercial. Historicamente, o público das aéreas
é essencialmente o corporativo.
Mas já vemos exemplos de empresas cá crescendo com um público diferente do viajante de negócios, que não está tirando público de outros, mas trazendo para o mercado novos passageiros.
O Brasil tem 190 milhões de habitantes, mas apenas 9 milhões viajam de avião. Há condições de haver mais demanda para o aéreo.
Folha - No ano passado, o DAC
barrou a tarifa promocional da Gol.
Pouco tempo depois, o Cade julgou
e aprovou a promoção. Qual a posição da Anac a esse respeito?
Zuanazzi - Posso falar por mim.
Acho que a decisão do Cade foi
correta, porque ele não ficou preso no valor de um único bilhete,
mas sim quanto do total foi oferecido naquela tarifa. Como eram
2% dos assentos, não podia haver
dumping. A agência tem que se
preocupar em não permitir concorrência predatória, mas fora isso concorrência é bom.
Folha - Existe algum estudo para
liberar às estrangeiras a operação
de rotas nacionais? Para que rotas
que elas operam hoje, por conta de
escalas, possam receber passageiros dentro do país?
Zuanazzi - O ideal é sempre que a
sua bandeira opere. Mas, se para
determinados destinos não se
consegue que nenhuma nacional
opere, você pode abrir esse destino a outras bandeiras. Essa é a lógica que me parece que temos que
seguir. Sempre em primeiro lugar
o interesse nacional. E a autorização pode ser precária, não precisa
ser necessariamente definitiva.
Folha - No ano passado, o Brasil
cresceu mais do que a média mundial no setor de turismo, mas ainda
tem participação ínfima no mercado mundial. Qual o potencial do
país e como fazer para alcançá-lo?
Zuanazzi -Primeiramente continuar investindo em promoção.
Neste ano devem ser aplicados
US$ 100 milhões, equivalente à
verba usada pela Espanha para isso. Outro nó está no setor aéreo.
Não tem como aumentar o número de estrangeiros vindo para o
Brasil sem haver mais assentos
em vôos. O grande crescimento
vai ter que ser no aéreo. Tem que
planejar todas as entradas do Brasil. Aumentar o acesso a mercado
norte-americano, que tem crescido pouco no Brasil, especialmente devido à questão do visto e da
taxa de US$ 100 que se cobra deles, por causa da reciprocidade,
que é uma questão que estamos
tentando resolver pela legislação.
Folha - Mas há indicativos de que
é um mercado que pode crescer se
facilitada a entrada dos turistas?
Zuanazzi - No ano passado, por
exemplo, vieram 5 milhões de
americanos para a América do
Sul, dos quais só 700 mil para o
Brasil. É um sinal de que essa
questão está criando um impeditivo. O americano que vem hoje
ao país é o homem de negócios.
Tanto que não há um vôo dos
EUA para o Nordeste ou Manaus,
só para São Paulo e Rio. A ampla
maioria não vem ao Brasil a lazer.
Quanto à outra questão, acho
que o Brasil é um país que tem
condições de chegar a 20 milhões
de estrangeiros. Hoje estamos
com 0,8% do fluxo mundial,
quando assumimos tínhamos
0,5%. Quando o turismo mundial
chegar a 1 bilhão de passageiros,
esse número vai representar 2%.
Acho que é uma fatia bem plausível para conquistarmos.
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