São Paulo, quinta, 12 de fevereiro de 1998

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CONJUNTURA
Ajuste a juro alto foi rápido
Para governo, trimestre não será tão ruim

da Sucursal de Brasília

O secretário de Política Econômica, José Roberto Mendonça de Barros, afirmou ontem que o desempenho da economia no primeiro trimestre será melhor do que o governo previa no final do ano passado.
"Os analistas de mercado também estão revendo para cima suas expectativas anteriores sobre os níveis de atividade e de emprego no primeiro trimestre", afirmou.
No final do ano, o ministro Pedro Malan (Fazenda) e o próprio Mendonça de Barros afirmavam que o ritmo de crescimento da atividade cairia sensivelmente no primeiro trimestre em função das altas taxas de juros.
Apesar do cenário mais favorável, o secretário ressaltou que "é prematuro pensar que a crise asiática já passou". Foi por conta dessa crise que o governo decidiu dobrar as taxas de juros e baixar um pacote fiscal em novembro.
Segundo Mendonça de Barros, a melhora nas expectativas para o primeiro trimestre se deve ao fato de que setores produtivos mais afetados pelo aumento das taxas de juros fizeram rápido ajuste na produção. Ou seja, adequaram-se à previsão de queda da demanda para evitar a elevação de estoques.
Foi o que aconteceu com o setor automotivo, cuja produção mensal deverá atingir 100 mil veículos no primeiro trimestre. No mesmo período de 97, chegou a cerca de 120 mil. O setor de eletroeletrônicos teve suas vendas também favorecidas pelo calor em janeiro.
Outros fatores apontados foram a flexibilização das regras do trabalho (com a aprovação do contrato de trabalho por prazo determinado e o banco de horas) e a entrada de US$ 400 milhões em investimentos estrangeiros na primeira semana de fevereiro.
Segundo Mendonça de Barros, em janeiro o consumidor "perdeu o receio de comprar". Mesmo assim, a inadimplência de pessoas físicas em janeiro foi bem maior do que a das empresas.
Houve devolução recorde de cheques pré-datados no mês: 9,8 em cada grupo de 1.000 emitidos. O número de carnês em atraso também dobrou em relação ao mesmo período de 97.
O secretário disse que a devolução de cheques reflete o "aumento anormal" das vendas em outubro -é que os comerciantes reclamam ao Serviço de Proteção ao Crédito depois de 90 dias de a compra ter sido realizada.
A preocupação do mercado financeiro com a possível vulnerabilidade do país em função da dívida externa de curto prazo "não procede", de acordo com o "Boletim de Acompanhamento Macroeconômico" divulgado por Mendonça de Barros.
Segundo o secretário, o Brasil vai amortizar US$ 7 bilhões a menos neste ano em relação a 97. Serão, no total, US$ 22 bilhões.
Ele argumentou que as reservas são suficientes para cobrir o valor, se tiver que ser pago integralmente. Ele acredita que esses US$ 22 bilhões serão rolados com taxas de juros menores e prazos maiores.



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