São Paulo, sexta-feira, 12 de março de 2004

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INFLAÇÃO

Taxa, utilizada para o sistema de metas, cai de 0,76% (janeiro) para 0,61% (fevereiro); acumulado no ano é de 1,37%

Alta no atacado não contamina o IPCA

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

A alta dos preços no atacado, principalmente na indústria, não contaminou a inflação ao consumidor em fevereiro: o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), índice oficial de inflação, foi de 0,61% no mês, menor do que o de janeiro, que ficou em 0,76%.
A taxa, medida pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), também foi mais baixa do que as previsões do mercado, que oscilavam de 0,70% a 0,80%.
A maior pressão inflacionária veio das mensalidades escolares, responsáveis por praticamente metade do índice -0,31 ponto percentual, de acordo com o IBGE. Em razão das matrículas de início de ano, houve um aumento de 8,11% em fevereiro nesse item.
Os alimentos contribuíram para a redução da inflação em fevereiro. Subiram 0,15% -a alta fora de 0,88% em janeiro. O início da safra agrícola, que aumenta a oferta de produtos, e o final do período de chuvas intensas, que vinha afetando os preços dos hortifrútis, foram as causas desse resultado.
Para Eulina Nunes dos Santos, gerente da Coordenação de Índices de Preços do IBGE, a inflação de fevereiro ficou "fortemente concentrada" no grupo educação e não sinalizou repasses "generalizados" de aumentos no atacado, que vêm sendo apurados por outros índices, como o IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado, da Fundação Getúlio Vargas).
Essas pressões no atacado foram um dos principais argumentos do Banco Central para a manutenção da taxa de juros nos últimos dois meses. Há o receio de que haja um contágio no varejo, dificultando o cumprimento da meta de inflação.
Com o resultado de fevereiro, o IPCA acumulou alta de 1,37% nos dois primeiros meses do ano. O centro da meta do governo é de 5,5%, com um intervalo de tolerância de 2,5 pontos percentuais para mais ou para menos. Para atingir o centro da meta, a inflação mensal deve ficar em torno de 0,40% a partir de março -desde que não haja deflação.
Ainda que pontuais, o IPCA detectou alguns repasses do atacado. É o caso dos automóveis. Por conta do aumento do aço, subiram 1,56% em fevereiro. "É um caso típico de pressão de custos de produção", disse Nunes dos Santos. Os veículos já haviam tido alta de 1,62% em janeiro.
Para Carlos Thadeu de Freitas Filho, economista da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a inflação já está sob controle e o BC deveria reduzir os juros neste mês. Para ele, o regime de metas obriga o BC a "apertar" a política monetária nos primeiros meses para ter "alguma folga" ao final do ano.
É justamente no começo do ano, diz o banco Bradesco em relatório, que existem pressões sazonais sobre a inflação, por causa das chuvas, da cobrança de tributos e do reajuste das mensalidades escolares. Descontado o efeito da educação, o IPCA teria em fevereiro uma alta de 0,30%, "o que sinaliza um movimento de arrefecimento" da inflação.
Para Marcelo Cypriano, economista do BankBoston, o BC vai esperar o índice de março antes de voltar a baixar os juros. Aguardará a confirmação de que o IPCA converge para a meta, como já aconteceu em fevereiro, se observado o núcleo da inflação, que foi de 0,48%. O núcleo é calculado excluindo as maiores e menores variações e diluindo o impacto das tarifas públicas em 12 meses.
Sobre os repasses dos preços para o varejo, Cypriano afirmou que "é difícil prever" a intensidade, mas que ainda atingem poucos produtos.


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